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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Atravessar o rio a vau

Penso que não há ninguém que me desminta, se afirmar que só no verão é que consigo atravessar o rio a vau, sem molhar os pés, muito embora, possa surgir um grave desequilíbrio em cima duma alpondra, e vá sujeitar-me a uma arreliante molha que me fará cair na cama. Isto acontece, quase só, devido a algum descuido grave, ou então à confiança que tenho, criada pela rotina. Devo, pois, estar atento ao conselho: “Lembra-te de que, mesmo que atravesses o rio a vau, é possível que algumas vezes te vejas obrigado a molhar os pés”.
Esta contrariedade pode aplicar-se a qualquer circunstância da vida se, de facto, não prestar atenção ao que faço; ou, tendo à mão os meios necessários, não me servir deles, deixando que a contrariedade aconteça. A verdade, creio eu, é que me parece que não há ninguém que possa gabar-se de, pelo tal descuido, não ter sido vítima dum tropeção, provocando uma inevitável queda.
Caminhando pela vida cheia de perigos e consequentes sobressaltos, temo ver-me impedido de continuar numa boa estrada, ao tentar atingir mais depressa a meta desejada.
Apesar de escolher a melhor oportunidade e o momento certo da caminhada, descuidar a ponte que me leva a unir as margens constitui o desprezo por um dos meios de que posso servir-me para vencer uma etapa que me é hostil.
Porque nem sempre é fácil evitar os perigos, é bom que, ao menos, os não deixe tomarem-me de surpresa, para o que não será despiciendo o facto de ter de estar atento e vigilante; e ao desejar caminhar em frente, cuidar de não me esquecer de que, muitas vezes, o perigo vem dos lados.
Para evitar que isto aconteça, terei de desenhar um planeamento adequado ao tipo do caminho a percorrer. Que obstáculos poderão surgir? Terei de vencê-los ou será preferível contorná-los e prosseguir? Que meios vou poder utilizar para me ver livre desses obstáculos? Qual o estado em que ficarei, depois deste mau encontro?
Em qualquer caso, tenho de empregar a minha força de vontade e a minha determinação, para não me ver obrigado a vacilar, e consequentemente, poder beneficiar do caminho livre para prosseguir sossegado.
No entanto, posso deitar tudo a perder, se não tiver cuidado com os meus atos. É o caso deste sacrifício que insistentemente me é pedido a que terei de responder reprimindo a ansiedade de acabar depressa com a situação em que me encontro: perseguido e encurralado por um inimigo que não se vê, mas ostensivamente se manifesta pelos estragos que faz. E mais ainda, por não estar atento, inadvertidamente vá arrastar para o meu lado aqueles que me são mais próximos ou aqueles com quem tenha forçosamente de contactar.
É por tudo isto que aguardo serenamente pelo verão. E, no verão, certamente poderei ultrapassar o rio, seguro de que voltarei incólume à liberdade no viver.

Manuel António Gouveia

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