O Douro é internacional, mas as infraestruturas não! Decorreu no dia 10 de Outubro, na belíssima cidade da Guarda, a 31ª Cimeira Luso-Espanhola, que teve como objectivo primordial apresentar uma estratégia comum de desenvolvimento transfronteiriço em território ibérico. Contudo, o documento apresentado pelos dois governos não contempla o desenvolvimento da ligação ferroviária na linha do Douro.
Actualmente, esta linha – que já se encontra obsoleta – liga a cidade do Porto ao Pocinho, apresentando-se como um motor de desenvolvimento económico e turístico, mas também de coesão territorial e social. Hoje, esta linha necessita de um update integral ao nível de infraestruturas, assim como é premente a sua integração na Rede Transeuropeia de Transportes. Esta via ferroviária é hoje utilizada de forma recorrente como plataforma turística (Porto-Pocinho), mas pode servir também como ligação comercial e de transporte de mercadorias – para tal bastaria a implementação dos denominados “portos-secos” em território luso ou espanhol, que serviriam de forma fulcral para a exportação de produtos portugueses para a Europa, assim como para a circulação célere – e menos poluente – de mercadorias em território nacional português.
A par da necessidade da ligação da linha do Douro a Espanha, seria igualmente primordial realizar a electrificação do caminho ferroviário em toda a sua extensão. A zona do Douro é hoje contemplada com diversos investimentos de índole turística, exploração mineira, assim como de energias renováveis, que contribuem de forma direta para a fixação de pessoas e para o aumento da produtividade da região. Todavia, e se pretendemos desenvolver as regiões de baixa densidade populacional, a receita não pode incidir somente em subsídios de semi-sobrevivência, mas sim em infraestruturas que acelerem e optimizem a circulação de mercadorias, bens e pessoas e que contribuam para a captação de investimento crucial para a manutenção do nível demográfico e posterior aumento de população na região do interior.
Portugal vai receber fundos europeus — não reembolsáveis — que irão permitir apostar em vários aspectos da economia nacional e, sem dúvida, que o Douro é essencial para o desenvolvimento da região do interior e dos concelhos raianos. São inacções governamentais como estas, que contribuem para aumentar o fosso entre o interior e o litoral de Portugal.
O Douro apresenta-se com um património natural que atravessa fronteiras de forma secular e as infraestruturas e as ligações importantes para o desenvolvimento do território apresentam-se somente nos documentos estratégicos. Ressalva-se, também, que o memorando apresenta soluções que são essenciais ao nível da cooperação transfronteiriça do Douro e Trás-os-Montes, tais como o cartão de saúde transfronteiriço e a ligação do IC5 de Miranda do Douro a Zamora (via Sayago) e do IP2 entre Bragança e Puebla da Sanabria. Para o documento fechar com chave de ouro faltou somente a ligação ferroviária da linha do Douro de Barca D´Alva até Espanha (província de Salamanca). Afinal, o Interior de Portugal é o litoral da Europa.
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