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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

“Trabalhar desde Palaçoulo obriga-nos a ser proativos” – Alberto Martins

 A Cutelaria Martins, sediada em Paçaçoulo, celebrou 70 anos de atividade. Fundada por José Maria Martins, um antigo ferrador que para agir contra a sazonalidade desta profissão e a posterior mecanização da agricultura, acabou por se dedicar por inteiro à arte da cutelaria. O ofício foi depois continuado pelos seus filhos, entre os quais o atual gestor, Alberto Martins, que com o passar dos anos modernizaram a empresa e deram a conhecer as navalhas de Palaçoulo, ao mundo inteiro.

Terra de Miranda – Notícias: Ao longo destes 70 anos de atividade, que grandes mudanças e transformações aconteceram na cutelaria Martins?

Alberto Martins: Na década de 1980, com a integração dos filhos de José Maria Martins na empresa, as instalações foram ampliadas, houve um investimento significativo na aquisição de equipamento e reforçou-se a equipa de trabalho, à qual foi transmitido o “saber fazer” adquirido ao longo dos anos. Esta modernização da empresa permitiu ajustar a capacidade produtiva ao escoamento dos produtos.

T.M.N.: A mecanização da empresa não retirou o caráter artesanal dos vossos produtos?

A.M.: Não, mesmo com a introdução de máquinas no processo produtivo, cada peça produzida na Cutelaria Martins é trabalhada e supervisionada manualmente. Do ponto de vista comercial, esta qualidade é reconhecida pelo público, que considera os nossos artigos como peças de grande qualidade e valor.

T.M.N.: Quantas pessoas trabalham na cutelaria Martins e quais são os vossos produtos?

A. M.: Atualmente trabalham na empresa 24 pessoas e fabricamos três tipologias de produtos: as navalhas, as facas e talheres. No nosso volume de negócios, as navalhas são as que têm maior preponderância. Por isso, fabricamos diversos modelos destinados a vários nichos de mercado. Por exemplo, hoje em dia é possível encontrar um produto da cutelaria Martins numa livraria, no merchandising de uma cantora australiana ou nos brindes-empresa dos pilotos da Red Bull e da multinacional Bayer, que recorre aos nossos produtos para comunicar a sua marca. Para tal, procuramos ser uma referência, na apresentação das nossas peças em caixas de cartão ou de madeira personalizadas. Também o souvenir ou a lembrança de um local ou região é outro nicho de mercado que procuramos explorar.

“Hoje em dia é possível encontrar um produto da cutelaria Martins numa livraria, no merchandising de uma cantora australiana ou nos brindes-empresa dos pilotos da Red Bull e da multinacional Bayer, que recorre aos nossos produtos para comunicar a sua marca.”

T.M.N.: Nas montarias ao javali ou nos passeios pedestres que se realizam nesta região é muito comum os participantes receberem como lembrança uma navalha de Palaçoulo.

A. M.: Sim, porque estes objetos também são uma marca identitária da região. Antigamente, dizia-se que no mundo rural uma navalha era uma terceira mão, pois tanto permitia enxertar a vinha na atividade agrícola, como servia para cortar o pão, o presunto e o queijo.

T.M.N.: Para onde vendem as navalhas, facas e os talheres da cutelaria Martins?

A. M.: Fazemos vendas para vários países, mas o mercado ibérico continua a ser o principal destino dos nossos produtos. Atualmente, também se regista um crescimento das vendas no sul de França, no âmbito dos souvenires. Durante a pandemia realizamos uma reflexão e decidimos lançar uma linha de peças temáticas, dirigidas a áreas como a caça, a pesca, a agricultura, o ciclismo, o motard, o cavalo, a vinha e o vinho, entre outras áreas, que nos permitem entrar em diversos nichos de mercado.

Durante a pandemia realizamos uma reflexão e decidimos lançar uma linha de peças temáticas, dirigidas a áreas como a caça, a pesca, a agricultura, o ciclismo, o motard, o cavalo, a vinha e o vinho, entre outras áreas, que nos permitem entrar em diversos nichos de mercado.

T.M.N.: A inovação ou a criação de novos produtos é por isso uma aposta da vossa empresa?

A.M.: Sim, a inovação é o nosso maior argumento. Por um lado, permite ajustarmo-nos aos interesses do público nos vários nichos de mercado. E por outro lado, leva-nos a desbravar terreno e a descobrir novos potenciais mercados. A inovação pode ser feita ao nível do design dos produtos, mas também da metodologia e da eficiência nos processos produtivos e na tecnologia utilizada que traz melhor e maior capacidade produtiva. Arrisco dizer que uma empresa ou unidade de produção sem inovação está estagnada.

