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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

FOLIA DE REIS

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
São Paulo - Brasil


A companhia de Reis vai de casa em casa, da sua região

Lembro-me menino, na fazenda de café, onde nasci e vivi até os treze anos de idade.
E como era esperada a visita da folia de réis!
Na região onde eu vivia existiam duas "Companhias de Reis"; uma que cantava versos mineiros, a outra, versos baianos. 
Logicamente a tradição paulista manifestava-se nas duas correntes mais significativas no Brasil para a Folia de Reis.
Normalmente era um grupo, dirigido pelo "mestre". Eles visitavam cada casa da fazenda, entre as oito e onze horas da noite, quando findavam a função. No dia seguinte retomavam a casa seguinte. Era formada por três "puxadores de versos" e acompanhantes, que faziam solos de viola, violão, percussão e coral; cantando os estribilhos. E tinha o "palhaço". Ele usava máscara, que o diferenciava de todos. O palhaço era alter ego do Judas Iscariotes; aquele que traiu Jesus! Não raro, a "Companhia de Reis" tinha um palhaço principal e mais alguns aprendizes; poderiam chegar até quatro ou cinco. A razão era que a função de palhaço era uma espécie de promessa que o pretendente fazia, normalmente pedindo perdão de alguma falta, ou pecado que cometera na vida. E a função de palhaço não poderia exceder mais que sete anos ininterruptos. Portanto, a partir do quinto ano, ele tinha que convencer outra pessoa a fazer a promessa e acompanhar a "Companhia" durante dois anos; para aprender.
Quando a cantoria de dentro da casa terminava, a companhia de Reis saía da casa e os percussionistas rodeavam o palhaço e repicavam os tambores, pandeiros, bumbos, caixas, zabumbas e tãs-tãs; em ritmo alucinado, o palhaço tinha que dançar e só parava quando o dono da casa se fizesse de satisfeito, jogando ao chão, defronte ao palhaço, algumas moedas ou notas de dinheiro: quanto maior o valor, mais se dizia que o dono da casa estava satisfeito. Alguns, por não estarem satisfeitos com o desempenho da dança, "judiavam" do palhaço; jogando ao invés de moeda, alguns dentes de alho. Nesse caso, o palhaço tinha que recolher os dentes de alho com a boca (sem o auxílio das mãos) e tinha ainda que engolir os dentes de alho, tudo sem deixar de dançar! Caso ele fizesse tudo muito rápido, geralmente o prémio em dinheiro era de boa monta!


Palhaços. Um é o titular,os outros ou são seus reservas ou aprendizes

Já os "puxadores", ou mestres da folia de réis, começavam o canto homenageando os três réis magos, em primeiro lugar, depois o menino Jesus e por último, o dono da casa e  , em alguns casos, homenageavam cada um dos familiares do dono da casa. era tudo feito em versos de redondilha, simples, direto.
Lembro-me de alguns versos e trovas:

Vinte e quatro de dezembro, ai
Campo verde floresceu, ai, ai,
Campo verde floresceu, ai, ai (*)
Vinte e cinco de dezembro, ai
Menino Jesus nasceu, ai ,ai,
Menino Jesus nasceu, ai, ai    (*)

(*): observar que no terceiro verso de cada grupo de três versos, os acompanhantes da folia de Reis, elevavam a nota do último “ai” e o faziam com duração maior.

