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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 23 de maio de 2015

Restos do Culto das Águas, Rios e Fontes

Estas crenças permaneciam ainda entre nós no século VI da era cristã, mostra-se dos cânones organizados por São Martinho, bispo de Dume, bem como por várias crendices supersticiosas de que a etnografia nos aponta vestígios, ainda hoje existentes no nosso povo.
É crença geral em todo o distrito de Bragança que a água dos rios e fontes está benta na manhã de São João (24 de Junho) e na de São Pedro (29 de Junho) e que produz efeitos benéficos ou curativos em muitas moléstias e antídotos nas feitiçarias; por isso, além das abluções próprias, os lavradores vão lá banhar seus gados bovinos, ovinos e caprinos.
É também costume geral levar o mesmo armentio a dar volta pelos adros dos santuários ou capelas existentes nos campos e montanhas, fora dos povoados, no dia da festa dos respectivos oragos, incorporando-o mesmo algumas vezes no cortejo processional e carregando à cabeça ou pendente jugo com sacos, onde vai o cereal que, em cumprimento da promessa, oferecem ao santo festejado.
Em geral, nos adros destes santuários há uma ou mais árvores colossais, respeitada religiosamente, ninguém se atrevendo a cortar-lhe pernadas ou a colher-lhe o fruto, sem consentimento do pároco ou mordomos, porque o padroeiro fere com moléstias, geralmente sezões, os violadores sacrílegos.
Como adiante nos referimos muitas vezes ao angaranho e respectivos banhos curativos, convém explicar o que isto seja. Angaranho, anqueilhado ou caílho, é uma espécie de raquitismo e enfraquecimento que ataca as crianças de leite e as idades inferior a cinco anos, incapazes de andar por se não segurarem nas pernas. Os banhos devem obedecer aos seguintes preceitos rituais: uma mulher leva a criança e outra trá-la para casa, devendo, sempre que seja possível, ter o nome de Maria; vão e voltam silenciosas; a criança é mergulhada completamente, sustentando-a uma pelos pés outra pela cabeça, deixando-lhe ao mesmo tempo ir o enxoval pela água abaixo e vestindo-lhe depois outro. De um modo geral, às águas de virtudes medicinais, ou como tais supostas, chamam Fontes Santas e Águas Santas.
Em algumas terras bragançanas também se cura o angaranho passando três vezes a criança pela abertura de uma árvore nova, que se rachou ao meio para este fim, tornando-a depois a unir a ligar por forma que solde e não seque, porque, se tal suceder, não se produz a cura.
Quando tudo isto resulta inútil e a criança, um pouco mais idosa, continua amarelecente e definhada, é preciso recorrer a uma mulher de virtude, geralmente a que teve dois gémeos de um parto, que à lameira de um alto na encruzilhada de caminhos, colocando-a no centro de um signo-salomão, traçado por regos na lameira, fazendo-lhe ao mesmo tempo rezas especiais. Estas mulheres têm também virtude para pisar as torções e veias que tomam vento, bem como para benzer quebrantos, espinhela caída e outros padecimentos.
Os pulos e saltos por cima das fogueiras de arçã, rosmaninho, sal-puro e de outras plantas balsâmicas, feitas nas ruas durante a noite de São João, livram de bruxedos, feitiçarias e de outras moléstias, segundo reza a crença popular. Também, segundo a mesma, os atacados de sarna e outros sofrimentos cutâneos saram, indo espojar-se na dita manhã sobre o linho dos Linhares.
O povo distingue perfeitamente entre águas medicinais cientificamente ditas, de efeitos terapêuticos naturais, e águas das chamadas Fontes Santas e dos angaranhos, anqueilhados ou caílhos, de efeitos curativos sobrenaturais ou como tais supostos.

Fonte: CM Mirandela

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