A aldeia de Lamas, no concelho de Macedo de Cavaleiros, é a que concentra a maior produção da região transmontana, com cerca de 400 toneladas por ano.
Se em anos normais, o fruto era escoado praticamente a 100%, neste, as consequências da crise pandémica podem fazer com que muito dele não tenha saída, o que está a preocupar a Associação dos Produtores de Cereja de Lamas, representada por Paulo Pires:
“Vendemos maioritariamente para vendedores, isto é, aqueles que escoam a maioria dos produtos são pequenos lojistas, distribuidores, e muita da cereja é vendida na rua em pequenos comércios. As limitações à circulação das pessoas vão fazer com que haja quebras financeiras. O facto de não ser um bem de primeira necessidade levará a que algumas pessoas optem por outros elementos. Com muita oferta e pouca procura, o preço terá também uma quebra, é inevitável.”
Em contrapartida, devido ao facto de muita gente estar sem trabalhar, ao contrário de outros anos, neste não se prevê que haja falta de mão-de-obra para a colheita, esta que terá de acontecer com algumas regras de segurança:
“Temos muitas pessoas a disponibilizarem-se para a apanha. No ano passado, nesta altura estariam a trabalhar na sua atividade normal e agora, por força das circunstâncias, ou foram despedidas ou estão em lay-off e querem acrescentar algum rendimento à quebra que entretanto tiveram. Nesse aspeto, a mão de obra não será problema. Está mais do que interiorizado que este ano haverá regras que passam pelo afastamento, garantias de higienização para termos a garantia de que o produto chega em segurança aos consumidores.”
Há três anos que esta associação de produtores submeteu uma candidatura para certificação da Cereja de Lamas como de Denominação de Origem Protegida (DOP), que ainda se encontra em fase de análise.
Foi na mesma altura que aquela aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros começou a promover uma feira dedicada ao fruto, importante sobretudo para promoção. O certame este ano não poderá acontecer, o que leva a associação a adaptar-se a outros mecanismos:
“Temos consciência de que isso é uma lacuna no que diz respeito à promoção do fruto. Garantidamente, as pessoas podem abordar-nos de várias formas. Estamos a tentar criar uma maior interação através da internet para que as pessoas possam fazer as suas encomendas.”
As preocupações são partilhadas por Miguel Romão, presidente da Junta de Freguesia de Bornes, no mesmo concelho.
Situada junto à serra que lhe dá nome, nesta aldeia também se colhem, anualmente, algumas toneladas de cerejas e o escoamento este ano é mesmo a principal preocupação:
“Se as coisas durante este mês melhorarem, poderá ser melhor para o negócio, ainda é tudo muito incerto. Durante a apanha vamos optar por várias medidas, como máscara.”
Nesta aldeia também a cereja é promovida com uma feira anual, por época do fruto, que este ano, tal como em Lamas, não poderá acontecer e sempre ajudava a escoar algum produto:
“Este ano sem a feira ficamos mais limitados, embora eu ache que este ano há menos cereja mas, claro, a que há poderá ser de melhor qualidade.”
Resta a esperança de que com o a reabertura do país aos poucos o tempo das cerejas chegue com já melhores dias, evitando prejuízos avultados aos produtores.
Escrito por ONDA LIVRE
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