Segundo o presidente da Cooperativa Soutos Os Cavaleiros, em Macedo de Cavaleiros, a castanha é “muito mais pequena que o normal” e a qualidade e a quantidade também ficou aquém. A alteração do clima terá sido o principal factor influenciador. “Tivemos dias de calor, numa altura em que já devia chover para ajudar à queda da castanha. Este tempo inconstante, de calor, depois arrefeceu, chuva, calor novamente, atrasou ligeiramente a campanha”, referiu André Vaz, acrescentando que o “Verão húmido” foi propício ao “desenvolvimento de fungos de uma forma que não é normal em Trás-os-Montes”. O problema é agora conseguir satisfazer o mercado do fresco, já que o calibre da castanha não está a corresponder à procura. Este é o resultado da primeira apanha da castanha, como a Aveleira, dos cerca de 400 associados da cooperativa. A partir de agora já começa a ser recolhida a castanha de outras variedades com maiores dimensões, como a Judia. “A partir de agora a qualidade já está aos níveis que habituamos”, frisou. O ano passado, a Cooperativa Soutos Os Cavaleiros teve uma produção de castanha que rondou as 700 toneladas, no entanto, prevê-se que, esta campanha, a quantidade seja inferior à dos anos anteriores, apesar de ainda não ser possível determinar percentualmente a quebra de produção. Ainda assim, nem tudo é mau. “A verdade é que há muitos ouriços que abortaram algumas castanhas e em vez de produzirem três, quatro castanhas, estão a produzir uma ou duas. Face ao que estamos a viver, acaba por não ser muito mau, porque as castanhas que se desenvolverem acabam por se desenvolver melhor do que se tivessem três ou quatro”, salientou. André Vaz disse ainda ser cedo para apontar preços concretos, uma vez que nesta altura estão a ser estabelecidos pela pouca oferta e muita procura, mas adiantou que a castanha para vender a fresco anda entre os três e os 3,5 euros, um preço “ligeiramente” superior em relação ao do ano passado. Quanto à mão-de-obra, continua a ser um problema já que há falta dela. Há produtores que ainda fazem a apanha à moda antiga, à mão, como é o caso de Albino Rodrigues, mas há quem já tenha optado pela mecanização, visto que é mais rentável.
Apanhar castanha à mão e com a ajuda da família
Albino Rodrigues tem dois hectares e meio de soutos, em Gondesende, no concelho de Bragança, o que anualmente lhe rende seis toneladas de castanha, produção que tem vindo a crescer nos últimos tempos, porque tem feito plantações. Como diz não ter tanta castanha, a apanha é feita sempre em família. Este sábado, ainda o frio gelava as mãos e as castanhas já estavam a ser recolhidas do chão. Ainda assim, em nada se compara com a método tradicional que Albino Rodrigues via fazer ao seu pai e padrinho. “Eu recordo-me de ouvir o meu pai e o meu padrinho dizer que havia poucos castanheiros. Iam com as cestas, com aqueles sacos que eram feitos ainda em tear e depois ia lá os carros das vacas. Agora não, é tractores e carrinhas”, contou. Também com o passar dos anos nota que o sabor da castanha tem vindo a ficar diferente. Acredita que é do tratamento que o produtor dá ao solo. “A terra estercava-se com o estrume das vacas, agora deita-se adubo. Até acho que fazemos demais aos castanheiros. É no solo, é na folha e acho que o que é demais é capaz de ser prejudicial, até próprio sabor da castanha”, referiu, acrescentando que este ano tem menos quantidade do que o ano passado. As doenças dos castanheiros é outro dos motivos que tem influenciado a sua produção, uma vez que há soutos que nem uma castanha teve nesta campanha. “O castanheiro grande que eu tenho, que enxertou o meu pai, está a secar muito. Primeiro começou o cancro, a tinta que é o que afecta mais o castanheiro, agora ainda a vespa da galha do castanheiro. Tenho um castanheiro que era capaz de dar à volta de 500 kg de castanha, este ano não deve ter nada porque foi afectado de tal maneira que não vai dar nada”, disse, salientando que daqui a “dez anos” haverá uma quebra “muito grande” de produção de castanha. Despois da sua castanha apanhada, Albino Rodrigues ajuda os outros produtores da família. Mas aí, o caso muda de figura, já que é feita de forma mecanizada. “Nos concelhos de castanha é provável que até já 50% da apanha seja com máquina. Compensa, porque é menos trabalho, a castanha sai limpinha. Eu já estou a fazer esse trabalho para a minha madrinha há volta de três anos e compensa muito mais”, frisou. Brevemente, pretende também preparar os seus terrenos para que a apanha também seja feita pelas máquinas.
Os mais novos a seguir as pisadas da família
Sobrinho de Albino Rodrigues, João Alves tem apenas 16 anos, mas apanhar castanha já não é novidade nenhuma. Desde pequeno que foi criado e habituado a andar nos soutos e nunca se importou. Disse gostar de ajudar os pais e os tios e tem noção que são poucos os jovens que metem as mãos na agricultura. “Eu gosto de andar pelos montes, pelos soutos e aqui na aldeia praticamente só sou eu e uma rapariga da minha idade que também ajuda, mas sou mais eu”, contou. É o orgulho da família já que pretende não abandonar as propriedades que eram dos seus avós. “Acho que vou ser o próximo agricultor da família, para não perder as coisas que já vêm dos meus avós, quero continuar com as propriedades”, afirmou. Admitiu que apanhar castanha não é pêra doce, principalmente quando chove ou está frio”, mas “nasceu” nesta vivência e não quer deixá-la para trás.
Cláudia Rodrigues - “Desde pequena que apanho castanha. Ia com os meus pais e os meus avós e agora continuo a ajudar a minha mãe e os meus tios. É um trabalho muito duro. Andar um dia inteiro, de manhã à noite, às vezes a chover, é duro, e as pessoas têm que pagar bem se querem ter mão-deobra”
Maria do Rosário Rodrigues - “Antigamente era diferente. Não havia luvas, desviávamos os ouriços com os pés e íamos a pé de manhã e à noite, mas era divertido. Apanhávamos castanhas com neve e muito gelo. A qualidade da castanha antes era muito melhor, só havia uma ou duas variedades”
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