Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A Barca de Dante (Museu do Louvre, Paris) de: Eugène Delacroix |
Parece-me que temos em mãos algo de muito sério e imprevisível.
Ora bem, neste meu tempo de vida, reformado e condicionado, tento aproveitar o tempo que me resta da forma que mais me apraz; lendo os meus livros, ouvindo a minha música, escrevendo as minhas crónicas e tentando passar o meu tempo em sintonia com aquilo que desde muito novo desejei para mim, quando o trabalho deixasse de ser a coisa mais importante da minha vida.
Assim passei a dar atenção ao raiar da Aurora e ao Por do Sol e sem que dê muita atenção à previsão meteorológica dos "media", passei a dedicar alguma atenção ao Sol e à Chuva.
Ora estava eu quase contente com tal estado de coisas, eis que desaba sobre este mundo algo que é definido por um vocábulo quase desconhecido que dá pelo nome de Pandemia. E de repente a minha caminhada serena sofreu um percalço que pôs tudo em estado de sítio.
Há mais de sete meses que a abertura dos noticiários da TV ou da Rádio, bem assim como os títulos dos jornais se faz invariavelmente com algo que passou a ser o assunto tão falado e de tal abrangência que todo o mundo desde os países mais pobres aos mais poderosos lhe estão submetidos. E eu passei de um estado de quase Felicidade para outro de Inconformismo e angústia.
Não fará sentido eu repetir o que de tão recorrente, é de todos conhecido; o ritual da informação de casos vários de Hospitais e Lares de Idosos que fazem lembrar cenas que o próprio Dante Alighieri teria dificuldade em descrever. O caminho que era liso e que serpenteava pelo prado em Flôr, onde dava prazer sentir a Natureza passou de idílico a tenebroso, os livros têm as palavras ao acaso e o que dizem deixou de fazer sentido, a música é agora cansativa e impertinente e a gente vagueia pelas ruas ensimesmada, de máscara que a torna estranha e irreconhecível. Somos um grupo de gente desconhecida, até para os mais chegados, havendo casos de rejeição por falta de diálogo que as máscaras impedem e que nos torna em fantasmas vagabundos.
Os políticos nunca foram um exemplo, mas agora estão também assustados e não dizem coisa com coisa. Pudera, a Economia está a afundar-se e os privilégios podem erodir-se.
Continuam no seu posto, os Médicos e Enfermeiros, mais o Pessoal Técnico que têm travado um duelo de vida ou morte que nós vagamente reconhecemos. Somos uns mal-agradecidos.
É a guerra química que as grandes inteligências, vulgo, crânios puseram em marcha ou será apenas a Natureza que está a proceder a pequenos arranjos nas peças avariadas da sua máquina Suprema? Seja o que for a mim já me estragou os dias. Os Livros deixaram de ter o poder de me encantarem, a Música soa a barulheira e o Sol e a Lua, deixaram de me seduzir.
No telejornal, o pivot disse agora que o governo decretou o Estado de Emergência e os números já atingem cifras elevadíssimas, a Ministra não sabe o que fazer e a Diretora de Saúde, pequenina mas tesinha, lá se tem aguentado.
É mais um dia que nos faz pensar porque é que a nós nos toca sempre "dançar com a feia?".
Era agora tempo de mudarmos de paradigma, mas parece-me que não teremos tal discernimento, pois quem manda no mundo quer que seja assim e as lições que Deus nos dá, entram-lhes por um ouvido e saem-lhes pelo outro.
É esta uma crónica inquinada, escrita num tempo de chuva e Covid19 que me confundem e desesperam!
Quanto tempo poderá durar esta incerteza, este destruir da Humanidade que espera ansiosa pelos dias felizes de um passado recente que nos permitia andar de cara destapada e reconhecer as gentes que falavam sem panos na boca?
( GÉNESIS - E o Senhor deu ao homem esta ordem: -Podes comer do fruto de todas as árvores do Jardim, mas não comas o da árvore da ciência, do bem e do mal, porque no dia em que o comeres certamente morrerás. (Genesis 2/11 e 12.)
Bragança, 27/X/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)
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