terça-feira, 27 de novembro de 2018

MANHECENÇA CAIPIRA NO MEU PARAÍSO

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
São Paulo - Brasil


O dia nasce sustenido ao cantar do galo
Dos canários, sabiás e pintassilgos, 
Na amoreira rente ao quarto dos meninos.
Ao mugido das vacas com seus bezerros, 
Livres do curral e da ordenha.
E o cocheiro chega à casa,
Com dois baldes de leite;  espumante:
- Muuuuuuuuuuuuuuuhhhh,  reclama
O bezerrinho, ansioso pelo leite escondido da mãe... .
Lá no alto do morro
Do angical enfeitado, veem-se as flores
Do ipê amarelo, repleto de aves,
Que anunciam o tempo de plantar... .
Lá no brejo a saracura pia
Chamando filhotes... .
Na cerca da casa, o cipó de São João florido,
Onde os cuitelos vêm buscar o mel,
Que dividem com as jataís... .
E um bando de quero-quero fazem a fuzarca,
Dirigindo a orquestra da Natureza, que acorda bemol... .
Um bando de urubus fazem círculos no trecho do eito de arroz! 
E os fogo-apagou, fazem voos rasantes,
Com os pardais, rolinhas e tico-ticos,
Rumo ao palhal da máquina de arroz e café,
Do qual se beneficiam, dos quais se alimentam.
Correndo os campos, ouvindo pio choroso das juritis... .
E, ao longe escuta-se o mugir fanhoso, dos bezerros.
E lá no pântano, o coaxar das rãs e da saparia... .
E a eguinha preta, que acabou de dar luz ao potro,
Que se apoia sobre as pernas,  tremelicando... .
Agora, alimentados, espertos e folgazões,
Veem-se no caminho, que atravessa o pântano,
As cotias e os preás, passarem em bandos... .
Uma mamangaba de barriga amarela, que espanta,
Um carneiro, que sai dando cambalhotas,
Em meio aos cabritos e porcos; dando pinotes,
Ouve-se a seguir o trote dos potros em reinações.
E eu, tomo meu fumegante café com leite,  
Com mandioca na manteiga, bolo de fubá e queijo,
E me preparo para ir pescar no córrego,
Mandis, tambiús e lambaris às centenas,
Antes, me refresco naquelas águas cristalinas,
Do córrego do Pântano, o último despoluído... .
Depois, apanho as iscas; minhocas e milho!
À elas acomodo na lata de massa de tomate,
(Algumas, das brabas, tentam sair; cubro-as de terra):
- Quarenta lambaris!!!!!!, depois, volto à casa,
Não sem antes apreciar o meu próprio canto; me espanto,
- Minha terra, Meu paraíso!!!


Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos.  É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos” e quatro em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”. 

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