A Cooperativa Agropecuária Mirandesa (CAM) está a sentir o impacto do embargo da Rússia aos produtos agropecuários ocidentais, país com o qual matinha relações comerciais, e para o qual exportava subprodutos de carne bovina mirandesa.
"Com o embargo da Rússia perdemos mercado naquele país, principalmente, em produtos ultracongeladas como dobradas, rins, coração ou mão de vaca que vendíamos para este mercado, tudo o que era produzido neste segmento ", disse hoje à Lusa o administrador da CAM, Nuno Paulo.
A CAM iniciou a exportação de carne de bovino de raça mirandesa para a Rússia, país que começou a dar "nota positiva" a esta raça autóctone do Nordeste Transmontano no início das transações comerciais, com cerca de 30 toneladas de produtos congelados.
"Desde a anexação da Crimeia e do conflito no Leste da Ucrânia que começamos a sentir quebras das exportações, já que havia encomendas fixas e estas ficaram de imediato bloqueadas. Os negócios começaram a correr mal no início do corrente ano, já que apenas fizemos uma venda em janeiro e pouco mais", acrescentou o responsável.
A informação foi avançada no decurso do Concurso Nacional de Raça Bovina Mirandesa que hoje termina em Miranda do Douro e que juntou mais de duas centenas de animais desta raça autóctone.
O responsável da cooperativa adiantou ainda que há encomendas feitas que não podem ser despachadas devido ao embargo em vigor.
Assim, os responsáveis pela CAM já anunciaram que vão começar a procurar outros mercados para os produtos que eram exportados para aquele mercado.
As exportações para a Rússia eram feitas através de uma plataforma comercial existente no Luxemburgo e o retorno estava-se a revelar "muito promissor", explicou Nuno Paulo.
Segundo o responsável, os russos estavam a "render-se" ao paladar desta carne produzida e embalada na região de Trás-os-Montes.
Outros do produtos comercializados para a Rússia, "por via indireta", eram as gorduras e os ossos das carcaças de animais de raça bovina mirandesa para a confeção de rações para animais.
Países como Angola ou o Dubai já fazem parte da lista de clientes da carne mirandesa.
No mercado europeu, a CAM já exporta de forma regular carne para países como a França.
O mercado francês já representa cerca de oito por cento das vendas de carne mirandesa da cooperativa, que atualmente comercializa mais de 2.500 carcaças por ano.
O Solar da Raça Mirandesa, que engloba os concelhos nordestinos de Miranda do Douro, Vimioso, Mogadouro, Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais, dispõe de um efetivo pecuário de cerca de 4.000 vacas.
Espalhados por todo o país estão mais de 5.100 animais de raça bovina mirandesa, uma espécie autóctone protegida por denominação comunitária e que já esteve ameaçada de extinção.
Para satisfazer as necessidades do mercado externo será preciso aumentar o efetivo de animais e, para o efeito, é "importante incentivar os produtores a criarem mais animais", já que se trata de uma raça "com potencial de mercado", frisou o responsável da cooperativa.
Lusa
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