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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

A CALUNIA E A INVEJA

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Em: “ Olhai os Lírios do Campo”, o escritor gaúcho, Erico Veríssimo, apresenta-nos a personagem: Eugénio Fontes, médico, que desprezou a vida fácil de genro de homem rico, para se entregar à medicina quase como sacerdote.
De médico respeitado, graças ao sogro, após o divórcio, passa a clínico da classe média e da gente pobre.
Um dia, o amigo, igualmente médico, o Dr. Seixas, diz-lhe: - ” Você está a tornar-se importante! …”
Apanhado de surpresa, pergunta: Porquê?
-“ É que começam, os colegas, a dizer mal de si.”- Responde-lhe o Dr. Seixas.
Quando, em qualquer profissão, alguém começa a ser atacado justamente ou não, é sinal, quase sempre, que está a subir na escala social; a tornar-se conhecido.
A maledicência, tem raiz na inveja. Miguel Ângelo, queixava-se que os males entendidos, como Papa, tinham origem em Bramonte e Rafael, devido à inveja.
Já o Padre António Vieira, dizia:” “ Sabeis porque vos querem mal vossos inimigos? Ordinariamente porque vêm em vós algum bem que eles quiseram ter e lhes falta.
“ A quem não tem bens, ninguém lhe quer mal.”
                   Pateadas e calúnias, são resultantes, quase sempre, do mesmo mal.
É o caso de Anita Ekberg, que foi atacada, no palco, com tomates, lançados pela cantora Evelyn, porque aquela abandonara a sala, enquanto cantava.
O escritor, ao ser conhecido, logo é vítima de inveja e da calúnia.
Camilo, em: “ Noites de Lamego”, refere-se que o vulgo costuma enxovalhar, por maldade, o homem distinto: “ A canalha urra triunfalmente a cada homem distinto que sopesa e recalca no seu esterquilino.”
Entre os intelectuais, basta alguém do seu meio, ter sucesso ou ter sido premiado, para os confrades e amigos, espalharem boatos desagradáveis.
Está nesse caso a “ zanga” entre o pintor Júlio Dupré, grande amigo de Teodoro Rousseau; quando Júlio recebeu o grau de Cavalheiro da Legião de Honra, Teodoro, afasta-se, por inveja e ressentido.
Helena Sacadura Cabral, referindo-se à calúnia, declara ao: “ Diário de Notícias”: “ Em Portugal há uma longa tradição de murmúrio, de inveja, de cobiça e de preguiça, também. Os valores raramente são reconhecidos e os inteligentes constituem o repasto ideal para a calúnia.” - “ O Dia” – 09/09/02.
A calúnia costuma andar de braço dado com a inveja. Sempre que se alcança, em qualquer profissão, lugar de destaque, logo surge o boato mesquinho -  “o dizem…que dizem…”
Mesmo entre figuras da ciência, a inveja, existe. É conhecida a disputa ridícula entre dois lentes de Coimbra: o Brites e o Ferrer, no final do século XIX, por antagonismo de doutrina.
Entre os intelectuais, há o costume de criar “ capelinhas”, por ideologias.
Chianca Garcia, disse ao “ Século” (18/01/1959,) depois do sucesso do filme: “ A Aldeia da Roupa Branca”, teve que ir para o Brasil, porque sentia má vontade de muitos, de a excluir das “ capelinhas” e de contratos.
Criada a tertúlia, cria-se a “ capelinha”, elogia-se mutuamente; se o neófito pretende ingressar no reduto, logo é corrido, a não ser que tenha “ padrinho forte”, na “ capela”.
Que o digam os que se iniciam na difícil e ingrata Arte das Letras, a dificuldade que sentem em serem acolhidos. Os próprios editores, em geral, sofrem do mesmo mal.
O medo de serem destronados do pedestal, que elegeram, leva-os apartar todos, que podem vir a fazer-lhes sombra.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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