Opinião |
Nuno Pires |
Aliás, parece não haver, no nosso país, órgão de informação que se “preze”, que não se mobilize, de forma sensacional, para dar cobertura mediática a um incêndio. E as perguntas, bem como as respostas dos entrevistados, muitos deles, altas figuras institucionais, que se colocam a jeito para a entrevista da “praxe”, são quase sempre as mesmas. E raramente falta a expressão “no teatro da operações”, como se um incêndio fosse um teatro. E, na verdade, não é. Antes um grande drama, sobretudo para aqueles que dele sofrem as consequências, o combatem voluntariamente, e para os contribuintes. Quanto ao teatro e às operações, muitas delas aritméticas, tudo isso, acontecerá, também, noutros contextos, onde o fumo é invisível, usando outras estratégias e beneficiando de outros recursos. Bom, mas isso…
Claro que a comunicação social, porque dá mais trabalho e acarretará outros riscos e outras formas de estar no jornalismo, nomeadamente de investigação, dá, esses meandros nublados, pouca atenção. O que é uma pena!... Talvez, também essa postura de relaxamento informativo, contribua para o elevado número de incêndios, sem consequências práticas.
Naturalmente que qualquer cidadão consciente e responsável, se insurge contra os incêndios e, muito mais, com a forma como, muitos deles surgem. E os protestos da sociedade, são muitos e, inúmeras vezes, de forma objetiva e sustentada.
É que não se percebe, muito bem, e, raramente, se chega a perceber, como muitos dos incêndios acontecem. Não obstante todos os investimentos aplicados, o “Zé-povinho” fica sempre a saber o mesmo, ou seja, NADA!...
E, neste contexto, há muitas coisas que me intrigam. Entre outras, porque é que, a maior parte da vezes, só se fala na prevenção, quando estamos em plena época de verão?!...
Porque é que os trabalhos, que vemos na televisão serem levados a cabo, em pelo decorrer do combate a um incêndio, como por exemplo, a abertura de corta-fogos, caminhos para permitirem a passagem de viaturas dos bombeiros, etc., não são realizados, preventivamente, no período de inverno?!...
Mas este é um dos muitos exemplos de inoperância, falta de programação, de estratégia, ou, diria mesmo, de interesse no que toca à atuação institucional, no âmbito da prevenção.
Por vezes ouvem-se comentários, se calhar com alguma sustentabilidade, que, por traz dos incêndios existem muitos interesses, de variada índole, que trazem a “reboque” muita gente e muitos “grandes” que gravitam à volta do poder, seja ele qual for.
É certo que pode haver dúvidas formais, mas que os indícios surgem, nalguns casos, com pouca discrição, lá isso é verdade. Começando logo pela forma como são estabelecidas certas regras/leis, e como são nomeados e colocados alguns responsáveis.
Depois, por exemplo, se temos umas Forças Armadas com meios que permitem, no mínimo, ajudar no combate aos incêndios, como o setor de Engenharia e Força Aérea, porque não se aproveitam esses recursos em vez de serem gastos milhões de euros do estado/povo em adjudicações de bens e serviços de empresas privadas?!...
E, depois, se há viaturas pagas pelo erário público, que evidenciam qualidade acima da média e se “passeiam, ou pavoneiam”, provavelmente, sem grande controlo, quer nos consumos (elevados), quer nos destinos, serão aquelas que estão destinados a alguns dirigentes e comandos. Não será, digo eu, certamente, por falta de qualidade e potência desse tipo de viaturas, que a eficácia dos serviços de proteção e ação será posta em causa. Longe disso!... Qualquer cidadão menos esclarecido, ou atento, constatará isso mesmo.
Será, pois, importante, nesta época de crise, que se implementem as boas práticas, moral, ética e materialmente eficazes, e que as negligências, sobretudo conscientes, tenham consequências, a todos os níveis, sobretudo no sentido de não corrermos o risco de viver num país “queimado”!...
A missão formal, tantas vezes aparentemente sustentada na moral, deve dar lugar à ação com clarividência e eficaz intervenção, principalmente no capítulo da prevenção!...
in:mdb.pt
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