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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

ARTUR BOTELHO — 5

 Vamos agora aproximar-nos um pouco mais do ponto central deste folhetim: o livro “Guerra Junqueiro falso poeta”. Mas ainda não será hoje que mergulharemos no assunto. Há primeiro que fazer umas considerações que recordem aos meus Amig@s a figura do poeta barbudo de Freixo de Espada-à-Cinta.
Começaremos por dizer que Guerra Junqueiro não é um poeta consensual, isto é, desperta reacções contraditórias. Há quem o adore e há quem o deteste — tudo em alto grau. Foi uma das vozes que mais contribuíram para o advento da República e um dos mais feros adversários do clero. Já se vê que um poeta assim tinha de concitar amores e ódios.
Curiosamente, como que habitam dentro dele dois poetas tão semelhantes entre si como um ovo e um espeto. Temos por um lado o poeta panfletário, de uma enorme combatividade, e por outro lado o poeta apaziguado, de um lirismo comovido e comovente. “A velhice do Padre Eterno” e “Os simples” são livros emblemáticos cada um da sua faceta. 
O primeiro deles ataca a visão estreita que, em sua opinião, a igreja católica tem de Cristo. Faz isso numa enxurrada de sarcasmos, alguns de bem mau gosto. Mas, surpreendentemente, no meio dessa enxurrada aflora por vezes o seu lirismo de base, como no inspirado passo “Minha mãe, minha mãe, ai que saudade imensa”, que muita gente sabe de cor, ou na tocante exaltação da liberdade que o melro faz aos filhos metidos numa gaiola por um padre-cura bronco.
O segundo é um ramalhete em que refulgem joias como a conhecida “Moleirinha”.
Os que idolatravam Guerra Junqueiro chamaram-lhe “o poeta da raça” e de algum modo esse generoso epíteto foi confirmado pelos funerais nacionais que lhe foram dispensados, uma semana sobre a sua morte, ocorrida em 7 de Julho de 1923, ao ser sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, perto de Luís de Camões. 
Muito exagero se cometeu de parte a parte na apreciação da sua obra — apreciação quase sempre inquinada por considerações de natureza ideológica, quando não por ‘estados de alma’. António Sérgio, que encabeça o exército de detractores do poeta, não lhe chama “poeta da raça”. Pelo contrário, entre outros mimos, chama-lhe ”pitonisa histérica de barricada”. Outros vultos da cultura portuguesa, como António Sardinha ou Vieira de Almeida, não tinham opinião mais lisonjeira a respeito de Guerra Junqueiro e disseram dele o equivalente ao que Maomé terá dito do toucinho. Mas ninguém, estou em crer, foi tão violento como o poeta épico Artur Botelho. 
Veremos isso no próximo capítulo.

A. M. Pires Cabral

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