“O grande problema é ter um acréscimo ainda maior de gastos no final do ano. Na nossa região, essencialmente agrícola, existente sempre um carro de apoio a esse serviço agrícola como as carrinhas 4x4, jipes, carrinhas de caixa aberta, que são de alta cilindrada, que têm um preço de IUC baixo e que vão passar a pagar mais de 500 euros por ano”, aponta Nuno Diz, produtor de castanha e de gado ovino no concelho de Bragança e que tem um jipe de todo-o-terreno para a atividade agrícola.
“Aqui as pessoas têm baixos rendimentos e alguma idade, sobretudo nas aldeias. Dois terços da reforma vão ser só para encargos com os carros.
E não há uma alternativa viável no mercado para isso. Não há veículos elétricos que cumpram estas função”, aponta.
Telmo Afonso, presidente da União das Freguesias de Sé, Santa Maria e Meixedo, em Bragança, acredita que o meio rural será o mais prejudicado com a medida inscrita no Orçamento de Estado do próximo ano mas que ainda carece de aprovação.
“Vai afetar muita gente do mundo rural. As carrinhas novas são caríssimas e quem as compra não as usa para ir às castanhas, às batatas, levar comida aos animais... Vai ser complicado”, admite, ele que também é produtor de castanha e tem uma carrinha 4x4 para a atividade.
Miguel Fernandes, presidente da Junta de Freguesia de Vila Verde, no concelho de Vinhais, também teme pelo que acontecerá às aldeias.
“Pode afetar imensas aldeias porque grande parte da frota é anterior a 2007. Há bastantes carros na agricultura. Só na minha aldeia há dezenas. Isto vai implicar aumentos não só nas pick ups, também nos carros normais”, frisou.
Rómulo Pinto, vice-presidente do Nordeste Automóvel Clube (NAC), acredita que esta medida proposta pelo Ministro das Finanças vai ser “muito penalizadora” para regiões mais desfavorecidas, como as do interior.
Por isso, o clube está a apelar à assinatura da petição que foi criada para tentar reverter a proposta e que já contava com mais de 160 mil subscritores.
“Vai afetar muitos agricultores da região, com reformas baixas, que têm veículos 4x4 mais antigos para ajudar na prática agrícola e que não têm dinheiro para trocar de carro.
Terá impacto económico também nas oficinas da região”, sublinha Rómulo Pinto.
Pedro Fernandes, funcionário de um concecionário multimarcas, lembra que a maioria dos proprietários dos carros anteriores a 2007 no interior “provavelmente nunca andará em autoestrada”. “É penalizador para o utilizador de uma viatura anterior a 2007, tendo em conta que a justificação para o aumento deste valor se prende com o impacto ambiental, mas como justificação para baixar o custo das portagens. É penalizador para quem tem estas viaturas e vive no interior.
É uma população envelhecida que tem estes carros, que provavelmente nunca andarão nas autoestradas”, sublinha.
Já um carro equivalente, elétrico, custará acima dos 80 mil euros, “o que torna inviável a sua aquisição para uma pequena exploração agrícola”.
Está já prevista uma manifestação em todo o país, no dia 05 de novembro, de protesto contra esta ideia do Governo. Em causa o aumento do IUC para carros anteriores a 2007, com uma componente relacionada com a cilindrada e outra com as emissões de CO2. O Governo prevê subidas graduais, de 25 euros, mas há casos em que se pode passar dos 70 para os 770 euros de IUC.
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