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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Lembranças que me relaxam

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...") 

Já há bastante tempo que escrevi algumas crónicas, dando nota das características de alguns moradores da minha rua. São eles o elenco principal do meu teatro imaginário e ainda hoje me delicio a apreciar quando os atores no seu papel, brilhantemente, representavam as cenas do dia-a-dia e as expunham à outra gente que não pertencia à tribo.
Começo com o tio Abílio Caga-Verdades. Homem relativamente pequeno, mas de um espírito que sendo solidário era crítico de certas posições que se consideravam de boas práticas, mas que ele estava sempre a tentar desalojar do espírito dos outros homens.
A cretinice de alguns era o alvo deste franco-atirador que tendo uma vida cheia de experiência, não perdia uma ocasião de desvendar caminhos largos aos néscios que tinham olhos mas não viam.
Foi um marco como poucos, de espírito aberto e capaz de assimilar todo o processo de análise que a sociedade desenvolvia numa tentativa de progredir e ter acesso a uma vida mais dignificante para si e seus descendentes.
Identificado com a classe operária era ele um que até pelo uso regular do fato-macaco indesmentivelmente o era, mas também um cavalheiro, já que o trato fino para com a sociedade lhe conferia uma aura de prestígio e honestidade que como um halo lhe cercava o rosto de homem sereno e conhecedor da Vida. Era já de uma provecta idade quando eu, ainda menino, tentava compreender porque o tio Abílio era tão simples por fora e tão complexo na sua tentativa de ver mais longe e mais claro.
No contacto com a garotada era um pedagogo e um professor inato. Quando abordado por nós acerca de assuntos mais obscuros ou simples coisas de lana-caprina sabia sempre responder sem gaguejar ou titubear nas sentenças. De vocabulário irrepreensível era para nós uma referência nos planos da conduta social, empenho nas coisas práticas ou abstratas da sociedade que nós o considerávamos como um oráculo infalível nas previsões mais vezes concretizadas após o seu veredicto.
Sei que quando rapaz novo foi especialista em mecânica de automóveis e mais tarde, após a vida militar pertenceu aos quadros da PIVEDE que era a Polícia de Investigação e de Acção Judiciária do Estado Novo. Aí assimilou conhecimento e cultura suficientemente sólida para conhecer os homens e os seus defeitos e virtudes.
De temperamento calmo e objetivo não se enredava em questões comezinhas, mostrando sempre o lado positivo do assunto ou da abordagem a este.
A sua capacidade como analista das particularidades do seu povo eram claras e sucintas. O à vontade no discurso e objetividade nos diálogos com adultos e crianças foi verdadeiramente uma parte que ele me transmitiu do seu saber de experiência feito.
O tio Abílio Caga-Verdades é ainda hoje o Meu Tipo Inesquecível, digno de ser um daqueles a quem Camões atribuiu a virtude que soa na estrofe: Honra-se a Pátria de tal Gente!




Bragança, 22/09/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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