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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Enquanto o comboio não regressa

 Portugal tem 1 095 quilómetros de linhas de comboio desativadas que aos poucos têm sido cedidas para que os municípios possam reconvertê-las em ecopistas, dando um novo rumo e uso a estes espaços.

Quando em 1856, no regresso da viagem inaugural de um comboio em Portugal, o Rei D. Pedro V se viu apeado por uma avaria nas tubagens, não estaria longe de imaginar que em 2021 o ministro das Obras Públicas, Pedro Nuno Santos, também ficaria apeado por falta de verba para as rodas das locomotivas da CP. A CP necessita de investimentos de modernização que obrigam, em permanência, a uma criteriosa ponderação económica nas opções, permitindo que a sua gestão operacional deixe de acrescentar prejuízos e dívida ao seu histórico endividamento crónico.

Desde o atribulado início dos investimentos necessários à entrada da modernidade do vapor no país, passando pelo endividamento acumulado para o avanço dos caminhos-de-ferro planeados por Fontes Pereira de Melo, terminando nos primeiros quilómetros de rede desativados por Cavaco Silva, o país passou por muitos altos e baixos económicos, vários resgates financeiros internacionais, avanços e recuos no planeamento dos transportes públicos e inversões de marcha nas prioridades da mobilidade coletiva.

Portugal tem hoje 1095 km de linhas de comboio desativadas, sendo que a grande maioria se encontra no interior do país e na região do Alentejo. A grande fatia dos encerramentos foi justificada com razões económicas, por falta de procura e viabilidade financeira da sua manutenção. Linhas de enorme importância como o Corgo, Dão, Tua e Vouga, que serviam capitais de distrito como Chaves, Bragança ou Viseu, foram encerradas e a maioria continua sem utilização.

Estas linhas têm sido aos poucos cedidas pela CP para que os municípios possam reconvertê-las em ecopistas, dando um novo rumo e uso a estes espaços. É um caminho que suscita algumas dúvidas na opção de investimento mas que merece reflexão aturada e ponderada dadas as variadas vertentes e virtudes que a escolha encerra.

Um pouco por todo o país, a recuperação destes caminhos permite a captação de um turismo de natureza, de amantes do campo e dos passeios pelas mais belas e variadas paisagens que o Minho, Alentejo ou Trás-os-Montes nos oferecem. A par disso, há todo um património de estações e apeadeiros que vão sendo recuperados, podendo potenciar novos negócios de alojamentos, restaurantes ou pontos de apoio aos caminhantes e cicloturistas. Temos ainda a recuperação e manutenção de grandes obras de engenharia, principalmente pontes e túneis que merecem divulgação e estima. Servem o interior do país com incentivo à prática de desporto por populações inteiras que estão longe dos grandes centros de decisão e de eventos importantes.

Temos assim um conjunto de áreas servidas pelo projeto de recuperação destas vias, ambiente, mobilidade suave, turismo, património, desporto e lazer, numa abordagem integrada a um território isolado, com inúmeras vantagens que culminam na manutenção do espaço circulante, permitindo que no futuro se possa voltar a reativar o comboio e ouvir a buzina de aproximação do monstro de ferro. Num país onde a maioria da população que vive na cidade demonstrou vontade de se mudar para o campo, talvez não seja despiciendo avaliar as vantagens desta abordagem ao planeamento territorial.

O Prémio Europeu recebido pela qualidade da recuperação da Linha do Tâmega, projeto da Associação de Municípios do Baixo Tâmega comprova que a Ecopista do Tâmega será mais uma âncora regional que complementará as ofertas existentes, como a Rota do Românico, construindo mais uma rede de complementaridade entre os territórios servidos. Do Arco de Baúlhe a Celorico ou de Mondim a Amarante, conquistou-se uma ecopista e recuperaram-se algumas estações históricas, dando uma nova vida a uma das zonas mais pobres do país. As terras de Basto e do Tâmega estão de parabéns por este prémio, demonstrando que as Comunidades Intermunicipais são já um instrumento suficiente para concretizar a descentralização que tarda no país.

Por todo o país estão já disponíveis 332 quilómetros de ecopistas esperando-se que em breve possam passar a ser mais de 800 km disponíveis para usufruto das populações e turistas. Se é certo que não é o regresso do comboio que alguns autarcas anseiam e reclamam, também ficamos convictos de que dificilmente haverá lugar a megalomanias de projetos insustentáveis a longo prazo. Até porque, por estes dias, é mais económico e expedito substituir as rodas de uma bicicleta do que as rodas de uma locomotiva.

Sérgio Gomes
Mestre em Engenharia Urbana

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