Jerónima Ledesma e Fernando Fonseca tiveram uma filha que nasceu em Bragança, por 1683 e foi batizada com o nome de Maria da Fonseca. Esta casou com Manuel Rodrigues Lima, também nascido em Bragança, pela mesma altura.
Na sequência de mais uma investida da inquisição, Manuel Rodrigues Lima foi-se apresentar-se em Coimbra onde foi ouvido, admoestado e mandado regressar a casa. O mesmo caminho e idêntico procedimento foram seguidos por Maria da Fonseca. Sobre Manuel Rodrigues Lima, diremos que era filho de José Rodrigues Lima e Maria Henriques, família radicada em Mirandela, com fortes ligações a Vinhais. Manuel Rodrigues e Maria da Fonseca tiveram vários filhos, mas só dois chegaram à idade adulta.
O mais velho, nascido por 1711, chamou-se José Rodrigues Lima, como o avô paterno. Seria um homem com bastante relevância na sociedade Brigantina, pois ocupava o posto de Capitão de Ordenanças, geralmente disputado por gente da maior nobreza cristã-velha. No entanto, ele teria perfeita noção dos perigos que corria, em matéria de fé, pois que em 6.8.1749, decidiu apresentar-se na inquisição de Coimbra. Mandado de regresso a casa, foi chamado em Abril de 1754 para ouvir sua sentença e abjurar de seus erros. Foi casado com Isabel Perpétua Rosa, de uma família bem martirizada pelo santo ofício. Com efeito, Jerónimo José Ramos, irmão de Isabel, seria um dos últimos, senão o último judeu brigantino a ser queimado nas fogueiras da inquisição de Lisboa, em 1754.
António Manuel de Lima, o outro filho, nasceu em Bragança, por 1718. Completados os estudos preliminares, em Bragança, rumou a Coimbra a estudar Leis. Concluído o curso, o jovem advogado, “por se achar com algum dinheiro e viver na lei de Moisés, e lhe dizerem que, em Londres, havia liberdade de cada um viver na lei que queria”, para ali embarcou e por lá ficou durante 6 meses frequentando a sinagoga para aprofundamento da lei mosaica e fazendo-se circuncidar.
Este seria o objetivo principal da viagem, como ele próprio referiu, deixando entender que a sua formação e entrada na vida ativa e adulta impunha a circuncisão, ritualidade essencial para ser judeu. Aliás, em Bragança esta ideia seria corrente e são conhecidos bastantes casos de homens que foram circuncidar-se lá fora e voltaram à terra, geralmente fazendo algum proselitismo. Foi o caso de José Rodrigues Mendes, morador na Rua Direita que, em Bragança, foi educado por “judeu de nação” e depois se dirigiu a Londres para ser circuncidado, tomando o nome de Moisés Mendes Pereira. Regressado a Bragança, dava informações sobre o que lá vira e como ali se vivia. Contou, por exemplo que ali encontrou Francisco Lopes Franco, filho bastardo de Baltasar Lopes Franco, capitão de ordenanças de Chacim, e de uma cristã-velha e que, por isso mesmo, por ser meio-judeu, teve de ser purificado com muitos banhos e cerimónias, para ser admitido na sinagoga e circuncidado. Falou também de outros Brigantinos que encontrara em Londres, nomeadamente os filhos de André Lopes da Silva; a família Costa Vila Real, cujo líder era João da Costa Vila Real, que foi circuncidado aos 73 anos de idade; Luís de Sá, porteiro da sinagoga da Bevis Marks, casado com de Ester Sá e seu irmão Alexandre, aliás, Abraham de Morais, casado com Mariana (Sara) da Costa Vila Real; António Mendes Álvares, filho de Gabriel Álvares Lotas, casado com Maria Josefa. Mas não era só a Londres que iam circuncidar-se.
