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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Florbela Espanca: "Mamã"

Noite negra e tempestuosa! No céu não luzia uma estrela, o   vento soprava com violência, e flocos de neve envolviam, como  em alva mortalha, a aldeia adormecida. Só ao longe milhares de   luzes ardiam no soberbo castelo. Perfumes, flores, sedas, rendas e cá fora, numa humilde choupana à beira da estrada, fome, miséria e lamentos. Vivia ali uma pobre camponesa com dois filhinhos. Magros, doentes, pediam esmola pelos casais.  Agora choravam. Tinham fome e não tinham pão, os míseros   pequeninos.  

 No único aposento via-se apenas uma enxerga onde, com a cabeça  entre as mãos, a pobre mãe pensava, talvez, no futuro bem   negro dos filhinhos.  

 A contrastar, porém, singularmente com a miséria do casebre, via-se um berço elegante e lindo. Envolviam-no rendas e arminhos. Dentro um pequeno gentil dormia, com a linda cabecita emoldurada nos anéis doirados do seu cabelo loiro. Nos lábios pairava-lhe um sorriso meigo de anjo dormente.   

 Abre-se a porta de repente. Uma mulher divinalmente formosa,   envolta em ondas de rendas e sedas, arrastando altiva a longa   cauda, entra na choupana.

A camponesa ergue-se admirada, enquanto a fidalga adulada,  invejada, que tinha a seus pés um mundo de adoradores, não receando amarrotar as rendas caras do seu opulento vestido de   baile, ajoelhou humilde ante o bercito do filho do crime, que  tinha de beijar furtivamente; inclinou a cabeça, e duas lágrimas brilhantes como gotas de orvalho se desprenderam dos olhos, resvalando-lhe pelas faces, que foram cair nas do pequenito que, a sorrir no seu sorriso de anjo, balbuciou   mimoso:

 - Mamã!

Nota:
Florbela Espanca: "Dominó Preto" (1982)  

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