Estamos no primeiro terço do mês de Março, em que se comemorou, no dia 8, o Dia Internacional da Mulher. Pegando nesta efeméride, fomos conhecer a tia Celeste que tem uma história de vida muito atribulada, como mulher e como mãe.
Os programas de rádio dos último dias têm sido bastante participados, com muitas homenagens à mulher.
No dia 4, também o tio Físico, de Outeiro (Bragança), nosso cantor e compositor, quis homenagear com uma canção as vítimas do acidente de autocarro de Entre-os-Rios, que aconteceu há 19 anos.
Como somos a família que festeja a vida e chora a morte, damos aqui conta do falecimento da tia Helena Madureira, de Alfaião (Bragança), prestes a comemorar 103 anos, a quem tivemos o prazer de dedicar a nossa página na data do aniversário dos seus 102 anos. Que descanse em paz a sua alma e que tantos anjinhos a acompanhem como risos provocou a quem a conheceu. Os sentimentos à família enlutada.
Quem festejou a vida connosco na última semana, e começando pelas mulheres, foram a Elisa Prior, a nossa “Tisinha” (54), de Bragança; Albertina Balbina (51), de S. Pedro da Veiga do Lila (Valpaços); Isilda de La Salete (52), de Nunes (Vinhais); Brígida Meirinhos (84), de S. Martinho (Miranda do Douro); tia Antónia Pastora (60), de Rio Frio (Bragança); Mariana Castro (30), de Sendim (Miranda do Douro); Aurora Borges (58), de Fonte Longa (Carrazeda de Ansiães); José Leonardo (86), de Grijó (Macedo de Cavaleiros); Manuel Coelho (73), dos Couços (Mirandela); Agostinho Gonçalves (73), de Vila Boa (Bragança); Jorge Arandas (49), de Cal de Bois (Alijó); Adelaide Alves (71), de Alfaião (Bragança), a residir no Barreiro e António Gonçalves, o tio Cunha (77) de Babe (Bragança).
Para todos saúde e paz que o resto a gente faz.
Celeste Henriqueta Fernandes nasceu em 1951, na aldeia do Parâmio (Bragança). Teve uma infância atribulada, pois ficou sem pai aos 14 anos de idade. Como era a irmã mais velha de três irmãos, veio para Bragança a cuidar de um bebé, para ajudar a mãe.
Aos 19 anos casou com Luís Baptista Fernandes e aos 20 teve a primeira filha, de seu nome Elisabete da Conceição Fernandes, que nasceu em casa, na aldeia do Parâmio, num parto assistido por uma parteira. Passado pouco tempo começaram os problemas. “A minha sogra começou a dizer que a menina tinha algum problema na vista”. Levou-a a um oftalmologista que lhe disse que não se preocupasse pois eram cataratas e seria operada quando fizesse um ano de idade e ficaria bem. Infelizmente não foi assim. “Quando a menina tinha um mês de idade, fomos para Angola e lá procuramos o melhor especialista de Luanda, que me disse o mesmo. Mas afinal os problemas eram muito maiores. Fez muitas operações, mas não deram resultado, até que acabou por perder a visão completamente. Com o decorrer do tempo, vimos que ela, além de cega, era também surda e muda. Os especialistas perguntaram-me se me lembrava de ter tido algum problema durante a gravidez, ao que eu respondi que tinha tido rubéola, concluindo que foi esse o problema que afectou a minha filha”.
A Elisabete só começou a andar aos três anos e por isso “frequentámos um centro de recuperação durante muito tempo, o que me fez melhor a mim do que propriamente a ela. Como era a primeira filha e eu muito jovem e apaixonada por bebés, não estava a aceitar esse fardo tão pesado e perguntava-me muitas vezes: — Porquê eu?
Depois caí em mim, porque percebi que havia casos piores do que o da minha filha. A partir de então, tive uma vida de prisão e fui mãe a tempo inteiro, 24 sobre 24 horas, durante 42 anos. O meu marido levantava-se para ir trabalhar sem ter conseguido descansar, porque ela não nos deixava dormir. Tornou-se agressiva e foi muito difícil por vezes, pois só a via a escorrer sangue pela cara porque batia com a cabeça nas paredes. Só quem via é que acreditava. Com o tempo acabámos por entendê-la, pois ela consegue exprimir-se e conhece as pessoas com quem lida.
Mais tarde voltei a engravidar por aconselhamento médico, embora com muito medo, mas aventurei-me e agora penso que foi o melhor que fiz. Tive primeiro um rapaz e, muito mais tarde, outra menina e ainda bem que veio, porque tem sido o nosso amparo.”
Depois de 42 anos a tratar da sua filha, a muito custo a tia Celeste resolveu procurar ajuda na APADI, pois pensava que “ninguém poderia fazer melhor que eu, pois se é tão difícil para mim que sou mãe, como vai ser fácil para as outras pessoas que não lhe são nada? Na altura em que a internei eu já não podia mais. Tinha chegado ao limite das minhas forças e estava prestes a ficar louca.
Estamos gratos à APADI, pois sentimos que ela está lá bem, com regras que aceita e tenho a certeza que está feliz. Quando a visitamos sinto que está bem. A minha vida com todos os pormenores dava um livro! Eu choro por dentro e rio por fora. As minhas amigas dizem-me:
— Tu és um exemplo!”
Tio João
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