A existência da pintura já tinha sido trazida a conhecimento pelo cónego Belarmino Afonso, natural do concelho de Mogadouro. Na década de 80, publicou na revista “Brigantia”, da qual foi diretor, que em Agrochão existia aquele mural. Segundo avançava na publicação, a pintura aparecera casualmente, ao remover o pequeno altar-mor, para obras de restauro e consolidação. Agora, segundo avançou o pároco da aldeia, Paulo Pimparel, a descoberta deu-se nas mesmas circunstâncias. “Este achado decorre de um trabalho que foi necessário fazer de restauração do altar. Se recuarmos à década de 80, numas obras realizadas pelos populares ao altar-mor, tanto quanto sei e averiguei junto da comunidade, constatou-se a existência dessas pinturas, mas a sensibilidade era a que era e, portanto, o altar voltou a ser colocado e as pinturas resguardadas atrás dele”.
Para uns foi uma descoberta mas para outros foi apenas a confirmação de algo que ali estava. O padre garante não ter mais dados sobre o assunto mas afirma que a comunidade da aldeia ficou satisfeita. “Quando as redescobrimos, porque eu próprio como pároco tinha um felling de que elas existiam, porque fui conhecedor do artigo, trouxe-nos a todos uma felicidade muito grande”
Ao contrário do que aconteceu na década de 80, agora a pintura ficará à vista de quem ali passar. “Não é fácil estar a imaginar o que as pessoas na altura sentiam e decidiram. Agora, o que é importante é valorizar o presente. Vamos elaborar um plano de recuperação. A pintura ficará disponível para ser admirada. Quanto ao altar, haveremos de encontrar outra forma de o colocar na mesma capela”, confirmou o pároco.
Joaquim Caetano, especialista nesta vertente da arte sacra, está a colaborar com o Centro de Conservação e Restauro da Diocese de Bragança-Miranda para analisar e tratar a pintura. Segundo avançou, uma pintura mural atrás de um retábulo não é algo inédito no país. “A pintura desta época, se chegou até nós foi porque ficou escondida atrás de retábulos. Aquilo que foi, de algum modo, a sua condenação foi, de outra forma, a sua salvaguarda. Aqui o que aconteceu é que se sabia da sua existência. Eu próprio já cá tinha vindo, há mais de vinte anos, à procura dela”.
O especialista também acredita que houve pouca sensibilidade na década de 80 mas não está surpreendido com a atitude. “Não podemos falar de crimes de vandalismo. É uma questão de perceber o contexto em que isto é feito. Nos anos 40/50, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nas suas intervenções, nas igreja românicas, retirava tudo que era talha e pintura mural. Isto fazia parte de uma filosofia em que a arquitetura prevalecia. Hoje não é assim”.
Já que a pintura mural não será novamente tapada, agora é preciso tratá-la com muito cuidado. “Não está em risco de cair, tem apenas pontos que isso pode acontecer. Numa primeira fase será fixado o que pode ruir. Depois tem que ser limpa porque tem um depósito de poeira que não permite uma boa leitura”, explicou Joaquim Caetano. Quanto aos traços e partes de figuras que irremediavelmente se perderam, nada será reconstruído. “Não podemos inventar. Perder-se-ia a sua autenticidade”, considerou ainda.
A pintura, do ponto de vista iconográfico representa um retábulo fingido. Perante um tema mariano, retratou-se, ao centro, a coroação de Nossa Senhora. Já do lado direito, há uma anunciação e, do lado esquerdo, duas figuras que, associadas a este tema, poderão ser os pais de Nossa Senhora.
Agora resta que a pintura seja tratada uma pois já Belarmino Afonso escrevera que seria das mais valiosas do distrito.
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