Depois da cimeira com o vizinho do lado, que resultou na intenção de realizar quatro ou cinco ligações curtas entre territórios das zonas raianas, veio o Primeiro-Ministro anunciar milhares de milhões para a alta velocidade entre Lisboa e o Porto, que implicará estrutura dedicada, provavelmente paralela à Linha do Norte.
Ficaremos assim, se Deus quiser, com cinco ligações terrestres entre as duas maiores cidades, nessa faixa litoral de todas as virtudes, três por auto-estrada e duas por via férrea. Acresce a ligação aérea e não se estranhará que o engenho político perspective um vaivém de catamarans de grande velocidade ao longo da costa, que também é preciso quebrar a monotonia.
Quanto às ligações ferroviárias a todas as capitais de distrito, a informação soprada a ouvidos solícitos nos corredores do poder, ficaram guardadas para nova festa de ilusões.
Entretanto, o Plano Nacional de Investimentos para a próxima década condena o distrito de Bragança ao consabido ramerrame, o que se traduzirá num distanciamento ainda mais gravoso relativamente à faixa litoral, até que já não haja ninguém para defender, com racionalidade, a mobilização de investimentos neste território.
Vejam-se as perdas generalizadas de população em todos os concelhos, os braços caídos dos representantes na capital e o imobilismo dos eleitos locais, que não dão sinais de procurar a união em nome dos interesses maiores destas gentes, abandonadas à sua má sorte.
Exemplarmente patético é o caso da ligação de Vinhais a Bragança e à A4 que aparece contemplada, com eventuais desenvolvimentos entre 2024 e 2030, quando fora prometida no início do século, reiterada e logo negada na legislatura anterior, o que indicia que há-de aparecer num qualquer plano para 2030/2040, situação para fazer rir as próprias fragas, que já viram passar todas as vaidades, caprichos, tibiezas e cobardias que possamos imaginar. Quanto a outra ligação, de Vimioso, anunciada no século passado e reprometida para 2019, nada consta.
Assim não vai ser possível estancar a sangria de pessoas, porque não haverá investimentos, os postos de trabalho serão cada vez menos e as novas gerações rapidamente perderão a memória que lhes poderia alimentar as raízes.
Vão-nos dizendo que a grande aposta é a rede 5 G de comunicações, que permitirá o trabalho à distância e a liberdade de viver onde nos apetecer. Uma bela treta, porque a nossa experiência com a cobertura das comunicações é penosamente risível e nas grandes cidades do litoral também haverá cobertura, provavelmente mais eficaz, o que permite juntar o útil ao agradável, que a vida autêntica não se reduz a conexões online. Afinal, a característica fundamental do sapiens é a sua propensão para a vida em sociedade, onde florescem as emoções, os sentimentos e a partilha de destinos que dão sentido à nossa existência.
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