A morte de D. João VI (1767-1826) em 10 de março de 1826, como consequência de “insultos nervosos” ou da “premeditada administração de uma substância com o intuito de o matar” foi, como era tradicional, assinalada por cerimónias fúnebres, organizadas em todo o Reino. A relação do cerimonial da quebra de escudos e exéquias em Bragança, realizado por morte de D. João VI, foi publicada na obra do Abade de Baçal, a partir de um folheto impresso em Lisboa na tipografia de Bulhões.
Segundo o relato, a Câmara de Bragança, tomando conhecimento do infausto acontecimento, em março de 1826, através de um aviso da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, reuniu em sessão extraordinária, para mandar anunciar o luto através de um bando e do toque fúnebre dos sinos da Cidade durante três dias. Na mesma sessão, deliberaram que a cerimónia da quebra de escudos e as exéquias fúnebres se realizariam em 19 de abril.
No dia aprazado, o préstito, formado pelas principais entidades eclesiásticas, militares e civis, de “luto pesado, de capas compridas, chapéus desabados e fumos caídos sobre o ombro direito”, saiu da Casa da Câmara e dirigiu-se ao Largo da Cidadela, onde estava um tablado, construído para o cerimonial da quebra de escudos. Chegados ao local, os três vereadores que levavam os escudos, João de Sá Carneiro Vargas, Manuel António de Barros Pereira do Lago e António José de Novais da Costa e Sá, subiram ao tablado onde quebraram os escudos, e “os deixaram cair sobre ele”, tendo sido previamente “recitada a oração do costume”. Este cerimonial concluiu-se com o regresso do préstito aos Paços do Concelho, onde o Presidente, José Bento Pestana da Silva, subindo em primeiro lugar as escadas, no alto delas, quebrou a sua vara e deitou-a por terra, fechando-se de imediato as portas e janelas do edifício, em sinal de luto.
Concluída a quebra dos escudos, realizaram-se as exéquias religiosas na Igreja de Santa Maria, onde se via uma “majestosa” essa com quatro inscrições alusivas à morte do Rei. O cerimonial foi dirigido por José da Graça Torres, “familiar do bispo”, sendo celebrada a missa pelo deão da catedral, Paulo Miguel Rodrigues de Morais.
Na missa participaram ainda o cónego prebendado Manuel da Silva, que serviu de diácono; o meio prebendado Manuel António do Carmo, que serviu de subdiácono; o capelão da Sé, Luís António da Costa, regente da música; e os que fizeram as absolvições, o deão Paulo Miguel Rodrigues de Morais, o mestre-escola Matias José da Costa Pinto de Albuquerque, o tesoureiro-mor da Sé, e Manuel Alves Leal, arcediago de Bragança. Por fim, a oração fúnebre foi pronunciada por D. Frei José Maria de Santa Ana Noronha.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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