quinta-feira, 2 de maio de 2019

Lagos do Sabor: há um novo paraíso para descobrir em Trás-os-Montes

Nasceram por causa da Barragem do Rio Sabor e estão a transformar-se na nova atracção turística de Trás-os-Montes. Descubra os Lagos do Sabor.
Lagos do Sabor

Perdeu o epíteto de “último rio selvagem” de Portugal quando há dois anos foi dominado pela “mãe de todas as barragens”. Mas isso não significa que tenha deixado de ser arisco, à espera de ser explorado nas suas águas tépidas. Por detrás do Douro, há uma porta que se abre para a nova paisagem do rio Sabor, cheia de espelhos de água, à espera de serem quebrados. Os Lagos do Sabor são uma novidade no horizonte transmontano que ainda não cedeu ao turismo de massas. Nem tem como.
Lagos do Sabor

Ainda há segredos por descobrir em Portugal. Já ouviu falar dos Lagos do Sabor? Em Trás-os-Montes, numa extensão de 70 km, existem lagos ligados entre si por gargantas e penhascos, que formam um verdadeiro santuário da vida selvagem e oferecem aos visitantes um céu azul e um horizonte de cortar a respiração, que une os concelhos de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo. Os “lagos” propriamente ditos nasceram com a construção da barragem do Baixo Sabor, que alterou a afluência de água e proporcionou uma mudança no cenário, tornando-o um ponto de visita natural obrigatório.
Lagos do Sabor

A barragem do Baixo Sabor nasceu como alternativa à barragem prevista para Vila Nova de Foz Côa. As gravuras salvaram o Côa e empurraram o domínio pela EDP mais para cima, para o Sabor, também ele um rio que se junta ao Douro. Apesar de anos de contestação, sobretudo por ser uma zona de protecção ambiental, a Comissão Europeia acabou por dar luz à construção da barragem, que custou cerca de 450 milhões de euros à eléctrica e produz electricidade para 300 mil pessoas.
Lagos do Sabor

A linha do horizonte entrecortada de Trás-os-Montes ganhou, através da acção da mão humana, água nos vales, mas a mesma mão não modificou nada ou mudou muito pouco do que ficou à tona. Ainda não há autorização para novas praias fluviais, ainda não há os famosos barcos-casa, as casas palafitas, os barcos de recreio ainda são poucos, a pesca ainda não está regulada e o regadio também não é programado.
Lagos do Sabor

É um imenso mar de água doce por explorar e organizar e isso dá a sensação ao visitante que é o primeiro a fazer tudo por ali. Onde antes quase só se via terra e um pequeno curso de água, nasceram desde há dois anos três grandes lagos: o Lago de Cilhades, o Lago do Medal e o Lago dos Santuários. Com a subida do leito, ficou maior e mais larga a Foz do Azibo. Em cada um há uma história que ficou escondida na água ou para ser descoberta nos montes que a rodeiam.
Lagos do Sabor

Essa sensação de ter uma experiência turística ainda partilhada por poucos é um dos segredos mais bem guardados da região. Na verdade, por esta zona, fazer praia nos novos lagos ou passear de barco apenas pode ser feito por conta e risco próprios, já que não há empresas que possam explorar as margens das albufeiras criadas com a barragem e existem apenas duas praias fluviais que já existiam, a praia da Foz do Sabor e a praia da Foz do Azibo. As duas com água mais quente do que seria de esperar para rio – rondaria os 23, 24 graus no final de Agosto.
Lagos do Sabor

No cimo de um dos montes que circundam os lagos aparece um santuário trasladado. As imagens de satélite do Google ainda estão no antigamente. Ainda se vê o rio, estreito, com a areia acumulada e as rochas a descoberto. Agora, no cimo do monte, a cerca de um quilómetro onde existia o santuário com mais de 200 anos, foi erigido o novo lugar de culto. Ou foi reerguido. Durante meses, equipas de restauradores foram desmontando a igreja de um lado e montando do outro, pedra a pedra até à sua nova morada, no cimo do monte da Parada e de frente para o novo Lago dos Santuários.
Lagos do Sabor

A igreja lá no alto marca com imponência uma das curvas do rio, onde este se junta com a ribeira Zacarias, antes uma pequena ribeira, agora do tamanho e largura de um rio. Como muitos dos sítios religiosos da zona, a igreja agora trasladada foi mandada construir no século XVIII pela família dos Távoras, senhores do Mogadouro.
Lagos do Sabor

Neste local, onde é possível apreciar a nova paisagem criada pela água do Sabor, foi construído um pequeno museu que mostra em fotografias como a igreja subiu a encosta ao longo de meses, que tem um espaço dedicado à vida do Santo Antão e ainda uma parede dedicada aos “ex-votos” que os crentes faziam ao santo, para pagarem promessas. Do lado de fora, há espaço para um restaurante panorâmico, ainda fechado por falta de equipamentos, e um dormitório na Casa do Romeiro, também ele fechado. Este espaço, propício a um investimento de turismo rural pela vista e pelas condições que oferece, está meio abandonado, apenas visitado por curiosos ou quando se prepara a romaria anual.
Lagos do Sabor

Pode contactar com diversos animais, como o Grifo, a Águia de Bonelli, a Lontra Europeia, entre muitos outros. Há ainda actividades como birdwatching, passeios micológicos e botânicos, rota do lobo, ecopista do sabor, entre tantas outras. A par destas iniciativas, há ainda outros motivos que convidam a uma visita demorada. O estilo de vida tradicional destes concelhos e a gastronomia transmontana, que integra pratos como Cogumelos “Pantorra” ou “Belfuradinha”, Peixe frito de rio, “Peladinhas” ou Amêndoas de Moncorvo.


Fotos de José Rodrigues
Vortex Magazine

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