A tia Fernanda Afonso de Bragança contou-nos como faz para a conservar. “Depois da marmelada pronta, deito-a em taças que vou agitando ou rodando de um lado para o outro com força, de modo a tentar alisar a superfície. Deixo-a secar um pouco e tapo-a com papel vegetal, num dos lados passo aguardente e coloco esse lado em contacto com a marmelada. Guardo as taças numa janela que apanhe sol e deixo-a secar. Conserva-se durante todo o ano, isto é, se não se comer antes!
Nos últimos dias comemoram mais um ano de vida Maria Pássaro (90) Grijó de Parada (Bragança); Ana Aboim (88) Tuizelo (Vinhais); Glória Gomes (85) Bragança; Elisa Alves (74) Couços (Mirandela); Delmino Ferreira (58) Grijó de Parada (Bragança); Virgínia Capela (57) Sortes (Bragança); Dinis dos Santos (53) Torre Dª. Chama; Ana Maria (50) Samil (Bragança); Michel Duarte (48) Paredes (Bragança); Carlos Alberto Pires (32) Rio Frio (Bragança); Muitos parabéns cheios de saúde!
Já lá vão uns anos, mas aquilo que eu mais gostava na aldeia era fazer a aguardente. Este ano apercebi-me, em conversa com os nossos tios, que ainda há muitos que mantêm esta tradição. Outos há que ainda conservam o pote como recordação e peça decorativa. Há alguns anos a aguardente servia, muitas vezes, de mata-bicho dos homens e era utilizado com fins terapêuticos: servia de desinfectante substituindo o álcool, de digestivo após as refeições, para aliviar a dor de dentes e no tratamento de constipações, quando aliado ao limão e ao mel no chamado champurrião. Agora há quem não a dispense com o café.
Tem que haver alguma atenção por parte das pessoas que estão a fazer a aguardente. A água do tanque por onde passa a serpentina tem que ser renovada frequentemente, pois vai aquecendo provocando a paragem na condensação. A chama da fogueira também tem de ser controlada pois, se for muito forte a aguardente sai com um gosto desagradável a queimado e pode avinhar-se. O teor alcoólico também tem que ser vigiado pois a certa altura o líquido já sai fraco. O alambique ou “os potes” é o conjunto formado por duas peças de cobre, uma espécie de forno e a parte móvel, formada por uma caldeira e uma serpentina feitas em cobre.
A caldeira, com o bagaço, coloca-se por cima da lenha a arder. Com o aquecimento, começam a libertar-se vapores que se espalham pela serpentina. Esta está submersa no tanque cheio de água fria. Em contacto com ela, dá-se a condensação do vapor que passa para o estado líquido e vai sair por um tubo, caindo para dentro de um cântaro ou garrafão. É a aguardente vínica, um produto alcoólico que resulta da destilação do bagaço de uva fermentado.
De um modo geral 100 quilos de uvas rendem entre 70 a 75 litros de mosto e 25 a 30 quilos de resíduos da fermentação, também denominado bagaço. Há pessoas que fazem uma média de quatro garrafões por potada. Noutros lugares só fazem um cântaro (12 litros) por potada. Quem quer envelhecer a aguardente tira só cerca de oito a dez litros por potada.
E para terminar o tema, nada melhor do que partilhar os versos sobre a aguardente, com que o tio Belmiro dos Santos, de Grijó de Parada, nos brindou na rádio enquanto ia aguardentando.
A aguardente
E comer dois três figos,
Andar sempre contente
E ter bons amigos.
Não faz mal a ninguém,
E se for em casa do vizinho
Então é que sabe bem.
Feito na cafeteira,
Faz-nos lembrar noites de velada
À volta da fogueira.
Também gostava de aguardente,
Porque dormia sozinha
E assim dormia mais quente.
Até dizia a sorrir,
Ponham aqui a garrafinha
Senão não consigo dormir.
Chamava-lhe uma pótada,
Mas o tio José Bernardo
Chamava-lhe uma piada.
Na minha aldeia antigamente,
Faziam muitas piadas,
E na fornalha da aguardente
Umas boas sardinhas.
O que é lamentável,
Era o WHISKY da nossa gente
Original e saudável.
Para os joelhos inchados,
Mas bebendo doce e quente
Era para os constipados.
Assim vai a desertificação,
De tanto que nos têm tirado, o que mais nos tirarão.
Belmiro dos Santos
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