Pauliteiros de Miranda |
Foi há 20 anos que o Mirandês ganhou o estatuto de segunda língua oficial do país. Tão antigo como o português, aquele que começou por ser considerado um dialecto, é falado por cerca de 15 mil pessoas. O mirandês, ou língua mirandesa, é o nome de uma língua falada no Nordeste de Portugal, já desde antes da fundação da nacionalidade portuguesa. Quanto à estrutura é uma língua românica, que teve a sua principal origem a partir do latim. Historicamente pertence à família de línguas asturo-leonesas, onde também se incluem o asturiano e o leonês.
Miranda do Douro |
Até 1884 foi uma língua apenas oral. Desde então, tem sido também escrita, dispondo de uma Convenção Ortográfica desde 1999. Nomeadamente a partir do século XVI e apesar de ser uma língua falada em Portugal desde o começo da sua existência, o mirandês é uma língua menorizada quer em termos culturais e sociológicos quer em termos políticos, levando a que Portugal fosse apresentado, até há muito pouco tempo, como o único país monolingue da Europa, afinal falsa excepção à regra do bilinguismo ou multilinguismo dos diversos países.
Mas como se diz “Portugal” em mirandês?
O termo para identificar Portugal, na língua mirandesa, é Pertual. A título de curiosidade, Europa é Ouropa, país é paíç, hoje é hoije e império é ampério. Se tem curiosidade em perceber as semelhanças entre o português e o mirandês, tente compreender este pequeno excerto sobre Portugal retirado da página oficial da Wikipédia em língua mirandesa:
“Pertual, oufecialmente República Pertuesa (República Portuguesa an pertués),[1][2] ye un paíç localizado ne l sudoeste de la Ouropa, an que l sou território queda na zona oucidental de la Península Eibérica i an arquipélagos ne l Atlántico Norte. Ten ua ária total de 92.391 km², i ye la nacion más oucidental de l cuntinente ouropeu. L território pertués ye delimitado la Norte i la Leste por Spanha i la Sul i Oeste pul Ouceano Atlántico, i cumprende la parte cuntinental i las regiones outónomas: ls arquipélagos de l Açores i de la Madeira.
Durante ls seclos XV i XVI, Pertual fui ua poténcia mundial eiquenómica, social i cultural, custituindo-se l purmeiro i l más duradouro ampério quelonial de amplitude global. Ye hoije un paíç zambolbido, eiconomicamente próspero, social i politicamente stable i cun Índice de Zambolbimiento Houmano eilebado. Ancontra-se antre ls 20 paízes de l mundo cun melhor culidade de bida,[6] anque l sou PIB per capita ser l menor antre ls paízes de la Ouropa Oucidental. Ye nembro de las Naciones Ounidas i de la Ounion Ouropeia (na altura de la sue adeson an 1986, CEE), i nembro-fundador de la NATO, de la OCDE, i de la CPLP. Partecipa an dibersas missones de manutençon de paç de las Naciones Ounidas.”
E como soa a música mirandesa?
A língua mirandesa está viva entre a população mais idosa das aldeias de Miranda do Douro. A transmissão da língua foi, ao longo dos séculos, feita sobretudo de forma oral e usada na música tradicional da região. A música foi, aliás, uma das grandes responsáveis pela manutenção do mirandês ao longo destes séculos como língua mais usada pelos mirandeses. Ouça os Galandum Galandaina a canta em Mirandês a música “Nós tenemos muitos nabos”.
A língua mirandesa é falada em todas as aldeias do concelho de Miranda do Douro, com excepção de duas (Atenor e Teixeira), e em três aldeias do concelho de Vimioso (Vilar Seco, Angueira e Caçarelhos), no distrito de Bragança. O mirandês foi, apressadamente, dado como extinto em aldeias como Caçarelhos, porém, apesar de muitíssimo debilitado, continua aí a ser falado por pessoas de idade. A área ocupada pela região onde se fala o mirandês tem à volta de 500 km2 de superfície e situa-se na fronteira com a província espanhola de Zamora (Aliste e Sayago). O mirandês é também falado por muitos mirandeses que imigraram para as principais cidades do país ou que emigraram para o estrangeiro.
Miranda do Douro - Rui Videira |
Na cidade de Miranda do Douro, onde segundo alguns autores deixou de se falar mirandês no início do século XVII, a língua tem vindo a regressar com as pessoas das aldeias que, nos últimos anos, aí têm vindo a fixar residência. Também desde há alguns anos as crianças da cidade usufruem do ensino da língua mirandesa nas escolas públicas. Apesar disso, a fala mirandesa não é de uso normal na cidade, mas sim o português e, dada a quantidade de turistas espanhóis que a visitam para fazer compras ou simplesmente comer, o castelhano. Daí que, para se ouvir falar mirandês, a cidade de Miranda do Douro não seja o local adequado, razão porque são apressadas e sem fundamento as conclusões que apontam para a extinção do mirandês pelo facto de não se falar na cidade que é capital administrativa da terra de Miranda.
Museu da Terra de Miranda |
O espaço onde se falou mirandês ou outras variedades do astur-leonês já foi bastante mais vasto, incluindo, em traços gerais e grosseiros, toda a zona do distrito de Bragança que se situa entre a margem esquerda do rio Sabor e a fronteira com Espanha. Terá sido assim na Alta Idade Média, regredindo progressivamente em direcção à fronteira. Além do mirandês, outras falas astur-leonesas se mantiveram até há pouco tempo na zona fronteiriça do concelho de Bragança, chamada Lombada, em particular nas aldeias de Rio de Onor, Guadramil, Deilão e Petisqueira. Porém, a fala leonesa tem sido dada como extinta nestas aldeias, embora não seja totalmente clara a situação de Rio de Onor.
Castelo de Miranda do Douro |
Apesar de já não se falar mirandês nessa região mais vasta, ainda pode falar-se de uma cultura comum, em particular na área correspondente à medieval Terra de Miranda (concelhos de Miranda do Douro, Vimioso, Mogadouro e parte dos concelhos de Freixo de Espada à Cinta, de Bragança e de Macedo de Cavaleiros), cultura essa que se manifesta pelo ar de família que o vocabulário usado continua a manter, pela fonética e muitas construções sintácticas do português falado nessa zona, pela similitude de festas, tradições, música e dança.
Vortex Magazine
Informações preciosas!
ResponderEliminarDesde meu primeiro contato, eu sempre quis saber se havia o fator música, utilizando o Mirandes. Aqui, em Pindorama, "terra brasilis", o dialeto Caipirês foi mantido pela música caipira. As primeiras gravações datam de 1910, alavancadas pelo pioneiro Cornélio Pires, que localizou artistas do povo, compôs ele mesmo algumas músicas (além de peças de teatro /circo), negociou com empresas gravadoras, pagou do próprio bolso as gravações, comprou tempo em emissoras de rádio e pagou transporte e estadia para os artistas populares.
Desculpem -me pela prolixidade, mas eu amo o Caipirês e o Mirandes.
Antônio Santos-ACAS