Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
A qualquer português de bom senso não passa despercebida a degradação a que se assiste no espaço público a que nem os mais importantes órgãos de soberania escapam. E, porém, quando parecia ter-se atingido o fundo eis que aparece quem, gostando de chafurdar escava mais um pouco e coloca mais abaixo a fasquia já tão baixa que se julgaria impossível descer um pouco mais.
Quando o segredo de justiça já se tornou uma anedota, deixando a impressão que o seu desrespeito não seria possível sem a colaboração ativa ou, pelo menos, passiva de quem dele deveria cuidar e ser o seu guardião e defensor, eis que, mais do que os “pormenores” mais delicados e mediáticos dos processos, vêm a público, com grande pompa e circunstância, revelações da vida particular de responsáveis públicos que nem suspeitos são… apesar de aparecerem em escutas tão insistentes e duradouras que mais parecem espionagem e devassa da vida privada ou reservada. E quando se esperava um clamor generalizado de toda a classe política eis que surgem, os que já são habituais pela sua apetência para navegar em atoleiros, reclamar a urgência nacional e imperativa de ter de levar ao Parlamento o ex-Primeiro Ministro porque, pasme-se, o que disse em público não coincide com o que terá afirmado em privado. E quem bate no peito e rasga as vestes é quem, sem ensaiar, sem se retratar já disse, a propósito do que quer que seja, tudo e o seu contrário. Mas, mesmo que assim não fosse, não resisto a desafiar quem quer que seja a submeter-se a um polígrafo para avaliar, nas mais diversas matérias, as inúmeras contradições com as conversas reservadas e as declarações afirmativas sobre coisas importantes ou apenas banais.
Já sobre os tratamentos de favor, a existirem, devem, obviamente, ser investigados e escalpelizados e, havendo procedimentos ilegais, abuso de poder ou indícios de corrupção, tráfico de influências e compadrio, tratar de os expor e condenar, se condenáveis. Porém, mesmo nestes casos, não vale tudo. Sem querer tomar o partido de quem quer que seja, só por si, o ensejo de um governante querer ser útil e responder afirmativamente a um pedido dramático de que tenha conhecimento, não pode ser condenado, logo à partida. Mas, mais grave que isso, mais desprezível, mais mesquinha, mais indigna é a avidez de querer explorar o sofrimento alheio, para proveito próprio e descrédito de putativos adversários, como aconteceu com a chamada para depor na Assembleia da República, de Daniela Martins, a mãe das famosas gémeas brasileiras. Antes de me insurgir contra a duvidosa utilidade de ter uma pessoa sofrida e sofredora a ser bombardeada com perguntas inquisitórias sobre a legalidade do seu comportamento, sobre a justeza da sua luta pela saúde dos seus entes mais queridos não posso deixar de fazer um desafio a todos e cada um dos meus leitores: identifiquem uma, apenas uma, mãe que, perante o drama de ter duas filhas bebés, vítimas de uma doença terrível, incapacitante e degenerativa, não se propusesse fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance para lhe minorar o sofrimento. Esse deveria ser o primeiro passo, o exame qualificativo de quem quer que seja, que, no café, no jardim, no emprego ou na Assembleia da República, tivesse de apresentar para a poder interrogar sobre o seu empenho, a sua determinação, a sua luta. Em nome de quem é que um deputado da nação a questiona, com considerações de juízo reprobatório sobre a existência de uma mensagem eletrónica a agradecer a alguém que,,, pasme-se… nem conhecia.
É assim tão inverosímil?
Não creio.
Quando o segredo de justiça já se tornou uma anedota, deixando a impressão que o seu desrespeito não seria possível sem a colaboração ativa ou, pelo menos, passiva de quem dele deveria cuidar e ser o seu guardião e defensor, eis que, mais do que os “pormenores” mais delicados e mediáticos dos processos, vêm a público, com grande pompa e circunstância, revelações da vida particular de responsáveis públicos que nem suspeitos são… apesar de aparecerem em escutas tão insistentes e duradouras que mais parecem espionagem e devassa da vida privada ou reservada. E quando se esperava um clamor generalizado de toda a classe política eis que surgem, os que já são habituais pela sua apetência para navegar em atoleiros, reclamar a urgência nacional e imperativa de ter de levar ao Parlamento o ex-Primeiro Ministro porque, pasme-se, o que disse em público não coincide com o que terá afirmado em privado. E quem bate no peito e rasga as vestes é quem, sem ensaiar, sem se retratar já disse, a propósito do que quer que seja, tudo e o seu contrário. Mas, mesmo que assim não fosse, não resisto a desafiar quem quer que seja a submeter-se a um polígrafo para avaliar, nas mais diversas matérias, as inúmeras contradições com as conversas reservadas e as declarações afirmativas sobre coisas importantes ou apenas banais.
Já sobre os tratamentos de favor, a existirem, devem, obviamente, ser investigados e escalpelizados e, havendo procedimentos ilegais, abuso de poder ou indícios de corrupção, tráfico de influências e compadrio, tratar de os expor e condenar, se condenáveis. Porém, mesmo nestes casos, não vale tudo. Sem querer tomar o partido de quem quer que seja, só por si, o ensejo de um governante querer ser útil e responder afirmativamente a um pedido dramático de que tenha conhecimento, não pode ser condenado, logo à partida. Mas, mais grave que isso, mais desprezível, mais mesquinha, mais indigna é a avidez de querer explorar o sofrimento alheio, para proveito próprio e descrédito de putativos adversários, como aconteceu com a chamada para depor na Assembleia da República, de Daniela Martins, a mãe das famosas gémeas brasileiras. Antes de me insurgir contra a duvidosa utilidade de ter uma pessoa sofrida e sofredora a ser bombardeada com perguntas inquisitórias sobre a legalidade do seu comportamento, sobre a justeza da sua luta pela saúde dos seus entes mais queridos não posso deixar de fazer um desafio a todos e cada um dos meus leitores: identifiquem uma, apenas uma, mãe que, perante o drama de ter duas filhas bebés, vítimas de uma doença terrível, incapacitante e degenerativa, não se propusesse fazer tudo quanto estivesse ao seu alcance para lhe minorar o sofrimento. Esse deveria ser o primeiro passo, o exame qualificativo de quem quer que seja, que, no café, no jardim, no emprego ou na Assembleia da República, tivesse de apresentar para a poder interrogar sobre o seu empenho, a sua determinação, a sua luta. Em nome de quem é que um deputado da nação a questiona, com considerações de juízo reprobatório sobre a existência de uma mensagem eletrónica a agradecer a alguém que,,, pasme-se… nem conhecia.
É assim tão inverosímil?
Não creio.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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