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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Visitar Vinhais, uma terra dos diabos

 O vinho deu-lhe o nome, mas foi o fumeiro que colocou de Vinhais no mapa do turismo. Fomos conhecer a pequena vila transmontana, que é também “terra de diabos”, numa pacata estadia que se prolongou quase uma semana


O caminho até Vinhais faz-se com vagar, percorrendo parte da estrada nacional que inspirou anteriormente uma road trip ecológica [EN103: eco road trip de Bragança ao Alto Minho]. O objectivo é aproveitar as paisagens do Montesinho, um dos maiores dos 12 parques naturais de Portugal, e fazer longas caminhadas, depois de um penoso confinamento.

Localizada no extremo Norte de Portugal, distrito de Bragança, Vinhais é conhecida como “Capital do Fumeiro”, cognome conquistado graças à Feira do Fumeiro de Vinhais, que atrai milhares de visitantes no mês de Fevereiro.

O porco bísaro é o mote inspirador desta feira, considerada um dos maiores eventos gastronómicos do país. Esta raça autóctone motivou até um centro interpretativo no centro da vila. Mas antes de falarmos deste e de outros produtos locais, vale a pena explorar o centro histórico. Sim, porque Vinhais é também um destino histórico, que remonta ao tempo dos romanos, quando se criou um miradouro no Alto da Ciradelha para supervisionar a região.

A estrada militar construída pelos romanos para ligar Braga, Chaves e Astorga passava aqui perto,  como recorda a Ponte da Rauca sobre o rio Tuela (não confundir com a Ponte da Ranca, medieval, que não fica longe).


Vinhais, uma terra dos diabos

Dizem também que a vila é uma terra dos diabos. Porquê dos diabos?

Bem, Vinhais tem uma tradição secular, única em Portugal, na quarta-feira de cinzas, possivelmente com raízes nos Lupercais romanos. Na noite de terça para quarta saem à rua diabólicos mascarados, chamados Diabos, para atormentar a população e, no dia de cinzas, chega a própria Morte, para impor, com requintes de crueldade, sacrifícios e penitências às suas vítimas.

O turismo local apostou no prolongamento da festa original da quarta-feira de cinzas, criando o espectáculo “Os Mil Diabos à solta” no sábado seguinte. Mais de mil diabos acompanham uma Morte gigante, numa procissão que termina na Pedra, onde as raparigas aprisionadas são castigadas e o rosto da Morte é revelado num espetáculo de som, luz e fogo.

Este é mais um argumento para visitar Vinhais. Até porque a região é rica em expressões populares deste género, se recordarmos os caretos de Podence (concelho de Bragança) ou de Lazarim (concelho de Lamego), tradições igualmente características do Entrudo. Leia também Carnaval de Lazarim, caretos e senhorinhas.


O que visitar em Vinhais

Apesar de não ter um património esmagador, Vinhais possui alguns monumentos interessantes, como a igreja de São Facundo (fundada pelos godos), o convento de São Francisco e o Castelo.

Comecemos precisamente aí, atravessando a porta principal do antigo castelo de Vinhais, (monumento nacional, do século XIV), para explorar as ruas empedradas, descobrindo um pelourinho manuelino, a Igreja Matriz, um conjunto de tanques recém-renovados.

Do castelo restam três portas, duas torres e alguns troços da muralha que, junto à Capela de N. Senhora da Conceição, oferece uma vista particularmente bonita. Seguindo pelas ruelas, descobrem-se as tradicionais casas transmontanas, em xisto, com o piso térreo reservado para o gado e parafernália agrícola, e um piso residencial, cujo coração é a cozinha.


Mas também várias casas senhoriais, sendo a mais imponente o Solar dos Condes de Vinhais (século XVIII), que hoje acolhe um Centro Cultural, com biblioteca, capela, teatro e cafetaria. Por altura da nossa visita, acolhia uma interessante exposição: Máscaras Rituais de Portugal.

Na praça dos Combatentes da Grande Guerra encontramos o Centro Interpretativo do Porco e do Fumeiro, para homenagear essa tradição ancestral e as raças portuguesas (com destaque para o bísaro), de uma forma interactiva, e a curiosa Fonte do Cano, com o escudo real. Antes de aproveitar a Natureza, espreite ainda  o Convento e Igreja de São Francisco e Ordem Terceira, com os seus retábulos barrocos.


Trilhos em Vinhais

Se, como eu, procura Natureza, ar puro e sossego, deve incluir uma visita ao Parque Biológico com os seus animais, centro micológico, actividades de aventura ou hipismo. Escrevi um post detalhado durante uma primeira visita Parque Biológico de Vinhais, um retiro no Montesinho.

O Parque Biológico é o ponto de partida para dois trilhos na Serra da Coroa: o PR9 VNH Trilho do Alto da Ciradelha (3,2 km) e o PR8 VNH Trilho da Barragem da Prada (5,9 km), ambos de pequena rota e circulares.

O PR9 conduz-nos até ao Alto da Ciradelha ou Cidadelha, onde se encontraram os primeiros vestígios de Vinhais, ou seja, um castro proto-histórico a noroeste da actual vila. No cume deste monte, os romanos terão construído o seu ponto de observação e entende-se porquê. Hoje, existe ali um Polo Interpretativo do Parque Biológico com uma vista soberba.

