Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Mark Twain garantiu que a história não se repete, mas rima, provavelmente para adequar a máxima atribuída a Confúcio: “Se queres prever o futuro, estuda o passado!” Mesmo sem garantia de qualquer bola de cristal, os políticos, a quem o futuro muitas vezes resolve surpreender, deveriam olhar para o passado tendo em vista abrir uma janela, mesmo que fosca, sobre o porvir. É, aliás, para condicionar os sufrágios vindouros que muitos eleitos em fim de ciclo, renunciam ao mandato deixando o seu lugar ao pretenso sucessor para que este possa usar, em seu proveito, as vantagens associadas à condição de incumbente.
Porém, não é a mesma coisa porque um novo ciclo, com um novo protagonista normalmente, requer uma nova liderança, e, não raro, numa rutura clara e percetível, nem sempre fácil. Veja-se o caso recente de Pedro Nuno Santos que andou toda a campanha a balançar entre a necessidade de afirmar um programa novo e diferente, para o país, sem querer renegar a herança dos governos de António Costa. Não há forma de garantir que uma rutura clara lhe tivesse granjeado melhor resultado. Há quem pense que se tivesse podido tomar-lhe o lugar, antes das eleições, teria sido bem melhor. Com Santana não foi, bem pelo contrário!
Em vésperas de autárquicas olhemos para os registos distritais, mais recentes. Quem recebeu, de bandeja, a presidência da Câmara teve sucesso no escrutínio imediato, mas não garantiu o e esperado ciclo de três mandatos. Veja-se o que aconteceu em Carrazeda, Macedo, Mirandela e Vila Flor. Veremos o que acontece em Alfândega da Fé. Para já a atenção volta-se para Moncorvo e Bragança onde os edis em fim de mandato renunciaram deixando os seus lugares nas mãos dos seus vices. Apesar de terem a mesma origem, os processos são substancialmente diferentes.
Enquanto Paulo Xavier se impôs, desde o início do ciclo de três mandatos e integrou a equipa autárquica sempre no segundo lugar, José Meneses, apesar de ser, desde a primeira hora, o maior e mais fiel apoiante do ex-presidente, apenas fez parte da lista na última candidatura e só ascendeu à vice-presidência depois da desistência do inamovível Vítor Moreira. O que, ao contrário do que possa parecer, não é uma desvantagem. A rutura com a anterior gestão autárquica, já iniciada pelo atual presidente, de forma inteligente, passando pelo necessário aumento de transparência e suavização de fraturas inúteis e desgastantes acabou por receber um contributo positivo na forma miserável como foi deixado “suspenso”, durante meses, apenas para dar cumprimento a um reles capricho do agora deputado, desde que não caia na tentação de exagerar na vitimização. Na arte, ciência e cultura bastará, no meu entendimento, cumprir com os mínimos.
É, precisamente, na cultura, arte e ciência que reside o maior desafio do ocupante da cadeira presidencial do forte de S. João de Deus, em Bragança. Por três razões: em primeiro lugar, na capital do distrito essa área assume, naturalmente, uma importância acrescida numa larga franja do eleitorado; em segundo porque é grande a probabilidade de aparecer, a disputar-lhe o lugar, alguém com créditos firmados, nessa matéria; por último, e não menos importante, os vários executivos a que pertenceu, liderados pelo agora Secretário de Estado, neste campo, não fez nada de relevo, limitando-se a cuidar da grande herança recebida de Jorge Nunes não tendo sequer conseguido, até agora, concretizar o maior projeto em curso – O Museu da Língua.
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
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