SÍMBOLO DE PAZ, FECUNDIDADE, FORÇA E PURIFICAÇÃO
No tempo em que os vegetais falavam, as árvores reuniram-se em assembleia para eleger a sua rainha. Após longa discussão, todos concordaram em escolher a oliveira. Todavia, esta recusou o honroso cargo, argumentando que a sua nobre missão em prol do bem da humanidade era por demais importante, não podendo desperdiçar o seu tempo em ocupações de governo.
Segundo a mitologia grega, Atenas, a deusa da sabedoria e da paz e Poseidon, o deus dos mares, discutiram sobre quem daria o seu nome à nova cidade da região de Ática. Zeus, o rei dos deuses, decidiu que ganharia quem apresentasse a melhor oferta. Então, Poseidon espetou o seu tridente num rochedo e logo fez brotar uma fonte de água cristalina. Atenas, por sua vez, brandiu a sua lança no solo e imediatamente surgiu uma oliveira. Esta foi considerada a oferta mais valiosa, pois proporcionava iluminação, aquecimento, alimentação, medicamentos, cosméticos, etc. Assim, de acordo com a lenda, nasceu a cidade de Atenas que, ainda hoje, possui a oliveira como seu símbolo hierárquico.
Os cientistas, com base nos estudos efectuados sobre folhas petrificadas, concluíram que a oliveira possui uma história de 60 mil anos, em que a realidade se confunde com a lenda. Conhecida dos assírios e babilónios, teria sido apresentada no Egipto pela deusa Isis e na Grécia por Minerva. Os hebreus já a conheceriam desde o tempo de Adão. Mas, fosse qual fosse a sua origem, sempre foi um símbolo de paz, fecundidade, força e purificação.
A Olea europaea L., ou a sua variedade selvagem “sylvestris” (zambujeiro), é claramente oriunda da bacia mediterrânica, dando-se em solos alcalinos e soalheiros com clima idêntico ao da citada região. Abro um parêntesis para recordar que, na última viagem à Madeira, fui encontrar em Câmara de Lobos, várias oliveiras muito viçosas. Logo indaguei se davam azeitonas. Responderam-me que serviam apenas como espécie ornamental, pois jamais frutificavam.
Creio que não vale a pena descrever, em pormenor, as características botânicas desta árvore milenária, pois toda a gente a conhece com o seu tronco acinzentado e as suas folhas coriáceas, lanceoladas e verde-claras. Também todos conhecem as azeitonas que começam por ser verdes e gradualmente vão escurecendo. E até “vão à mesa do rei”!
Pondo de parte os aspetos culturais, sociais, etnográficos, mitológicos, religiosos, históricos e económicos da oliveira que, só por si, dariam para elaborar volumosos tratados, iremos deter-nos, apenas e resumidamente, nos atributos da área da saúde, já que se trata de uma planta medicinal das mais preciosas, embora, por vezes, seja injustamente subavaliada.
Comecemos pela casca que é adstringente e febrífuga. Usa-se o seu cozimento na proporção de 50g para um litro de água.
As folhas são vasodilatadoras e diuréticas, sendo adequadas para o reumatismo, a gota, a arteriosclerose, a diabetes e sobretudo, a hipertensão arterial. Fervem-se lentamente 200g de folhas num litro de água, até reduzir o líquido para metade do seu volume inicial.
O azeite deve ser tomado em jejum (duas colheres de sopa) como laxativo, ou usado em clisteres evacuadores (50cl para um litro de água, adicionado duma substância emulsionante). Para queimaduras, é eficaz a aplicação de uma mistura de duas colheres de azeite com uma clara de ovo bem batida.
Da dieta mediterrânica em que o azeite é ingrediente central, também não iremos falar, dada, felizmente, a sua atual divulgação, mas valerá a pena referir os benefícios deste salutar óleo vegetal para atenuar conhecidas enfermidades.
