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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Flores, o mais belo da Criação

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Olhava da minha janela e a festa de cores começava ao primeiro olhar pois os lírios manifestavam-se num silêncio ruidoso que me tocava na alma de criança e se confundia com tanta cor que se libertava para que nós, os mais pequenos, começássemos a amar as coisas da Criação.
No quintal em frente à minha janela havia lírios, rosas, liláses, também tulipas e a coroar este arco triunfal, como que a afirmar-se como mais popular, uns vasos de barro com cravos vermelhos, brancos e amarelos.
Era nos dias de Maio que o espetáculo subia ao palco e da boca de cena se apresentavam para nossa delícia e deleite, que os tenros anos não assimilavam na perspetiva total. Quero dizer que no cimo da Rua para além das casas caiadas de amarelo ocre e cintadas com biochene marrom havia um jardim pequeno como a meninada da Caleja que sendo infantil e minúscula estava a ser iniciada para as coisas belas que a força da Natureza e a sensibilidade das gentes, criara e usufruía.
A Rua por si só era pedregosa e com declive acentuado, a vida nesse espaço limitado e algo triste, tomava um tom mais azul e realçava a beleza das flores e fazia sentir no ar um perfume que era uma mescla de cheiro a rosa e lilases.
Na parede que sustentava o talude que bordejava a linha do caminho-de-ferro havia uma fonte que talhada a cinzel se oferecia, fresca e húmida com água vinda através de tubo de pedra de nascente algures mais para cima do morro onde construíram o Forte de S. João de Deus logo após, as guerras da Restauração nos tempos da Aclamação do Duque de Bragança, o nosso Rei D. João IV. Um pouco acima do jardim com a tal fonte havia casas construídas para alojar pouca gente mas que em vez disso e dada a pobreza das pessoas estavam cheias de moradores que ostentavam à janela vasos de todas as formas e tamanhos que, carregados de cravos, pelo S. João davam ao Bairro um ar de festa que era bom para os olhos e ajudava a que as cascatas enfeitadas com os mais variados motivos populares dessem azo a que a meninada fosse com elas para as ruas principais, pedir um tostãozinho para a Cascata.
Ao longo das fachadas das casas humildes exibiam-se outras flores de janela que a vizinhança cuidava com esmero numa competição mais ou menos surda, porque a gente capricha sempre para que o seu seja, ou pareça sempre o mais bonito.
As hortas ou jardins das outras casas estavam todas voltadas para as traseiras dos edifícios, sendo apenas aquele espaço ajardinado que se mostrava à rua, pois que fora colocado à ilharga da casa de habitação e gozava de uma situação de alfobre das flores que me ensinaram a gostar do que é belo e subtil na Criação.
Nas bermas do caminho de terra batida que acompanhava até à Moagem Mariano a linha do Comboio, havia sempre erva da mais verde onde também havia flores sendo que umas azuis de uma beleza deslumbrante chamadas miosótis apareciam por ali e pecado nosso havia quem não resistisse e as colhesse para enfeitar a lapela. A casa a que o jardim pertencia, foi agora destruída pela Digníssima Câmara Municipal, o jardim já o havia sido quando da construção do Edifício Translande.
E nas ganas do lucro e na falta de sensibilidade, pouco a pouco se destrói o espaço que seria mais útil à cidade como zona histórica pitoresca não fossem os erros crassos de edis que elegemos e não têm ou não cultivam o gosto pelo belo e simples, mas incensam o betão armado e as vaidades das escadas rolantes.
Este texto é um desabafo de quem foi ali nascido e que cedo aprendeu que contra a força não há resistência e contra a falta de gosto nada há a fazer.



Bragança 21/X/2021
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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