Na fotografia: os irmãos Óscar e António Gonçalves. (Fotografias de Pedro Granadeiro/GI) |
Foram quase cinco anos de trabalho intensivo, em muitas frentes – a remodelar a Pousada de Bragança e o seu restaurante, a desenvolver um projeto de cozinha regional contemporânea assente em produtos de alta qualidade. A procurar permanentemente esses produtos em infinitas viagens até aos criadores de gado, pescadores, agricultores até chegar à melhor vitela maronesa e porco bísaro, azeites e trigos, peixes de rio e de mar, castanhas e cogumelos, ou legumes tão conhecidos como couve tronchuda ou tão esquecidos como a escorcioneira e as rabas de soleira. A formar o pessoal da sala e da cozinha, a conquistar e fidelizar clientes de um projeto gastronómico arrojado ali mesmo, em Bragança.
Rocher de alheira, prato de assinatura. A simplicidade transmontana apresentada em forma de joia e é servido como saudação aos clientes. É feito de alheira, castanha e amêndoa. |
Para os irmãos António e Óscar Gonçalves, a estrela Michelin é o reconhecimento dessa aposta estóica – de muita paciência, muito tempo, muita força de vontade – que foi criar alta cozinha no interior transmontano.«Por estarmos em Bragança, temos a dificuldade acrescida de fazer este trabalho de procura e de consistência de produto. Isto é o resumo de um trabalho de anos», refere António. Ele na gestão da pousada e do restaurante (onde cuida da sala e dos vinhos), o irmão Óscar na cozinha, são ainda jovens (o primeiro com 32 anos, o segundo a chegar aos 42), mas têm já uma longa história na restauração.
Os irmãos primam pela utilização de produtos e ingredientes de excelência. |
Os pais, Adérito e Iracema, são donos do célebre Geadas, restaurante de comida tradicional em Bragança – e o nome Geadas acabou por se tornar o apelido. Os irmãos cresceram ali, a ajudar no serviço, até o mais velho ir estudar cozinha e fazer o voo habitual na formação dos chefs (passou pelo Algarve e por Lisboa, trabalhou com chefs de topo como Vincent Farges); e o mais novo se especializar em gestão hoteleira e seguir também o seu caminho fora de Bragança.
Uma das sobremesas do restaurante, que funciona na Pousada de São Bartolomeu. |
Acabaram por voltar, um a seguir ao outro, para tentar introduzir uma deriva contemporânea no Geadas. Não resultou, admite António: «As pessoas iam lá para comer a comida da nossa mãe, não para ver o que nós fazíamos». A oportunidade surgiu na forma de uma parceria com o grupo Pestana para a gestão da Pousada de S. Bartolomeu – que incluía aquele restaurante panorâmico, virando ao castelo. Depois, foi olhar em redor a escolher o que cozinhar. «Quando temos um produto de excelência, temos que trabalhar em torno dele, não o estragar», diz Óscar. É um maestro de sabores, aromas, cores nos seus pratos, onde conta histórias como a do veado à procura da sua comida, ou da viagem do carabineiro do Algarve – que no prato convive com porto bísaro, trigo barbelo e courgete biológica. Para comer a ver estrelas – as do céu de Bragança, com o castelo no horizonte; e esta que brilha agora sobre os irmãos Geada.
Prato de assinatura
Rocher de alheira
Textos de Luísa Marinho e Dora Mota
EVASÕES
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