Também a Livorno, aproveitando muitas vezes a viagem a Roma onde iam buscar um documento da Cúria Papal que lhes permitia casar-se dentro da família, com tias ou primas. Veja-se, a propósito a seguinte declaração feita pelo médico brigantino Francisco Furtado Mendonça: - Disse que havia 24 anos, em Bragança, em casa de Francisco de Almeida, meirinho do assento, ausente em Génova, e que o mesmo se circuncidara em Livorno e que tinha livros impressos na Holanda, enviados por judeus daquela sinagoga e deles formava cadernos de calendários para observância das festas, os quais distribuía pelos cristãos-novos de Bragança e lhos deu a ele, médico, para se servir deles Também por Livorno, a caminho de Roma, passou e lá se demorou José Rodrigues Gabriel, que, mais tarde. Contou aos inquisidores: - Há 34 anos, em Livorno, em casa de Gabriel de Medina, natural deste reino, homem de negócio, entre práticas ele lhe disse que para seguir a lei de Moisés tinha que se circuncidar, e com efeito ele se circuncidou na casa do mesmo, dali a poucos dias, para cujo efeito veio um cirurgião que o cortou na presença do mesmo Gabriel de Medina e outros 4 judeus, que ele não conhecia.
António de Morais, esse foi circuncidar-se a Bayonne, em França, onde tomou o nome de Jacob de Morais. Regressou a Bragança onde era torcedor de seda, e foi preso, em 1718, quando contava 30 anos. Veja- -se a sua confissão: - Haverá 7 anos que se mudou para Bayonne e que o circuncidou em casa dele réu um judeu francês chamado Samuel Talavera e lhe puseram o nome de Jacob e pelo tal nome foi tratado e conhecido pelos judeus e ali fazia a guarda das cerimónias da lei com Lopo de Mesquita, torcedor de seda e hoje se chama Abraham de Mesquita, tendeiro, natural de Bragança e com Salvador Mesquita, filho deste, tratante de chocolate, casado com uma filha de Mécia de Morais e hoje em Bayonne se chama Isaac de Morais. Voltemos a Londres, ao encontro de António Manuel Lima que ali terá contactado com alguns familiares fugidos da inquisição, muito em particular Abraão Mendes Campos, aliás, Diogo de Campos Pereira, natural de Lebução. Diogo era também formado em direito por Coimbra e, por 1720, morava em Lebução, casado com Clara Maria de Mesquita Campos, que, em Londres se fez judia e tomou o nome de Sarah Mendes Campos.
Diogo, aliás, Abraham, tinha 5 filhas, uma das quais se chamou Teresa Maria de Campos, que casou com Baltasar Mendes Cardoso. O casal teve vários filhos e duas filhas. Uma delas, batizada com o nome de Rosa Maria de Campos, casou com Francisco Rodrigues Álvares, que faleceu no terramoto de 1755. A outra, Josefa Teresa, foi casada com José Álvares de Lima, irmão do anterior e ambos primos de António Manuel de Lima e de Baltasar Mendes Cardoso, pai das mesmas. Pois, é bem possível que tenha sido em casa deste seu parente, Abraão Mendes Campos que, em 1740, o jovem advogado António Manuel de Lima, se tenha hospedado, prolongando-se a estadia por meio ano. Em Londres passou a Páscoa, confessando ele que a “celebrou por dois dias, comendo neles pão asmo e um cordeiro”, como a lei de Moisés determina.
Quatro anos depois, em Agosto de 1744, vivia já em Lisboa o advogado Lima, quando, em Londres, faleceu Abraão Mendes, tendo feito testamento no dia 20 do mês anterior. E nesse testamento, incluiu a cláusula seguinte: - Item, deixo e lego a Branca, filha de José Rodrigues Lima, de Mirandela, cinquenta mil réis.
Não pudemos exatamente situar este José Rodrigues Lima na árvore genealógica dos Lima, de Mirandela. Sabemos é que estava casado com Violante Pereira, irmã do testador, Abraão Campos Pereira. E sabemos também que aquele José Rodrigues Lima e Violante Pereira, sua mulher, para além da Branca da Silva contemplada no testamento do tio, tiveram um filho chamado Alexandre Pereira que casou com Luísa Maria Bernarda, filha de André Lopes dos Santos, da família Raba.
Em Lisboa, regressado de Londres, António Manuel Lima empenhar-se-ia na divulgação dos seus ideais religiosos e catequização na lei de Moisés, como se depreende da seguinte confissão de André Lopes dos Santos (Raba): - Disse que indo a casa de António Manuel de Lima, que mora por detrás da igreja de Santa Justa (…) e estando ambos sós, puxou o dito António Manuel Lima de um livro que lhe disse que era a Sagrada Escritura e que cuidasse bem em que Deus sempre era Deus verdadeiro e que ele fora circuncidado em Londres, havia 10 anos, por isso não lhe faltava Deus, antes o favorecia muito…
Sem comentários:
Enviar um comentário