Problemas cardíacos – Está comprovado que o azeite reduz o nível das gorduras de baixa densidade, ou seja o “mau colesterol”, aumentando o teor das gorduras proteicas de alta densidade – o “colesterol bom”. Desta maneira, evita a formação de gordura nas artérias e reduz os riscos de enfartes de miocárdio.
Úlceras – O azeite não irrita o estômago, reduz os líquidos gástricos e ajuda na cura das úlceras.
Pele – O azeite contém vitaminas B e E e provitamina A, protegendo a pele das radiações solares nocivas e das queimaduras.
Sistema nervoso – A clorofila existente no azeite contribui para o aumento das células e reforça o metabolismo e o dinamismo do sangue.
Cancro – O consumo regular de azeite reduz até 25% as probabilidades de cancro na mama, segundo estudos da conceituada universidade americana de Harvard.
Velhice – As substâncias antioxidantes contidas no azeite protegem as células do cérebro e ajudam a envelhecer bem.
Bílis – O azeite contribui para o bom funcionamento da bílis.
Ossos – O azeite tonifica o esqueleto e o desenvolvimento dos ossos. É particularmente importante para a prevenção da osteoporose e para o fortalecimento da estrutura óssea das crianças.
Pâncreas – O azeite activa o funcionamento do pâncreas, pelo que os diabéticos que o consomem, necessitam de menos insulina.
Finalmente, não devemos menosprezar o uso externo do azeite no fortalecimento das unhas, no alívio de pés cansados, no brilho e saúde capilar, na suavidade das mãos e da pele, nos preparados contra as rugas e em imensos tratamentos cosméticos.
Nos últimos tempos temos menosprezado o cultivo da oliveira, ao contrário do que acontece em Espanha, na Itália, na Grécia e na Turquia. Nestes dois últimos países, como tivemos recentemente ocasião de comprovar, as oliveiras são adoradas e protegidas legalmente, sendo as suas virtudes alimentícias e curativas ensinadas às crianças, desde os jardins-de-infância. No México, país que não tem oliveiras, o azeite é vendido nas farmácias, como valioso medicamento.
Com este modesto escrito, mais não se deseja do que aumentar a sensibilidade dos cidadãos face a um património natural vivo que urge estudar, enaltecer, intensificar a produção e utilizar de forma adequada e criteriosa.
Miguel Boieiro
Nota: Miguel Boieiro nasceu na «Margem Sul do Tejo – Seixal», com Curso de Contabilidade e Administração. Tem um currículo muito rico, de que destaco, ter sido Presidente do Município de Alcochete durante 19 anos, é Presidente da Assembleia Municipal e foi Presidente da Assembleia Municipal do Seixal. É Presidente da Sociedade Portuguesa de Naturologia e especialista em Esperanto. Publica textos em vários jornais e editou o livro «As Plantas, nossas irmãs». Vai apresentar o seu novo livro «Plantas para curar e para comer»: 19OUT2014 na Sociedade Portuguesa de Naturalogia (Lisboa), 07NO2014 na UNICEPE (Porto), 10NOV2014 na Biblioteca Municipal dos Coruchéus (Lisboa) e 15NOV2014 na Biblioteca Municipal de Alcochete. Este texto foi produzido no âmbito da comunicação que fez na Universidade Sénior dos Coruchéus. Pelo que a Oliveira representa para Mirandela e a nossa região dá-se a conhecer aos amigos leitores este texto. Conheci (e sinto-me honrado) o Miguel Boieiro por intermédio de uma amiga comum e investigadora, Teresa Perdigão. (Jorge Lage)
Na foto, de Jorge Lage, a «Oliveira de Tavira» a árvore mais antiga de Portugal com cerca de 2.000 anos. Coeva de Jesus Cristo. Situa-se no aldeamento turístico Pedras d’El Rei, concelho de Tavira.
Miguel Boieiro
in:diario.netbila.net
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(Henrique Martins)
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domingo, 2 de novembro de 2014
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