T.M.N.: Inovação mas sempre ligada à tradição.

A.M.: Sim, porque por mais conhecimento e inovação que haja, é importante lembrar a origem e a história da empresa. Volto a lembrar que a Cutelaria Martins foi construída em cima de uma carta ou licença de Ferrador, seguida de muitos anos de trabalho, de resiliência e de foco. Foi graças ao trabalho desenvolvido pelos nossos antepassados que chegamos ao presente e continuamos a projetar o futuro, com responsabilidade.

T.M.N.: Porque razão afirma que os produtos da Cutelaria Martins têm alma, história e identidade?

A.M.: Porque no fabrico das nossas navalhas há uma matriz que nos foi legada: um punho em madeira, um anel e uma lâmina em inox. Já me perguntaram porque não fabricamos canivestes suiços, ao que respondi que esse objeto não é transmontano. Todos os nossos produtos refletem a identidade e a história do povo transmontano.

A inovação pode ser feita ao nível do design dos produtos, mas também da metodologia e da eficiência nos processos produtivos e na tecnologia utilizada que traz melhor e maior capacidade produtiva.

T.M.N.: A cutelaria Martins está instalada em Palaçoulo, no interior do país. Esta localização é uma dificuldade acrescida ou não?

A.M.: Estarmos localizados no interior do país tem algumas desvantagens como a dificuldade de acesso ao conhecimento técnico e a criação de sinergias empresariais. No entanto, sou da opinião que devemos otimizar as circunstâncias, ou seja, ver também as vantagens desta localização. E uma das vantagens é estarmos mais próximos dos mercados europeus, desde logo da vizinha Espanha. Paradoxalmente, outra vantagem é a obrigatoriedade de produzir todos os componentes dos nossos artigos: as lâminas, os anéis e os punhos, o que no final torna as nossas peças diferenciadas e de valor acrescentado. Bem vistas as coisas, este trabalho acrescido desde Palaçoulo não nos deixa acomodar, obriga-nos a ser proativos e dá-nos uma maior capacidade de resposta aos desafios.

Outra vantagem de estarmos localizados no interior do país é a obrigatoriedade de produzir todos os componentes dos nossos artigos: as lâminas, os anéis e os punhos, o que no final torna as nossas peças diferenciadas e de valor acrescentado.


T.M.N.: O fundador da Cutelaria, José Maria Martins falecido em 7 de abril de 2016 deixou como principal legado os valores da simplicidade, lealdade e congruência. São estes os valores que continuam a nortear a empresa?

A.M.: Sim, estes valores são uma escola de vida. Na convivência com o meu pai aprendemos a praticar estes valores, assim como a honestidade, o respeito e o compromisso ou a honra para com os clientes.

T.M.N.: A localidade de Palaçoulo, através das várias empresas aqui sediadas, é um raro exemplo de como é possível agir contra o despovoamento e fixar a população. Na sua opinião, que outras empresas poderiam ter sucesso nesta região?

A.M.: Os exemplos vêm antes das empresas. Lembro-me do meu pai afirmar que se não tivesse enveredado pela área da cutelaria, teria criado uma empresa de calçado. E eu não duvido que teria sido bem sucedido. Porque era uma pessoa com valores, comprometido e muito focado. São estas as condições determinantes para ser bem sucedido em qualquer empresa ou tarefa, por mais simples e rotineira que seja. Sobre a realidade empresarial de Palaçoulo, estou convencido que o meu pai e as outras pessoas da sua geração, que desenvolveram empresas nas áreas da cutelaria, da tanoaria e mais tarde da serralharia são verdadeiros heróis, pelas adversidades que superaram e as boas práticas que implementaram e transmitiram às gerações seguintes.

“Os exemplos vêm antes das empresas. Lembro-me do meu pai afirmar que se não tivesse enveredado pela área da cutelaria, teria criado uma empresa de calçado. E eu não duvido que teria sido bem sucedido. Porque era uma pessoa com valores, comprometido e muito focado.”

Perfil

Alberto Afonso Martins

É licenciado em Assessoria de Administração pelo ISLA, Lisboa: e frequenta um um Mestrado em Marketing – Universidade Portucalense.

Desde 2014 é membro da Gerência, com a função de Diretor Geral da José Maria Martins – Cutelaria Tradicional de Palaçoulo, Lda.; acumula a responsabilidade da comunicação de conteúdos e publicações (Redes sociais e página Web) da Cutelaria Martins

Entre 2008  e 2014, foi o responsável pela definição e aplicação do plano de reposicionamento estratégico, da inovação e do marketing da Cutelaria Martins.


HA

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