Dezenas de anos depois de morto, ainda era recordado pelos seus concidadãos, com esta expressão – O Justo. Foi também esta a palavra que me pareceu mais apropriada para recordar o meu compatriota, jornalista Rogério Rodrigues, recentemente falecido. Talvez por isso mesmo, gostei muito de ouvir o Sr. Presidente da República repetir por 3 ou 4 vezes a palavra justo, referindo- -se a Tiago Rodrigues, filho do Rogério, dizendo-o: - Justo vencedor do prémio Pessoa; justo vencedor enquanto encenador; justo vencedor enquanto dramaturgo; justo vencedor enquanto autor e promotor teatral (…) e sobretudo, um justo vencedor enquanto ativíssimo agregador de talentos e vontades.
Gostei também de ouvir a rápida conversa entre a locutora da SIC, Débora Henriques e Tiago Rodrigues, salientando este “o caráter coletivo e simbólico” do prémio, que distingue “a qualidade e diversidade do teatro português”. Vem tudo isto a propósito da cerimónia de entrega do Premio Pessoa 2019 a Tiago Rodrigues, ator, dramaturgo, encenador, produtor teatral e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, realizada no passado dia 9 de Junho, na Fortaleza de Cascais. Trata-se do maior galardão atribuído em Portugal a uma pessoa que anualmente se distingue na vida científica, artística e literária do país, instituído pelo jornal Expresso.
É um prémio não estatal e, talvez por isso, Tiago disse acreditar que haja uma mudança “na forma como a sociedade civil, em Portugal, está atenta à cultura” e acrescentou com um recado ao poder político: - É urgente que a cultura seja um desígnio prioritário. Palavras simples, mas que devem ser bem pesadas, sobretudo nestes tempos de pandemia em que a o setor da cultura é mais atingido do que qualquer outro.
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o premiado esteve quase para ser jornalista. Na verdade, foi como jornalista que eu o conheci, bem jovem ainda, em Torre de Moncorvo, escrevendo um texto sobre Jorge Luís Borges para o extinto jornal “Primeiro de Janeiro”.
Mas foi em 2009, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, que fui tocado pela magia poética e de ator, de Tiago Rodrigues, ao recitar a sua “Biografia”, inserta num pequeno/grande livro – “TORRE DE MONCORVO Março de 1974 a 2009” e que termina deste moto: E em último lugar Gostava de ser enterrado, sem missas nem cruzes No talhão dos bombeiros No cemitério dos prazeres E se os bombeiros não deixarem Ou já não houver espaço Então quero ser cremado sem missa à mesma E ser colocado dentro de um pote aos pés da campa de Fernando Assis Pacheco Que também lá está nos prazeres E no pote uma inscrição: “está aqui porque os versos dele não chegavam aos calcanhares dos versos do Assis” em baixo um nome umas datas e obrigados.
Tiago Rodrigues e Campos Monteiro são os dois nomes de “Filhos de Moncorvo” – perdoe-se-me a expressão – que ganharam nome a nível nacional, em termos de Teatro. Tiago é um jovem, Campos Monteiro faleceu há muito e celebrizou-se no primeiro quartel do século XX. Depois de morto, erigiram-lhe um busto em um Largo a que deram também o seu nome.
Curiosamente, enquanto Portugal distinguia Tiago Rodrigues com o Prémio Pessoa, na Torre de Moncorvo retiraram do seu sítio aquele busto e o seu pedestal! Certamente o fizeram com a melhor das intenções (para escoar águas ou limpar as pedras de granito e o bronze! – ouvi dizer), mas com tremenda falta de respeito para com gerações de Moncorvenses. Bom: sejamos compreensivos. Errar é humano. Espero que rapidamente o pedestal e o busto regressem ao seu sítio, sob pena de encarar o ato como um atentado a História e à Cultura da Minha Terra.
Ps. Utilizei a letra maiúscula para escrever Minha, não por vaidade nem por considerar mais minha do que dos outros, mas porque queria recordar o livro mais querido dos Moncorvenses – Ares da Minha Serra – escrito por Campos Monteiro.
António Júlio Andrade
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