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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 22 de junho de 2024

O POTE DE AZEITE

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Gil Vicente, no auto de Mofina Mendes, conta-nos a aventura de pegureira: a pastora era descuidada, Payo Vaz vai despedi-la; mas generoso, apesar do mau serviço prestado, resolve dar-lhe pote de azeite para ir vendê-lo na feira.
Mofina Mendes, contente com a recompensa, não merecida, começa a cantar de alegria, bailando com o pote de azeite sobre a cabeça, dizendo: que vai a Trancoso vende-lo e, com o dinheiro arrecadado, comprara ovos de pata. Criando patos ficará rica e bem casada.
Dançando, elevada, cai-lhe o pote, e entorna-se o azeite.
Daqui se recolhe duas magnificas lições: o dinheiro malganho e mal merecido, em regra, não trás felicidade; e que a vida é feita de sonhos, ilusões e desilusões.
Somos todos um pouco Mofina Mendes:
Na infância, fantasiam-se risonhos futuros: tudo parece ser fácil de obter.
Na adolescência, projeta-se carreiras de sucesso. Sonha-se ser rico, importante, dono de belo carro e, casa confortável.
Mas os anos rolam, voam; surgem dolorosos acúleos, abrolhos e dissabores...
Chega por fim o almejado casamento, o fim da busca pela alma gémea, em que se coloca todos os anseios. Mas, quantas vezes só nos traz amargas deceções.
Por fim surgem os filhos. Imagina-se neles poder realizar os projetos que não se pode ou não se soube realizar.
Ternamente amamo-los, ainda que por vezes não mereçam; mas, acabam por apartarem-se e, muita sorte se tem, se não se envergonham dos progenitores...
E assim chega a velhice, a decadência do espírito e do corpo, e amargamente se verifica, que pouco ou nada se conseguiu do que foi sonhado.
Então, triste, desiludido, verifica-se que, também, o nosso " pote de azeite", se partiu...

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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