O Carne na Praça, evento que decorreu em Bragança, na praça Camões ao longo da última semana, causou indignação em algumas das associações de produtores da região. Em causa está o facto de o certame, organizado pela empresa Essência do Vinho em parceria com a Unicer, não ter, pelo menos, consultado as associações de produtores de carnes da região.
“É lamentável”, frisa Nuno Paulo, da cooperativa Mirandesa. Também Carla Alves, da raça de porcos Bísaro, lamenta “uma oportunidade perdida” não só pela organização mas, sobretudo, pela “autarquia de Bragança”, que deveria ter tido outra postura, considera. “A autarquia tinha tido a oportunidade, apesar de não ser organizadora, de envolver os produtos da região, para que não fosse apenas mais um evento”, frisou, em declarações ao Mensageiro.
A Carne na Praça foi um certame que, ao longo de uma semana, juntou dois restaurantes da cidade e alguns chefs de cozinha para, alegadamente, ajudar a promover a carne transmontana. No entanto, pelo menos duas das associações cujo produto foi divulgado em publicidade, não foram sequer contactadas, casos da carne de bovino mirandês ou do porco bísaro.
Em comunicação enviada ao Mensageiro, a direção da Essência do Vinho realça que o Carne na Praça é um festival gastronómico que a Super Bock e a EV - Essência do Vinho faz parte do conceito "Super Gastronómicos" que andam "a promover também em Leiria, Lisboa, Setúbal, Vilamoura e Porto e que consiste em promover a gastronomia de uma dada região em harmonização com o portefólio das cervejas Super Bock". "Mas a promoção da gastronomia nestes eventos faz-se somente através da presença de restaurantes emblemáticos da região, que são convidados a apresentarem, durante todos os dias do evento e horário de funcionamento do mesmo, um menu de degustações típicas e também de sessões de cozinha ao vivo, onde reputados chefes de cozinha ou outros especialistas são convidados a ensinarem a cozinhar propostas mais vanguardistas inspiradas em produtos locais.
Em Bragança, como o próprio nome do festival indica, deu-se especial foco à carne, que ficou devidamente destacada nos menus dos restaurantes presentes no evento (propostas da responsabilidade dos mesmos) e nos pratos escolhidos pelos chefes para as sessões de cozinha ao vivo.
Portanto, restaurantes, cervejas Super Bock e sessões de cozinha são os três pilares do conceito dos festivais "Super Gastronómicos". Não há qualquer espaço para exposição de produtos/espaço para expositores/mercado de produtos, pelo que naturalmente os produtores não foram contactados", lê-se.
Ao todo tinham sido convidados três restaurantes da cidade mas um deles acabou por prescindir da participação.
Quanto ao cabrito de Montesinho, o Mensageiro não conseguiu, em tempo útil, obter nenhuma reação. Os responsáveis do Cordeiro Bragançano preferem manter-se à margem desta questão.
Quanto aos bovinos, os produtores do concelho também não ficaram agradados, havendo mesmo quem recorde um incidente recente no dia do concurso concelhio da raça bovina Mirandesa, em Bragança, em que no almoço com os criadores foi servida carne de vitela cruzada.
A ligação das associações de produtores ao evento prende-se com o facto de esta ser carne certificada e, por isso, de qualidade. Quando se pretende promover as carnes da região, os produtores acreditam que faria sentido promover os produtos certificados. “É uma pena porque temos vários produtos DOP (de Denominação de Origem Protegida)”, frisa Carla Alves.
Quanto à autarquia, o presidente Hernâni Dias descarta responsabilidades. “É um evento organizado por uma entidade externa. O município apenas disponibilizou o espaço para que ali fosse realizado”, disse, acreditando que não é “estranho” que os produtores certificados não tenham sido contactados mas admite que, de facto, “não há outra carne transmontana de vitela certificada” para além da Mirandesa.
in:mdb.pt
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