Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Lápides de Portugal

No território actualmente português encontraram-se lápides funerárias com suástica em sete distritos, sendo, por ordem alfabética, os seguintes: Braga, Bragança, Castelo Branco, Guarda, Porto, Vila Real e Viseu. Até hoje não apareceram exemplares no sul do País, parecendo tratar-se de um fenómeno adscrito a uma área geográfica específica – o Nordeste Transmontano –, constituindo os outros distritos indicados regiões limítrofes com um reduzidíssimo número de casos.No Distrito de Braga encontrou-se apenas uma lápide com suástica, tratando-se todavia da que se encontra mais a oeste no território português, sendo, certamente, proveniente da cidade romana de Bracara Augusta.
. Trata-se de uma estela de granito, com cabeceira semicircular, apresentando um hexásceles  (3inserido num círculo.
O Distrito de Bragança é o que apresenta o maior número de lápides funerárias do tipo aqui estudado, totalizando cento e trinta e sete exemplares, encontrando-se distribuídas por sete concelhos que são, por ordem alfabética, os seguintes: Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo e Vimioso (Gráfico 1).
As lápides do concelho de Bragança distribuem-se, por sua vez, por dezasseis freguesias que são as seguintes: Alfaião, Aveleda, Baçal, Carrazedo, Castrelos, Castro de Avelãs, Donai, Espinhosela, Failde, Gimonde, Grijó de Parada, Meixedo, Nogueira, Quintela de Lampaças, Samil e Santa Maria.
Relativamente ao concelho de Macedo de Cavaleiros,não podemos deixar de destacar uma lápide de granito,atribuída por alguns autores a  Laboena ,com quatro registos e uma tipologia até agora única para todo o território estudado (Fig.1). No registo superior observa-se uma cabeça antropomórfica, representando possivelmente a defunta,ornada de um torques e um crescente que descansa sobre obusto. Mais abaixo, surge uma suástica sinistrorsa de dez braços inserida numa cartela quadrangular (Fig.1A). Rodriguez Colmenero (1997) conta apenas nove braços, mas na realidade eles são dez, como se pode constatar na imagem.
No terceiro registo aparece a representação de uma fêmea de cervídeo virada à esquerda,abaixo da qual se encontra o campo epigráfico com a seguinte inscrição (4:LABOENA / CILVRNI / VXORIS / TAVI . /  (5CANCI De Miranda do Douro são provenientes algumas das mais belas e interessantes lápides funerárias do Nordeste Transmontano, tendo sido encontradas nas seguintes freguesias:Aldeia Nova, Atenor, Duas Igrejas, Ifanes,Malhadas, Palaçoulo e Picote. As desta última,devido às suas características (existência depeanha, «esquadros», meias esferas e, por vezes,motivos vegetais e representações zoomórficas),deram origem a uma determinada tipologia, precisamente o tipo «Picote» (TRANOY, 1981:349-350).
As lápides de Mogadouro apresentam por vezes semelhanças com as do concelho anterior, que lhe é vizinho, distribuindo-se pelas freguesias de Peredo de Bemposta,Saldanha, Sanhoane, São Martinho do Peso, Urrós, e Vilarinho dos Galegos.
FIG.1A
Torre de Moncorvo tem a particularidade de as lápides com suástica encontradas até hoje serem todas do tipo trísceles, distribuindo-se pelas freguesias de Adeganha, Cabeça Boa e Cardanha, enquanto que os exemplares do concelho de Vimioso se distribuem pelas freguesias de Angueira, Argoselo, Pinelo e Santulhão.
Em cada um dos Distritos de Castelo Branco, Guarda, Porto e Viseu, até hoje apenas se encontrou um exemplar de lápide com suástica.O Distrito de Vila Real é, após o de Bragança, o que apresenta mais exemplos deste tipo de monumentos funerários, sendo as peças provenientes dos concelhos de Chaves e de Valpaços.
(3) Um hexásceles (do grego Ýîáó÷åëÞò) é uma variante da suástica com seis braços. A. Tranoy e P. LeRoux (1989-90) referem esta suástica como tendo sete braços, mas tal não corresponde à realidade.Num artigo de J. Leite de Vasconcelos publicado em O Arqueólogo Português, já aparece um desenho desta lápide nitidamente com um hexásceles (VASCONCELOS, 1918).
(4) Esta inscrição tem recebido diversas interpretações, razão pela qual apenas a transcrevemos sem desenvolver as possíveis abreviaturas. Para o Abade de Baçal, a defunta chama-se  Livia Aboena (ALVES,1934), enquanto que para Rodriguez Colmenero (1997) é  Lucila Aboena. Albino P. Lopo (1920), SóniaGarcía Martínez (2000) e A. Redentor (2003) interpretam a primeira linha como sendo Laboena. As outras linhas da epígrafe também não suscitam unanimidade entre os investigadores. Assim, A. P. Lopo (1920) e Rodriguez Colmenero (1997) lêem as últimas quatro letras como se tratando da idade da defunta, ou seja cento e um anos, o que para a época seria verdadeiramente excepcional. Todavia, uma lápide do concelho de Bragança dedicada a Aurélio indica a idade de cem anos (COIMBRA, 2007). O Abade de Baçal (1934) vê na última linha o nome do dedicante do monumento, que se chamaria Câncio ,enquanto A. Redentor considera essa palavra como um nome mas não da pessoa que mandou fazer alápide. Seja como for, estas diferentes interpretações da inscrição não afectam o significado da suásticae, pensamos que nesta lápide o mais importante é mesmo a iconografia. Trata-se da lápide de uma mulher, que provavelmente seria esposa ou filha de um destacado membro da sociedade, tendo em conta a representação do torques e do «crescente» que repousa sobre o peito, que poderá ser a imagem de um colar do tipo lúnula. Esta peça é extraordinária pela sua riqueza iconográfica, fazendo lembrar as estátuas menhir da Pré-história recente, parecendo uma sobrevivência das mesmas.
(5) Existe uma excelente réplica desta estela no Museu das Marinhas, em Betanzos, A Coruña. Agradecemos ao seu Director, Dr. Alfredo Erias, nosso caro amigo, a informação sobre a localização da peça original.

Fernando Coimbra
in:academia.edu

Sem comentários:

Enviar um comentário