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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Violência Doméstica: Uma Praga em Crescendo

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Os dados estatísticos não enganam: de acordo com a Organização Mundial de Saúde, no ano de 2013, em Portugal, 39, 4% dos idosos foram vítimas dos mais variados abusos. Desses, 3,6% são de natureza sexual, e 2,8% dizem respeito a agressões físicas.
Segundo um relatório publicado pela APAV (Associação de Apoio à Vítima), a violência física contra crianças, no seio familiar, aumentou, no nosso país, no ano de 2013, comparativamente ao ano de 2012, mais de 170%, sendo que quatro dessas crianças morreram às mãos dos agressores.
Também em 2013, no universo feminino, de acordo com a mesma instituição, o cenário reveste-se de contornos de crueldade: 39 mulheres foram mortas pelos maridos, companheiros e namorados.
Estes factos levam-nos à seguinte leitura: o ser humano, cada vez com maior propensão para se associar e aderir ao progresso e aos avanços tecnológicos e civilizacionais da sociedade a que pertence, continua visceralmente amarrado a uma mentalidade cavernícola, de ser invertebrado, sem evoluir no caminho da lucidez, da moral e da decência.
Nos compêndios do comportamento humano, diz-se que a violência doméstica, motivada, na maioria dos casos, pela cegueira do ciúme, é uma manifestação de poder e de controlo da parte do agressor, na qual as vítimas, sejam esposas, companheiras ou namoradas, são continuamente submetidas a maus tratos físicos, psicológicos e sexuais.
Numa visão mais epidérmica, diria que uns e outros, os que, no seio familiar, agridem, sob todas as formas, os filhos, as mulheres e os idosos, agem não segundo o estereótipo da virilidade máscula, mas da mais abjecta e vil cobardia. Porque só gente desprezível é capaz de exercer violência contra quem, por si só, não se consegue defender. Porque só um canalha trava uma luta, sabendo que o seu “opositor” parte em desvantagem.
É, pois, com base nesta ideia, e porque atribuo uma grande importância ao significado das palavras, que manifesto o meu desagrado pelo uso da expressão “crime passional”, para descrever as motivações dum uxoricida. Uma razão que entronca na ideia de que “quem ama não mata nem agride”. E não a subscrever é reduzir o amor e a paixão a um sentimento menor, atribuindo-lhes o mesmo valor semântico contido em palavras para definir comportamentos de dimensão patológica.
À falta de uma ideia mais original, ousando, até, substituir-me os profissionais dos distúrbios da mente, aconselharia a quem manifesta patologias com tendência para os impulsos violentos, como quem exorciza os demónios, experimentar aquela terapia que consiste na auto – flagelação, batendo repetidamente com a cabeça na parede. Se não resultar à primeira, recomendo a insistência.
Perante este drama social que devia envergonhar a sociedade, eis a pergunta: conseguir-se-á, algum dia, inverter a tendência? A resposta dependerá necessariamente da atitude que cada um de nós, como seres humanos e cidadãos, adoptarmos perante o drama alheio. Uma ambição tanto mais difícil quanto sabemos que nesta sociedade, de valores e prioridades invertidos, é muito mais fácil albergar um cão abandonado do que acolher numa instituição uma mulher, um idoso ou uma criança vítimas de violência doméstica.
Não se mudando as mentalidades, e se não nos perturbamos perante o infortúnio do próximo, declarando guerra (pela indignação, dizendo basta) a quem permanentemente recorre à violência gratuita contra os mais fracos e dependentes, julgo que comemorar o dia internacional do idoso, da criança ou da mulher é pura hipocrisia; e, direi, provocatório para os homenageados.

António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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