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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 5 de setembro de 2020

DO MIGUELISMO À INSTAURAÇÃO DEFINITIVA DO LIBERALISMO (1828-1834) - BRAGANÇA

O regresso de D. Miguel a Portugal em 22 de fevereiro de 1828 e a sua recusa em aceitar a Carta Constitucional vai estar na origem da Revolta Liberal do Porto, de 16 de maio de 1828, a qual, tendo fracassado, abriu caminho ao miguelismo e à repressão dos liberais que teriam participado e apoiado aquela.
D. Miguel I, Rei de Portugal que restaurou a Monarquia Absoluta

Bragança, que viu o seu regimento de Infantaria n.º 12 aderir à Revolta Liberal do Porto, vai ser palco de tumultos, pilhagens e ataques a casas, efetuadas por miguelistas e soldados que se encontravam, até então, refugiados em Espanha (prenderam alguns dos principais negociantes da Cidade, um dos quais foi assassinado), de tal modo que o juiz de fora de Bragança organizou uma “guarda de polícia de 60 homens, pagos pelos negociantes”.
Pouco depois, Bragança deu público testemunho do seu regozijo pelo insucesso da “monstruosa” rebelião do Porto e por lhes ter concedido para seu Rei o “amado, suspirado e idolatrado Senhor Dom Miguel”, escolhendo o dia de Assunção de Nossa Senhora, 15 de agosto, para tributar a Deus as ações de graça por tal benefício, que tiveram lugar na Igreja do Senhor Jesus de São Vicente.
Na véspera, repicaram todos os sinos da Cidade, iluminaram-se os prédios e houve fogo de-artifício. Os “Portugueses Bragantinos não degenerados” tiveram um dia cheio de júbilo, ouvindo o bispo de Bragança com um sermão que “assombrou o auditório”, e participando na procissão que, pela tarde, percorreu as ruas da Cidade, com a custódia, os respetivos andores e o retrato de D. Miguel transportado por dois vereadores municipais. À noite, houve um “magnífico espetáculo” oferecido por um comerciante portuense que tinha loja em Bragança.
Em 18 de outubro, o bispo de Bragança-Miranda dirige aos seus diocesanos uma pastoral, desta vez, em favor do Senhor Dom Miguel, comparado a algumas figuras da Bíblia como Moisés, Josué, Gedeão e David.
Um mês mais tarde, a 18 de outubro, é recebida por D. Miguel, no Palácio das Necessidades, em Lisboa, uma deputação da Câmara da Cidade de Bragança, para felicitar o Rei e lhe garantir a sua total fidelidade, lembrando que a sua cidade foi a primeira que na noite de 28 de julho de 1826, aclamou Miguel como “legítimo e absoluto Rei deste Reino”, e que, no dia 23 de novembro de 1828, ao entrar em Bragança, a Divisão Realista do marquês de Chaves viu habitantes do seu Município, aos milhares, “armados espontaneamente”, combaterem em defesa de D. Miguel.
“A sua Câmara, a atual” – garantiram os dois membros da deputação –, “não envolve no seu Corpo membro algum podre, corrompido, paralítico, gangrenado com as fatais ideias do século”, sendo constituída por membros fiéis ao trono e ao altar, “que nunca se bandearão com os rebeldes” – isto é, com os liberais.
Nas devassas levantadas por D. Miguel, na sequência desta revolução, surgiu um reduzido número de liberais do Concelho de Bragança, 25, considerados culpados, na sua maior parte militares ausentes, mas nenhum das freguesias rurais do Concelho. Benevolência do magistrado da devassa para com o núcleo liberal da Cidade, como pretende Monteiro Cardoso? Receio de afrontar a família dos Sepúlvedas e os negociantes de Bragança, dada a fluidez da situação política? Seja como for, não deixa de ser paradoxal, face aos saques de 1823 e 1826 da Cidade de Bragança – como já tinha acontecido, aliás, em 1808 –, o pequeno número daqueles que a devassa miguelista considerou como liberais.

Bragança, como o Reino, ficou assim, a partir de 1828, sujeita às autoridades miguelistas, o que não impediu a continuação de distúrbios e perseguições aos liberais. Por exemplo, em julho de 1830, aquando da festa da Senhora do Carmo, os soldados de Infantaria n.º 24 provocaram graves incidentes, aos gritos de “morram os judeus e malhados”, informando o juiz de fora que, segundo os miguelistas, a Cidade era “composta na maior parte, segundo dizem, de judeus”, a quem os militares e “quase todo o povo” tinham “grande aversão”.
Até 1834, quando se deu a implantação definitiva do liberalismo, Portugal conheceu uma repressão sanguinária, que obrigou à fuga de milhares de portugueses, se saldou por largas dezenas de portugueses executados, e está na origem da guerra civil que, entre 1832-1834, assolou o Porto, e logo de seguida, todo o Reino.

Em fevereiro de 1834, o tenente-general Avilez, que se encontrava detido em Bragança, fugiu para Alcanizes, Espanha. Em 18 de abril do mesmo ano, com o auxílio de forças militares espanholas, liberta Bragança do domínio miguelista, nomeia para corregedor da comarca José Marcelino de Sá Vargas, oriundo de uma família de origem judaica, e para juiz de fora de Bragança Agostinho Luís da Fonseca, um dos absolutistas da Cidade que acompanhara o marquês de Chaves no “saque de terrífica memória” de 23 de novembro de 1826. O bispo da Diocese de Bragança-Miranda, José António da Silva Rebelo, nomeado por D. Miguel, abandona a Diocese, o que vai dar origem a um cisma religioso que teve dolorosas repercussões no Nordeste Trasmontano.
Em 29 de abril do mesmo ano, o Presidente da Câmara, António Correia de Castro Sepúlveda, visconde de Ervedosa, promoveu na catedral de Bragança um Te Deumpela outorga da Carta Constitucional.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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