Um centro interpretativo do chocalho, novas aplicações para este artefacto e o fomento do ensino do ofício de chocalheiro, são algumas das metas que a presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas, Sara Pajote, inclui num plano de salvaguarda da Arte Chocalheira. Objectivos para reforçar o selo que a UNESCO pode atribuir a esta tradição depois de submetida uma candidatura à Lista do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.
Os chocalhos bailam no pescoço dos animais que pastoreiam nos campos de norte a sul do país. Os artefactos cilíndricos, produzidos a partir de uma peça de chapa, contam com um badalo. Este agita-se com o movimento dos animais nos pastos. Nasce uma «música» que serve para orientar o pastor. Este sabe onde andam os seus animais. Hábitos antigos que se enraizaram nos territórios e são hoje expressão cultural.
Os chocalhos concebidos artesanalmente constituem uma prática em vias de desaparecimento. Tendo em conta este facto, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo encabeça uma candidatura, entregue recentemente na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), para inscrição da Arte Chocalheira na Lista do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.
Em Alcáçovas, Viana do Alentejo, existem ainda duas famílias chocalheiros que continuam ligadas a esta arte. Foi precisamente em Alcáçovas que nasceu o impulso para esta candidatura que, entretanto, se alargou à Arte Chocalheira nacional. Isto considerando que é uma manifestação afecta a outros locais no Alentejo (Estremoz e Reguengos de Monsaraz), assim como a outras localidades portuguesas, nomeadamente Bragança, Tomar, Cartaxo e Angra do Heroísmo.
«Esta candidatura é agora liderada pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, mas, de certa forma, Alcáçovas encabeça o processo. Esta mudança dá-se por haver um reconhecimento da arte chocalheira a nível nacional», explica, ao Café Portugal, a presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas, Sara Pajote.
A autarca pormenoriza que «neste momento, activamente, na freguesia, há dois jovens chocalheiros. Temos mais três ou quatro chocalheiros que fazem apenas para a sua colecção. Daí a salvaguarda urgente porque é uma arte em vias de extinção».
São artesãos que aprenderam uma arte passada de geração em geração desde a presença árabe no território, povo que terá introduzido os chocalhos nos costumes pastoris. Tudo começa num pedaço de chapa de ferro amorfo que é talhado com uma tesoura árabe. Segue para a bigorna onde, com marteladas impressas em vários locais, ganha a forma cilíndrica. Juntam-se em seguida os batentes, as asas e os velos.
O processo foi todo registado num documentário de dez minutos, que acompanha a candidatura, realizado por David Mira que, ao Café Portugal, realça a componente musical dos chocalhos.
«É uma arte difícil, tem muito trabalho, mas também musicalidade. O chocalho é afinado no final da sua construção. A perda desta tradição é também a perda da paisagem sonora do Alentejo. É incrível como se transforma um pedaço de latão quase num instrumento musical», comenta David Mira.
A candidatura já está entregue na UNESCO em Paris e será agora apreciada por aquela organização. Em Alcáçovas, Sara Pajote pensa já no futuro e sublinha «é importante ter elaborado um bom plano de salvaguarda».
A presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas aponta para a construção de um centro interpretativo do chocalho onde se conheçam as origens, utilizações e processo de fabrico dos chocalhos. Sara Pajote relembra que «o chocalho é utilizado desde sempre no gado, mas não se perspectiva que o chocalho continue nessa vertente, por isso, devem ser encontradas outras aplicações».
Incrementar a aprendizagem desta arte é outra das ideias do plano de salvaguarda que deve «promover e encontrar formas para que não se acabe a tradição». Sara Pajote diz ainda que a arte chocalheira pode ser um atractivo turístico no âmbito do turismo cultural e considera a proximidade de Évora, cidade Património Mundial da Humanidade, uma mais-valia.
«A junção destes selos da UNESCO é importante. Quem visita Évora também vem visitar uma arte Património Cultural. É o turismo cultural que queremos, sem ser de massa e que possa ser rentável», afiança Sara Pajote.
A candidatura da arte chocalheira está enquadrada num projecto da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo que visa a valorização do Património Imaterial e que integra também as candidaturas das Tapeçarias de Portalegre, dos Tapetes de Arraiolos e das Festas do Povo de Campo Maior.
Sara Pelicano
in:cafeportugal.net
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