Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Altos voos requerem altos compromissos. É natural. Foi assim com o Homem Aranha e nada de relevante, a este nível, mudou, mais de meio-século depois. Numa altura em que tanto se fala de ética seria bom olhar para este “exemplo” que vários gurus e manuais sobre moralidade referem e apontam como um pilar do ideário normativo de todos os que devem, pela sua atividade ou poder, reger a sua vida por principios de elevado valor deontológicos.
Qualquer um que se proponha governar, em nome da comunidade que pretende representar, direitos e recursos comuns tem de elevar a fasquia comportamental ao nível correspondente e mantê-la lá, de forma estável e não permitir a sua flutuação ao sabor das conveniências.
É conhecido e reconhecido (porque muitas vezes lembrado e repetido, tantas quantas as oportunas) o lema de que o que é feito ao nível local é melhor, mais eficaz e com menores custos. É esse o racional que está por trás da reclamada (e justa, diga-se) descentralização do poder público. É esse o preceito que suporta princípio da subsidiariedade que garante que só deve passar para um nível superior o que não puder ser feito bem a um inferior. Vem isto a propósito da recente determinação impositiva, como deve ser, de obrigar à limpeza das matas que circundam as povoações e que são, sem qualquer margem para dúvida, o melhor anel de defesa contra os terríveis fogos de verão, cada vez mais perigosos e fatais. Ora aí está uma atividade que facilmente se credita ao poder local, no balanço do deve e haver da subsidiariedade. E contudo assistimos, perplexos, a uma reação unânime de recusa dos autarcas para esta tarefa. Que não há tempo e que não têm meios. A perplexidade começa pela unanimidade. Haverá certamente casos mais difíceis e complexos. Mas não há a menor dúvida que os há simples e óbvios. Então porquê a recusa imediata e sindicalizada? É perfeitamente credível que os custos da operação sejam elevados. Cuidado portanto com o efeito bumerangue: todos estão lembrados de ouvir os eleitos municipais garantir que os empreendimentos, localmente são feitos melhor, mais rapidamente a a mais baixo preço. Portanto se os mesmos garantem que esta tarefa, se autárquica, é complexa, morosa e cara... imagine-se como será, feita centralmente! E contudo é algo que TEM DE SER FEITO!
É certo que o ministro ao recomendar o corte nas festas e romarias estava a ser demagógico e populista. Mas isso não se combate com mais do mesmo. Não basta “denunciar” o ministro. Não chega dizer que não existem meios. Se os programas das festas e das feiras da moda, continuarem sem qualquer corte significativo, desaparece toda a moralidade para acusar o ministro!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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