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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Guerra Junqueiro: “Os pêssegos”

 Um lavrador que tinha quatro filhos trouxe-lhes um dia cinco pêssegos magníficos. Os pequenos, que nunca tinham visto semelhantes frutos, extasiaram-se diante das suas cores e da fina penugem que os cobria. à noite o pai perguntou-lhes:

- Então comeram os pêssegos?

- Eu comi, disse o mais velho. Que bom que era! Guardei o caroço, e hei de plantá-lo para nascer uma árvore.

- Fizeste bem, respondeu o pai, é bom ser econômico e pensar no futuro.

- Eu, disse o mais novo, o meu pêssego comi-o logo, e a mamã ainda me deu metade do que lhe tocou a ela. Era doce como mel.

- Ah! acudiu o pai, foste um pouco guloso, mas na tua idade não admira; espero que quando fores maior te hás de corrigir.

- Pois eu cá, disse um terceiro, apanhei o caroço que o meu irmão deitou fora, quebrei-o, e comi o que estava dentro, que era como uma noz. Vendi o meu pêssego, e com o dinheiro hei de comprar coisas quando for à cidade.

O pai meneou a cabeça:

- Foi uma ideia engenhosa, mas eu preferia menos cálculo.

- E tu, Eduardo, provaste o teu pêssego?

- Eu, meu pai, respondeu o pequeno, levei-o ao filho do nosso vizinho, ao Jorge, que está coitadinho com febre. Ele não o queria, mas deixei-lh'o em cima da cama, e vim-me embora.

- Ora bem, perguntou o pai, qual de vós é que empregou melhor o pêssego que eu lhe dei?

E os três pequenos disseram à uma:

- Foi o mano Eduardo.

Este no entanto não dizia palavra, e a mãe abraçou-o com os olhos arrasados de lágrimas.

A urna das lágrimas

Era uma vez uma viúva, que tinha uma filhinha muito linda, a quem adorava sobre todas as coisas. Não se separava dela um só momento; mas um dia a pobre pequerrucha começou a sofrer, adoeceu e morreu. A desditosa mãe, que tinha passado as noites e os dias, sem repousar um momento, à cabeceira da filha, julgou endoidecer de mágoa e de saudades. Não comia, não fazia senão chorar e lamentar-se. Uma noite em que estava acabrunhada, chorando no mesmo sítio em que a filha tinha morrido, abriu-se de repente a porta do quarto e viu-a aparecer a ela, a sua querida filha, sorrindo com uma expressão angélica e trazendo nas mãos uma urna, que vinha cheia até às bordas.

- Oh! minha querida mãe, disse-lhe ela, não chores mais. Olha, o anjo das lágrimas recolheu as tuas nesta urna. Se chorares mais, transbordará, e as tuas lágrimas correrão sobre mim, inquietando-me no tumulo e perturbando a minha felicidade no paraíso.

A pequenina desapareceu, e a mãe não tornou a chorar para a não afligir.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877.

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