Alguns donos de casa que eram conhecedores profundos da arte da Folia de Reis, ao constatarem que o “puxador” era fraco (mau poeta), faziam uma pequena maldade: como o dono da casa tinha que ficar segurando a “bandeira de réis” na frente da companhia e de seus familiares, eles de modo exagerado e às vistas do puxador, amarravam uma nota de dinheiro graúdo em uma das fitas que enfeitavam a bandeira de reis. Quando se desse por satisfeito, desamarrava a nota e a mergulhava na cavidade da viola ou violão do puxador, dando por fim à apresentação. (muitos eram também os intrusos, pois normalmente ao final, eram servidos bolos, biscoitos, pães e bebidas sem álcool, tais como café, chocolate, chá de cravo, chá de hortelã, café de amendoim e etc. Então eles iam para comer e beber às custas do dono da casa visitada). Outra coisa: muitas eram as moças que arranjavam namorados nessas ocasiões, pois como os pais delas estavam ocupados com a cantoria, as visitas e a arrecadação de dinheiro para a festa dos réis, elas ficavam um pouco mais à vontade e os rapazes se aproveitavam desses momentos para “paquerar” ou conquistar tais moçoilas. Enquanto a companhia se deslocava de uma casa à outra (tanto poderiam ser algumas centenas de metros, como até alguns quilómetros), os namorados se conheciam melhor. Não raro, acabavam por se casar!

Lembro mais  versos:

O rapaz que segura a bandeira, ai,
É um rapaz muito honrado, ai, ai,
É um rapaz muito honrado, ai, ai(*)
Ele está feliz e contente, ai,
Com os três reis do oriente, ai, ai,
Com os três reis do oriente, ai, ai (*)

PS: estes últimos versos foram feitos para um então jovem de dezenove anos de idade, eu, recém órfão de pai, quando iniciava o papel de mantenedor e provedor da minha família. Meu pai, Joaquim José dos Santos, adorava folia de reis, tal e qual este agora velho ACAS. As memórias evocadas, dos tempos em que eu,menino e caipira, jogava futebol aos domingos,ouvia modas de violas aos sábado à noite, trabalhava nos eitos e reinava nos pagos, querências, carreadores, cafezais,rios e matas, ouvindo o som dos pássaros, comendo frutas silvestres, nadando nos ribeirões e córregos que passavam arrulhando docemente, a caminho do mar, no vale do Pântano,onde nasci e criei-me. Um tempo em que o amor e respeito em família eram o bastante para tornar-nos orgulhosos.Meu pai faleceu quando eu contava dezoito anos de idade; minha mãe, dona Guidinha, faleceu quando eu tinha trinta e cinco.A saudade é grande! O tempo se esvai, as lembranças ficam!

O que é Folia de Reis?

Folias de Reis: É um folguedo tradicional no Brasil, que integra o conjunto dos folguedos natalinos. Conhecida nas cidades e vilarejos do interior fluminense, capixaba, baiano, mineiro, paulista e paranaense, até pouco tempo era essencialmente rural, mas hoje já se apresenta em centros urbanos.

A peregrinação da Folia de Reis reproduz a viagem dos reis magos à Belém e tem a finalidade de visitar os moradores do lugar para obter donativos para a Festa de Reis, que podem constar de alimentos e até dinheiro. Começam sua peregrinação em 24 de dezembro ou 1º de janeiro e terminam em 6 de janeiro; dia de Reis!  Entretanto, no interior de São Paulo começam já no início de dezembro.

Confira a formação dos grupos da "Companhia"; ou Folia de Reis:

Mestre: que comanda o grupo e tem a tradição dos cantos e louvações.
Contra mestre: responde as cantorias do Mestre.
Cantores: cantam com o contra mestre fazendo a segunda voz .
Músicos: tocam bumbo, sanfona, triângulo, pandeiro, caixa e, eventualmente, a rabeca; também acompanham a cantoria.
Bandeireiro: pessoa que transporta o símbolo da Folia de Reis (bandeira), sempre à frente do grupo.
Palhaços da Folia: também chamados marungos. São devotos que em pagamento de promessa representam o papel de espiões de Herodes na viagem dos três Reis Magos ao local de nascimento de Cristo. Geralmente, esses palhaços vem à frente do grupo dançando e, em muitos grupos podem ser de diversos tipos, falam versos rimados e dançam o ‘pé de jaca’. Eles não entram em locais onde haja quadros ou imagens de santos. Após a louvação, ou cantoria, o Mestre e seus seguidores, inclusive a ror, vão assistir a dança do palhaço. Lembro-me bem; era muito divertido!

- Isso também é folclore !!!!!!!!!!!


Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos.  É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos” e quatro em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”. 

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