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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 28 de setembro de 2014

Em Vinhais desempregados obrigados a despesas sem ganhar subsídio

A condição de desempregado obriga a deslocações periódicas aos centros de emprego com custos para quem vive em aldeias como as de Vinhais, em Trás-os-Montes, mesmo que nada receba, sob pena de ver a inscrição anulada.
Todos os que se encontram inscritos nos centros de emprego recebem periodicamente convocatórias para se apresentarem nos serviços iguais àquela que chegou aos desempregados de Vinhais, no distrito de Bragança, a solicitar a comparência, no dia 24 de setembro, numa sessão de encaminhamento para curso de formação profissional.

A sessão foi conduzida por um técnico do Serviço de Emprego de Bragança que se deslocou à Casa do Povo do concelho de Vinhais para receber os desempregados.

A Lusa falou com vários dos convocados, todos residentes fora da sede de concelho que tiveram de pagar transporte e alimentação ou suportar o custo da deslocação em carro próprio e nenhum dos entrevistados recebe subsídio de desemprego.

Mariana Figueiredo, de Rebordelo, chegou a reclamar da jeira de 40 euros e dos sete euros e vinte cêntimos que gastou no autocarro.

"Perdi a jeira para vir para aqui, ninguém me vai pagar nem os transportes nem o meu dia e eu vivo de 150 euros, sou uma mulher viúva, tenho um filho de 19 anos em casa comigo e é esta miséria, não estão a respeitar a dignidade dos pobres", desabafou.

Está a gastar dinheiro que lhe faz falta e sem perspetivas numa região onde "é muito difícil arranjar emprego e só quem tenha padrinhos é que se safa".

Cursos de formação profissional é o que lhe propõem, agora que não pagam "quase nada".

"Eu quantas vezes me inscrevi em tantos cursos, mas como era (pagavam) 500 euros, eram para quem eles queriam, agora como são nada, cento e pouco (euros), já é para todos, aceitam tudo de toda a maneira e feitio", apontou.

Comparece às convocatórias porque caso contrário "suspendiam a inscrição" como adverte a carta enviada aos desempregados.

" A sua não-comparência ou posterior recusa em participar pode implicar (...) a anulação da sua inscrição para emprego (...) a impossibilidade de revalidação nos 90 dias seguintes", lê-se no documento.

Maria Antónia dos Santos, de Vilar Seco, já foi convocada várias vezes e paga seis euros e quarenta a cêntimos de carreira para comparecer.

Não recebe subsídio de desemprego e desta vez até teve sorte porque a convocatória coincidiu com o dia (quarta-feira) em que há transporte à hora de almoço. Nos restantes só tem um autocarro pela manhã e outro à noite para o regresso.

A falta de transporte é a razão invocada por Fátima dos Santos, de Vilar Seco, para recusar frequentar cursos na sede de concelho.

"Devia ser na aldeia, agora aqui os transportes não dão", defendeu.

Delfina Morais, de Rebordelo, chegou sem qualquer expetativa em relação a esta sessão.

"Eu não adianto vir aqui, já vim cá tantas vezes", contou à Lusa, queixando-se da viagem, das despesas, do dia perdido e da filha deficiente que ficou sozinha na aldeia.

Aniceto Pires, de Vilarinho de Lomba, deslocou-se em viatura própria e já está habituado a estas convocatórias e aos cursos. Já fez dois e "não valem para nada".

"Isto é para passar o tempo", considerou.

Manuel Padeiro, de Travanca, só pede "qualquer coisa" para trabalhar, "nem que seja para limpar pinheiros, estradas, as valetas da freguesia".

"Eu pego em qualquer coisa desde que tenha uma ocupação e como é óbvio um vencimento", garante este homem com 53 anos, desempregado há sete.

Tem dois filhos também desempregados, a esposa é agricultora e vai sobrevivendo com os subsídios pagos pela União Europeia.

Mantém a inscrição no Centro de Emprego " porque pode haver alguma coisa que venha através da câmara ou da junta de freguesia ou alguma entidade e se a pessoa está inscrita pode eventualmente vir a beneficiar dessa parte".

Lorete Batista, de Sobreiró de Baixo, é a terceira vez que é chamada este ano e entende que "não se justificam estas convocatórias tantas vezes, sem resolver o problema" porque as pessoas "têm despesas".

Poucos minutos depois de entrarem na sala onde os esperava um técnico, os desempregados começaram a sair.

Lá dentro, foi-lhes proposta a frequência de um curso, mas a maioria recusou. O transporte "não dá".

Agora têm de pedir uma declaração ao presidente da junta para entregar no Centro de Emprego "em que diga que não têm transportes" para se deslocar.

Têm cinco dias para entregar a declaração, caso contrário a inscrição é anulada.

"Isto é apenas uma armadilha, um propósito para que as pessoas faltarem às convocatórias para que assim anulem a sua inscrição e de três em três meses vão anulando aqui uma, em Vimioso mais duas ou três, em Mirandela outras tantas, e no final do trimestre no Distrito de Bragança têm aqui menos 20 ou 30 desempregados na estatística, o que na realidade não são", acusou o presidente da concelhia do PS de Vinhais.

Pedro Miranda denunciou recentemente esta situação dos desempregados e defende que "em vez de serem as pessoas a deslocar-se à sede de concelho, que sejam os técnicos do centro de emprego a ir às freguesias".

Lusa

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