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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Viagens — 19 - Ainda o Diabo

 O Diabo é, inclusivamente, apresentado como capaz de sentimentos positivos, como por exemplo a gratidão. Como nesta conta: 
 Era uma vez um homem que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo. 
 Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
 O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que  ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que o homem não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando o Diabo apareceu todo enfuliçado.
 − Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
 − Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
 − Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
 − Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
 O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem foi  procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
 − Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.» 
 Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.
O Diabo é, inclusivamente, apresentado como capaz de sentimentos positivos, como por exemplo a gratidão. Como nesta conta: 
O diabo advogado 
 Era uma vez um home que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo. 
 Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
 O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que   ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que ele não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando ele apareceu todo enfuliçado.
 − Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
 − Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
 − Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
 − Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
 O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem lhe foi a procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
 − Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.» 
 Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.

(Continua. Já começam a ficar cansados?)

A. M. Pires Cabral

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