Outro ponto alto do percurso é o baloiço (foto de entrada), colocado junto do miradouro, para a foto da praxe. Se a primeira metade da rota é sempre a subir, passado o baloiço, descemos uma suave encosta, ladeados de árvores e a mais absoluta tranquilidade. Pelo caminho, com um pouco de sorte, poderá vislumbrar veados, corços, gatos-bravos, esquilos e raposas. Com certeza, verá muitas borboletas, árvores como carvalhos e amieiros, mas também giesta, carqueja e esteva.


Apesar de mais longo, o PR8 é menos exigente e a paisagem mais diversificada: veem-se pequenas aldeias e muitos campos cultivados. Nesta caminhada, os pontos mais interessantes são a Charca da Vidoeira, onde existe um pequeno observatório para ver os animais que ali vão beber, a barragem onde se concentram aves aquáticas  e muitas libélulas, e o moinho de Paçó.

Não gostámos tanto deste segundo percurso pedestre, pelo simples facto de carros conseguirem passar numa parte do trilho, o que destrói toda a magia do lugar. Ainda assim, foi nesta rota que vimos uma pequena raposa. No concelho de Vinhais, é ainda possível fazer o lindo PR10 VNH Termas de Tuela, que merecerá um post específico.

Quando for visitar Vinhais, inclua pelo menos um dos trilhos, pedestres ou de bicicleta. O concelho possui quatro percursos de BTT, com diferentes níveis de dificuldade – 8,27 km, 19,48 km, 49,9 km e 65 km – todos eles com início e término no Parque Biológico.


Visitar Vinhais – informações úteis de viagem

Quando ir

Trás-os-Montes é uma terra de extremos. Diz o ditado popular que nas entranhas transmontanas existem nove meses de Inverno e três de Inferno. Se no Inverno, as temperaturas podem ficar pelos 5º C de máxima, no Verão podem chegar aos 40º C. Em suma, os meses de Primavera e Outono são os mais agradáveis para visitar a região e realizar actividades ao ar livre. No entanto, se procura uma paisagem nevada, poderá considerar os meses de Dezembro-Janeiro.

Como chegar

Vinhais fica a cerca de 200 km do Porto, 284 km de Coimbra e quase 500 km de Lisboa (bué, bué longe, diria o burro do Shrek). A partir da cidade invicta, deve apanhar a A4 até à saída 33, em direcção a N315/Mirandela Norte/N103/Vinhais. Siga depois pela R206 e N103 até à vila de Vinhais.

A distância entre Lisboa e Vinhais traduz-se em cerca de cinco horas de caminho. Apanhe a A1 para Norte, escolhendo depois um de dois caminhos: A23  ou apanhando o IP3 perto de Coimbra, em direcção à A24 e depois A4 (tomando a mesma saída que o percurso desde o Porto).


Onde ficar em Vinhais

Nós ficámos no próprio Parque Biológico de Vinhais, num dos bungalows de madeira. Foi a minha segunda vez no parque e, desta vez, achei que o bungalow carecia de manutenção: lava-loiças a escorrer água para a prateleira da loiça, dispensadores de álcool gel sujos, teias de aranha gigantes à porta.

O wi-fi não funcionava, excepto junto à recepção. Numa manhã tinha uma reunião online, e não me facultaram acesso a uma sala. Tive que fazer a reunião na rua, numa mesa do bar, sem acesso a fonte eléctrica (resultado, fiquei sem bateria). Os funcionários da recepção também se revelaram pouco conhecedores da região; só me recomendaram os dois trilhos que partem do parque.

– Mas não existem outros no concelho?- perguntei.

– Sim, mas teria que perguntar no Turismo que está fechado, por causa da pandemia.

– Mas vocês não têm informação turística? Não são uma empresa municipal?

– Sim, mas é uma entidade independente. Não a quero mandar para uma aldeia e que se perca.

Ainda estive para lhe dizer que fui sozinha à China e não me perdi, mas não valia a pena [fizemos outro trilho, o PR10 Termas de Tuela, e não nos perdemos]. Numa nota mais positiva, o aquecimento funciona muito bem, as camas são confortáveis e o pequeno-almoço razoável.

Para além do Parque Biológico existem várias opções de turismo rural em Vinhais, como a Casa do Rebelhe e a Casa da Mencha e um pequeno hotel sem presença no Booking. A alguns quilómetros, na aldeia de Gondesende, já no concelho de Bragança, existe uma opção muito simpática: a Micro Cabana Rotativa.


Gastronomia de Vinhais

A comida da região baseia-se nos genuínos produtos locais: castanhas, cogumelos, fumeiro. Entre as especialidades gastronómicas inclui-se o caldo de cascas, os milhos, os cuscos (feitos de trigo Barbela, substituía a massa e o arroz)  e o celebérrimo fumeiro de Vinhais, de porco bísaro.

A este nível, é de experimentar o butelo acompanhado por casulas (cascas de feijão secas), mas também as alheiras. A carne é rainha nesta região mas se,  como eu, não come carne, pode experimentar as trutas do Tuela ou peixinhos do rio fritos.


Pode encontrar o fumeiro de Vinhais com carne de porco bísara (IGP) nas lojas da especialidade, nomeadamente no Gourmet da Adelaide (a senhora é uma simpatia, também vende doces, compotas e outras iguarias), perto do Solar Condes de Vinhais, ou nas duas lojas em frente à Igreja-convento de S. Francisco.

AQUI a publicação  original.

Ruthia Portelinha

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