Paços do Concelho de Bragança, espaço da projetada visita de D. Manuel II à Cidade |
Através da Gazeta de Bragança, podemos conhecer com mais pormenor aquilo que foi feito na urbe: ao meio-dia tocaram todos os sinos da Cidade; à noite, as fachadas das habitações estavam iluminadas e a banda de Infantaria 10, também à noite, tocou à porta do comandante militar, percorrendo depois as ruas, acompanhada de “muito povo que soltava vivas entusiásticos a Sua Majestade e Família Real”. O mesmo jornal relata que, em todas as vilas do Distrito foi festejada a aclamação (dando-se realce aos festejos de Vinhais), com Te Deum, em ação de graças, em algumas delas, e luminárias à noite nas fachadas das habitações.
Em 1910, uma programada visita régia não chegou a concretizar-se. Planeada para o dia 9 de outubro, viria a ser cancelada devido à proclamação da República. Esta visita, ainda que frustrada, fez parte das preocupações da Câmara, tendo sido feito um programa, como é referido na sessão camarária de 3 de outubro de 1910: “quanto à maneira a empregar na receção de Sua Majestade El-Rei, foi resolvido que a Câmara tomará parte nesse ato com todo o rigor, compostura e decência que, segundo as praxes e programa determinado pelo Ministério do Reino, recebendo D Manuel II na gare do caminho-de-ferro e nos Paços do Concelho, onde o Presidente faria a alocução das boas-vindas, e que para auxiliar o custeamento de despesas a realizar com a arrematação dos Paços do Concelho, se fixasse a quantia de 100$000 réis.”
A Gazeta de Bragança noticia, com pormenor, o que foi programado para a visita de D. Manuel II. A primeira referência à vinda do Rei aparece no jornal de 25 de setembro de 1910, quando no seguimento do relato dos festejos do centenário da batalha do Buçaco (26 de setembro de 1810) se escreveu que “consta que lá para 4 ou 5 de outubro próximo irá D. Manuel, acompanhado do conselheiro Teixeira de Sousa, fazer uma encantadora digressão pelo norte do País, visitando os povos até Vidago, Chaves, Vila Real, e seguindo até Bragança”. Acrescentava-se ainda que “agora na Cidade episcopal, capital do Distrito, que é a cabeça do ducado de Bragança, fundada por D. Sancho I, em 1187, a 402 quilómetros de Lisboa, vão os nossos queridos patrícios receber a honra da visita régia de D. Manuel II”. O mesmo jornal exortava os bragançanos a meter “mãos à obra”, de forma a que cada um deles dispusesse daquilo que pudesse para “carinhosamente” rece ber “quem tal alta honra” dava com a sua visita.
O programa da visita foi publicado na Gazeta de Bragança de 2 de outubro. O monarca e a sua comitiva chegariam no dia 8 (pelas quatro horas da tarde) a Mirandela, onde jantariam e pernoitariam, dando o Rei receção.
No dia 9, partiriam num comboio especial para Bragança, com receção na estação de Macedo de Cavaleiros, onde chegariam pelas onze da manhã. Em Bragança, D. Manuel II seria recebido pelas entidades oficiais e representantes dos diversos concelhos do Distrito. O momento da chegada do comboio real seria assinalado por salvas de “foguetões” e música, manifestações que se repetiriam na gare da estação, no trajeto do cortejo, na Praça da Sé e em frente do edifício do Governo Civil.
Da estação, D. Manuel II deslocar-se-ia à Câmara Municipal, onde o Presidente leria uma mensagem de boas-vindas, seguindo depois para o Governo Civil, onde daria uma receção, seguida de um almoço para setenta talheres. Depois de algumas visitas – quartéis dos regimentos e alguns edifícios públicos – percorreria as ruas principais da Cidade, seguindo depois para Murça. Programava-se também para as ruas do percurso régio, músicas, decorações com bandeiras e colgaduras nas janelas das casas. Noticiada a programação, o articulista referiu ainda a atividade desusada que se vivia na Cidade, trabalhando-se dia e noite, e a falta de operários que se fazia sentir para os trabalhos que eram necessários fazer.
Estação do caminho-de-ferro de Bragança, espaço da projetada visita de D. Manuel II à Cidade |
A implantação da República em 5 de outubro privou a Cidade de uma “festa como ainda Bragança não teve”, já que nesse dia 9 de outubro, o seu “Régio Hóspede” desembarcava em Gibraltar, dando início a um exílio que se prolongaria até 2 de agosto de 1932, quando regressou a Portugal para, junto com os outros Braganças, ser depositado no panteão do Mosteiro de São Vicente de Fora.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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