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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Carnaval, Pandora, Celestrina: contar borboletas em Serapicos e fazer o retrato do ambiente do país

 Em Serapicos, no concelho de Vimioso, distrito de Bragança, foi identificada a maior variedade de espécies de borboletas do país. Há cinco anos que Ângela e Isabel são voluntárias nos censos nacionais de borboletas. Uma ferramenta essencial para se perceber o estado do ambiente a partir dos insetos.

Rui Duarte Silva

“Apanhei!!!”, grita Lucas. “É uma Carnaval!”. Está de joelhos no chão segurando a rede onde tem momentaneamente cativa uma borboleta. Espera que a bióloga Ângela se aproxime, para recolher cuidadosamente o exemplar para um frasco de plástico transparente, com uma lupa na tampa. A borboleta, um exuberante exemplar de cor preta, creme e pintas laranja, para finalmente de esvoaçar no cativeiro e deixa-se analisar. Confirmado: é uma borboleta-carnaval, nome científico zerynthia rumina. Poucos minutos depois, voltaria a voar.

É assim a cada dez dias. Entre março e setembro, Ângela Cordeiro, bióloga e especialista em borboletas, e Isabel Sá, engenheira do ambiente, percorrem o trilho junto às margens do Rio Angueira, em Serapicos, concelho de Vimioso, a contar borboletas. Hoje, tiveram dois entusiásticos ajudantes: Lucas, de sete anos, e Violeta, de onze. Estão em férias escolares e participam numa das atividades de sensibilização ambiental da associação Aldeia (de que Isabel é presidente) em parceria com o PINTA - Parque Ibérico Natureza e Aventura (em que Ângela é técnica).

“É uma iniciativa de ciência cidadã, onde marcamos os percursos como este de Serapicos. Fazemos saídas de campo para observação e contagem de espécies, que inserimos numa plataforma europeia que nos dá dados muito interessantes. Em fevereiro, estivemos em Avis, num encontro de contadores nacionais de borboletas diurnas, e este foi o percurso onde foram contadas mais borboletas em número de espécies”, explica Isabel Sá. “Nas diurnas temos à volta de 137 espécies em Portugal. Nós aqui temos 60”, precisa Ângela Cordeiro.

Lucas com a borboleta da espécie Carnaval no seu cativeiro momentâneo. RUI DUARTE SILVA

Os censos de borboletas de Portugal são feitos por voluntários a nível nacional e coordenados pela associação Tagis. Qualquer pessoa o pode fazer e a bióloga garante que não é difícil. Basta descarregar a aplicação ButterflyCount e anotar as observações seguindo a metodologia indicada. Há um guia, disponível na página da Tagis, que ajuda a identificar as espécies, e que em Serapicos esteve permanentemente a ser folheado. Além disso, naquele lugar existe uma estação da biodiversidade, com informação sobre a relação dos insetos com as plantas, para dar apoio aos visitantes. O percurso segue a beira do rio, numa zona de piquenique que, não tardou, a servir de pasto a um rebanho de ovelha churra galega mirandesa.

Violeta traz um boné preto com uma borboleta cor-de-rosa. Quer ser ser professora de ioga e “dobradora de filmes”, porque tem o sonho de ouvir a sua voz numa animação da Disney, mas sempre que pode anda nas atividades no campo. Também vai desfraldando a sua rede ao vento até que apanha uma borboleta, que pousara num tronco, na tentativa de passar despercebida: uma Policlorus. “É castanha, porque pousa muito nos troncos para se camuflar. Mas é muito colorida por cima”, vai dizendo Ângela, rodando o frasquinho.

Violeta e Lucas perseguem as borboletas com as redes.
Depois de capturadas, são analisadas e voltam a ser libertadas. RUI DUARTE SILVA

O que nos dizem as borboletas?

Ângela regista numa folha a temperatura, velocidade do vento, data, hora, e o número de indivíduos e de espécies identificados. Os entusiastas apanhadores de borboletas continuam a sua correria saltitante. Isabel explica que esta é uma atividade que pode ser feita por famílias, e toda a gente adora: “Os adultos, quando se apanham com uma rede na mão, dá-lhes um gozo que a seguir querem ser eles”.

Mas mais do que uma atividade lúdica, contar borboletas é, também, contribuir para avaliar o estado do ambiente. “A presença ou ausência de borboletas é um indicador do comportamento dos insetos. Se não houver insetos, os animais que se alimentam de insetos também vão falhar, e esse tipo de interações pode estar em declínio. Estamos a dar conta a nível ambiental do declínio dos insetos, especialmente os polinizadores de que as borboletas fazem parte”, explica a bióloga. É uma tendência mundial que em Portugal se vai aferir com rigor a partir destes censos.

Desde que começaram os censos de borboletas diurnas, em 2019, já se contaram mais de 43 mil borboletas a nível nacional. Em Serapicos, foram contabilizadas 634 indivíduos em 2020, 721 em 2021 e 655 em 2022. A contagem prossegue este ano. Ainda é cedo para conclusões, explica a bióloga. Só com dados de uma década será possível fazer uma análise rigorosa.

Um guia ajuda a identificar as espécies de borboletas. Rui Duarte Silva

“Apanhei!” exclama novamente Lucas. Todos se dirigem para sua rede onde está cativa uma borboleta azul. Esta demorou um pouco a identificar porque há muitos tons de azul. Ângela deu o veredicto final: “é a celastrina argiolus azul-celeste”. Confirmado no livrinho, anotado no papel, abre-se o frasco e a celastrina voa outra vez.

Na aldeia do concelho de Vimioso já se habituaram àquela rotina e ninguém estranha as redes brancas a esvoaçar e as pequenas rodas de gente debruçadas sobre uma borboleta. Qualquer pessoa pode participar nestas atividades, bastando inscrever-se no PINTA (cujo centro de acolhimento promove várias atividades e dá uma visão geral do concelho).

“É uma Pandora!”, ouve-se mais à frente.

“Uma borboleta da couve!”

“Uma ponta laranja!”

Está um dia perfeito para contar borboletas: Calor (cerca de 20 graus Celsius) e pouco vento. “Em Trás-os-Montes, em abril, não temos ainda muitas borboletas a circular. No Sul do país já há mais. Temos 15 dias a um mês de diferença. As borboletas que estão a aparecer aqui agora ocorreram 15 dias a um mês antes no Sul, por causa do clima. Aqui a Primavera demora um bocadinho mais a surgir”, explica a bióloga.

No regresso do percurso, fazem-se as contas: em meia hora observaram-se sete espécies diferentes e foram contabilizados 19 indivíduos. A atravessar a ponte sobre o Rio Angueira, o grupo depara-se com duas ovelhas acabadas de nascer no rebanho que ali pastava. A Primavera tarda, mas não falha.

Isabel Sá, da associação Aldeia. RUI DUARTE SILVA
Marina Almeida e Rui Duarte Silva

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