Já cansam as manifestações da sanha assassina dos ditos extremistas islâmicos, sem que se conheçam medidas implacáveis de controle e de repressão eficaz por parte dos estados democráticos deste planeta.
Passam dias, passam anos e cresce um sentimento de insegurança, próximo do terror que imobiliza e resulta em lágrimas de humilhação, desespero e resignação, sinais de que podemos estar perto do fim do ciclo civilizacional que elevou o mundo a patamares nunca antes vistos de liberdade e solidariedade, enquadrados pela coragem de trazer para a vida as qualidades da razão, instrumento decisivo para a construção do conhecimento possível.
A tolerância e a misericórdia que nos permitem proclamar o amor aos próprios inimigos, continuam a ser fundamentais para construir essa obra infinda, a humanidade, epopeia pejada de tragédias, incertezas e angústias, mas que vale a pena, mesmo se a irracionalidade continua a morder-nos os calcanhares.
Paris é a expressão lamentável da situação a que chegámos. Os assassinos vão matando e rindo, enquanto os responsáveis políticos hesitam e desleixam a vigilância sobre núcleos organizados de bandidos, remetendo-se à função de carpideiras institucionais.
Depois do massacre no jornal Charlie Hebdo, em 2015, no último mês houve novo acto sanguinário contra pessoas daquela publicação e dias depois um professor de história foi degolado na rua porque tratou, na aula, de questões relacionadas com o islão. O professor também trataria, certamente, do percurso judaico, do cristianismo, do budismo, do hinduísmo e das práticas animistas ou xamanistas, uma realidade que continua inerente à condição humana, a religiosidade.
Religiosidade que, durante milénios, foi diversa, multifacetada, adaptada às particularidades das gentes e dos territórios, sem pretensões hegemónicas, até que as religiões que se reclamam da revelação quiseram impôr as suas pretensas verdades absolutas, o que conduziu a rios de sangue em nome de Deus nos últimos 1400 anos, com cristãos e muçulmanos a dar o espectáculo degradante da impiedade que dizem ser grande pecado.
Desde o século XVIII a convivência da fé e da razão entre os cristãos tem dado frutos que permitiram sociedades mais livres, mais solidárias e igualitárias, respeitadoras dos direitos individuais, nomeadamente o de não praticar nenhuma religião.
No entanto, a esmagadora maioria das populações muçulmanas vive realidades marcadas pelo dogmatismo, com normas arcaizantes e desumanas, que não podem ser toleradas pela comunidade mundial, que já reprovou o que foi feito pelo cristianismo durante séculos de perseguições aos que eram apontados como hereges, de execuções sumárias dos que se desviavam da norma imposta ou desse tempo infernal em que a inquisição quis determinar a vida, a moral, a economia e a ciência.
O mundo não pode continuar sujeito aos caprichos de tresloucados que matam sem remorsos. Os estados democráticos não podem abdicar da força de que dispõem, nem tolerar mais violações dos direitos dos seus cidadãos, mesmo se para isso for necessário agir firmemente junto de regimes como os do Irão, do Paquistão ou, estranhamente, da Turquia das últimas décadas, que são a mão escondida por trás dos assassinos, das madrassas e das mesquitas onde se proclama a morte dos cães infiéis, que dizem sermos nós.
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