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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Aluna invisual desespera com a falta de professor de braille na escola Luciano Cordeiro

 Apesar de o Agrupamento de Escolas de Mirandela (AEM) estar incluído na rede de escolas de referência criada pelo Estado para a inclusão de alunos cegos e com baixa visão, três semanas depois do início do ano letivo, a escola básica “Luciano Cordeiro” continua sem docente especializado em braille, uma das condições previstas para oferecer uma resposta educativa de qualidade a estes alunos.


A professora que estava destacada está de baixa e a sua substituição ainda não foi concretizada. Esta situação está a provocar uma enorme desilusão em Matilde Sampaio, aluna invisual que frequenta o sexto ano na escola Luciano Cordeiro. “Não me sinto muito bem nas aulas, porque não tenho os recursos que preciso para estudar e vou ter uma prova, esta semana, mas não tenho ninguém que me passe o documento para braille e assim ninguém pode corrigir a prova”, lamenta a aluna de 11 anos de idade.

“Tenho de fazer na máquina de braille e não no computador, porque é uma espécie de um código morse e ninguém sabe disso a não ser uma pessoa especializada em braille”, conta Matilde, confessando que não têm sido nada fáceis as primeiras três semanas de aulas. “O problema é que estou a fazer as duas funções. Sou a professora de braille e aluna ao mesmo tempo, mas tenho muita carga em cima de mim e às vezes não consigo fazer tudo porque são rios de matéria, acrescenta a mirandelense que nasceu com glaucoma (doenças do olho que danificam o nervo ótico, responsável pela transmissão da informação do olho até ao cérebro) e tem a córnea opaca. Já fez uma reconstrução ocular e três transplantes, mas todos foram rejeitados. Tem 95% de incapacidade.

Apesar de todas estas limitações, Matilde tem sido sempre uma aluna de mérito com notas elevadas e agora, esta situação está a deixar a mãe extremamente preocupada e apreensiva com as consequências que esta falta de professor de braille pode causar na sua filha. “Ela vai ter prova e não tem um manual para poder estudar, não tem professor de braille, não tem quem lhe explique e assim não sei o que está a fazer numa sala de aula”, lamenta Patrícia Costa.

A mãe de Matilde confessa que é “doloroso” sentir que a sua filha está a ficar para trás. “Ela é muito ambiciosa, é uma aluna de mérito, quer sempre aprender mais, é muito ambiciosa, mas neste momento não sente forças para conseguir fazer o que quer que seja porque ninguém lhe explica as coisas em braille”, adianta.

Patrícia revela que a direção do AEM também está “preocupada” com o caso, mas entende que “alguém tem de assumir as responsabilidades desta lacuna, porque a minha filha está a perder o ensino quando esta é uma escola de referência e por isso tem de lhe dar todas as condições e neste momento quem está a falhar não é a Matilde, mas são eles perante a Matilde”, afirma.

A aluna de 11 anos deixa um último apelo: “Pedia que tivesse professor de braille e também para os meninos que têm o mesmo problema que eu para não acontecer a mesma coisa porque sei o que eles podem vir a passar, porque agora estou a passar por isso”.

Concurso sem candidato

Confrontado com este caso, o diretor do AEM confirma que a Luciano Cordeiro sendo uma escola de referência nesta matéria, “é possível ter um professor do quadro especializado em braille”, refere Carlos Alberto Lopes, mas o problema é que a professora em causa está de baixa e todo o processo para encontrar um substituto obedece a regras emanadas pela tutela. “Encontra-se ausente, tendo o agrupamento procedido à sua substituição nas diversas regras, mas até ao momento não há candidatos”, acrescenta.

Objetivos da rede de escolas de referência

Foi criada uma rede de escolas de referência para a inclusão de alunos cegos e com baixa visão, com vista a concentrar meios humanos e materiais que possam oferecer uma resposta educativa de qualidade a estes alunos.

Os objetivos destas unidades passam por assegurar a observação e avaliação visual e funcional, o ensino e a aprendizagem da leitura e escrita do Braille bem como das suas diversas grafias e domínios de aplicação.

E ainda assegurar a utilização de meios informáticos específicos (linhas Braille, impressoras Braille, etc) e o treino visual específico, sem esquecer a orientação dos alunos nas disciplinas em que as limitações visuais ocasionem dificuldades particulares (educação visual, educação física, etc). Está ainda previsto o acompanhamento psicológico e a orientação vocacional.

Fernando Pires

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