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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A PRIMEIRA VISITA DE D. PEDRO A VÍTOR HUGO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

O livro: " Vitor Hugo chez lui", inclui a curiosa visita, Realizada pelo Imperador, a 22 de Maio de 1877, ao célebre poeta.
Não li a obra, mas a tradução, que Ramalho fez a 30 de Julho, para a " Gazeta de Noticias"; mais tarde incluída, pela Livraria Clássica Editora, em: " Notas de Viagem".
D. Pedro II desejava, ardentemente conhecer Vítor Hugo, em pessoa, mas receava comparecer em sua casa.
Resolveu, então, pedir-lhe, através da embaixada brasileira, se lhe dava a honra de o vir visitar.
Respondeu-lhe Vítor Hugo, que não ia a casa de ninguém.
Combinaram, todavia, encontrarem-se no Senado; mas também não se concretizou.
Uma manhã, pelas nove horas, o Imperador, pôs de parte o receio e o protocolo, e bateu timidamente, à porta da casa de Vítor Hugo.
Segundo a tradução livre de Ramalho, o encontro decorreu deste jeito:
- " Peço-lhe Sr. Vítor Hugo, que me diga uma palavra de animação; acho-me cheio de timidez" - disse D. Pedro.
O poeta ofereceu-lhe, gentilmente, um fauteuil.
D. Pedro II agradeceu, e continuou:
- " Sentar-me em um fauteuil ao lado de Vítor Hugo, eis o que verdadeiramente me produz o efeito de ocupar um trono."
E falando das monarquias, prosseguiu:
- " É preciso, não queremos demasiadamente mal aos meus colegas: são homens de tal forma rodeados, de tal modo traídos, por tal forma enganados, que na verdade eles não podem pensar como a gente pensa."
Ao que Vítor Hugo, respondeu:
- Oh! Vossa Majestade é único...felizmente
Como D. Pedro mostrasse gosto de conhecer a família, Vítor Hugo mandou chamar os netos, que como avô, dedicara-lhes o livro: " L'Art D'être Grand-Père":
"Jeanne (menina de olhos azuis, que o poeta amava enternecidamente) apresento-te o Imperador do Brasil."
E logo de seguida:
- " Tenho a honra de apresentar, meu neto Jeorge."
O Imperador fez-lhe um carinho, e:
-" Aqui, meu jovem amigo, não há senão uma majestade; é a do seu avô."
E virando-se para Jeanne:
- " Queres dar-me o prazer de me abraçar?...
Deu-lhe a face para o Imperador beijar.
-"Então?... vamos, abraça-me tu, que é o que eu te peço!"
Jeanne (a medo) abraça o pescoço de D. Pedro.
-"Bastará – Jeanne, bastará! Creio que não quererás dar o luxo de começar o teu dia esganando um Imperador!..."
A conversa continuou:
Contou-lhe, o poeta, a sua vida e seus hábitos, em Paris: todos os dias após o almoço dava uma volta pela cidade, no alto de um ómnibus. Prazer que o Imperador não podia...
-" Privado, eu, de trepar ao alto dos ómnibus. Mas de modo algum! É precisamente no alto dos ómnibus que eu tenho o meu lugar - um lugar de imperial." - Disse D. Pedro.
Vítor Hugo interroga-o se não receava sair tanto tempo do Brasil:
- " Não: eu sou substituído no Brasil por gente que vale tanto e que vale mais de que eu. Além do que, não perco o meu tempo aqui. Reino sobre um povo jovem e é principalmente em o esclarecer, em o guiar, em o melhorar, em o fazer progredir que eu desejo usar dos meus direitos...Ou antes...Não me exprimi bem...Eu tenho direitos. Do que uso apenas é do poder que recebi do acaso, da sorte e da herança da família."
Vítor Hugo amaciando a voz:
-" A família de Vossa Majestade é venerável. Vossa Majestade é um filho de Marco Aurélio."
O aprazível encontro durou meio-dia. D Pedro foi convidado a jantar, no dia seguinte. Vítor Hugo oferece-lhe o último livro, com dedicatória: " A D. Pedro de Alcântara, Vitor Hugo."
Depois desta visita, a família de Vítor Hugo, tornou-se grande amiga do Imperador.
Os diálogos apresentados, foram transcritos, literalmente do livro: "Vitor Hugo chez lui", segundo a tradução livre de Ramalho Ortigão.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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