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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 6 de setembro de 2020

O ANDARILHO

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)


- Um  certo vulto caminhava numa estrada brasuca. O lugar era ermo. Nenhum ser vivente à vista.

O lugar e a época, não se sabe ao certo.
A presença de um OVNI ziguezagueando acima da cabeça, parecia ser o único sinal de movimento, além daquele andarilho. De quando em quando, o foco de luz de um ou outro relâmpago, iluminava seu semblante medonho. Sua face era coberta por escamas: algumas negras, outras brancas. Aqui e acolá, algumas raras escamas azuis e rosadas. Coma luz emitida pelo foco, podia ver-se que as escamas pareciam húmidas: olhando-as mais de perto, constatava-se que eram cobertas por uma espécie de geleia. E era uma gosma malcheirosa, recendendo a enxofre. Os olhos daquele andarilho eram enormes, e não eram dotadas de pálpebras. A testa era toda franzida e, no alto da cabeça, ao invés de cabelos ou algo parecido, apenas uma nervura rugosa, no formato de uma crista, de cor avermelhada. À guisa de roupa, vestia uma capa plástica vermelha sobre o corpo nu. As mãos estavam vestidas com negras luvas de uma espécie de borracha, enquanto os pés eram protegidos por altas e negras botas plásticas que se estendiam capa adentro.
Chovia. Uma fina e fria chuva caía naqueles rincões. De repente, o OVNI, numa manobra espetacular, corta os céus, desaparecendo entre luzes verdes, azuis e prateadas. A estrada tornou-se ainda mais escura. Ao longe, ouvia-se o coaxar de um sapo-boi; por certo chamando a fêmea, enquanto que um curiango passou pelo andarilho, emitindo seu pregão aterrador. A estrada agora chega ao topo de uma montanha. O andarilho, do alto, contempla os raios, trovões e relâmpagos, que ribombam num trecho do vale entre duas montanhas. Sob a luz dos relâmpagos, o andarilho avista uma solitária casa de fazenda, cuja chaminé fumegava. Nesse instante, o andarilho certificou-se: aquela casa era a razão de suamissão; e para ela encaminhou-se. O andarilho avizinhou-se da janela. Pelo vidro, apesar da pouca luz no interior da casa, viu uma mulher cozinhando algo num pequeno caldeirão. Olhando por outro ângulo, viu a quem supôs ser o chefe da família: um homem esquálido (e ao que parecia doente), sentado à cabeceira da mesa, sendo esta rodeada por mais cinco cadeiras, quatro crianças: dois meninos e duas meninas. Sobre a mesa, umas poucas frutas e um pão descansavam sobre uma grande bandeja. Do outro lado da bandeja, uma moringa com água. Os seis lugares da mesa eram guarnecidos com pratos, talheres e copos. A mesa era forrada por uma grande e branca toalha de rendas. O andarilho ficou ali, apreciando a cena. De súbito, a mulher que cozinhava ao fogão, levou o fumegante caldeirão para a mesa. Depositou em cada prato uma batata e parte de uma cebola. A mulher serviu primeiro as crianças. No final, ela e o marido entreolharam-se. O andarilho notou que havia restado somente uma batata no caldeirão. Delicadamente, os pais daquelas crianças a dividiram. O andarilho notou que, antes de comer, o homem esquálido pediu que todos ficassem de pé, e começou uma oração, agradecendo pela comida à mesa, e desejando que aquele Natal trouxesse algo de bom para a família. Ordenou que as crianças comessem e fossem dormir, e que rezassem: pois quem sabe não aconteceria um milagre, e o Papai Noel traria presentes para todos?
Ouvindo isso, o andarilho tirou um pequeno aparelho de um bolso da capa. Ligou o aparelho e falou numa língua estranha. Em seguida voltou ao seu posto de observação. Mal terminaram a ceia, aquela família viu um clarão no quintal da casa. Três OVNI ali pousaram, ao mesmo tempo. As pessoas saíram da casa para inteirar-se do que estava ocorrendo, e viram entre incrédulos e amedrontados, que seres muito feios e fedorentos, ofertavam-lhe caixas e mais caixas de comidas e presentes. A despensa ficou abarrotada, com comida para todo um ano; e as crianças tiveram seus quartos cheios de brinquedos e roupas. Ganharam ainda sementes, e implementos agrícolas, telhas, tijolos, madeiras e outros materiais de construção. O andarilho abriu uma caixa, colocou uma barba postiça e um gorro vermelho. E falou em bom português:
-Feliz Natal!
Tão logo descarregaram as oferendas, aqueles seres horrorosos entraram em suas naves e partiram; exceto o andarilho, que agitando os braços, qual asas, alçou voo atrás dos OVNI, subindo até sumir entre as estrelas. Durante o resto da noite e madrugada que se seguiu, aquela família ainda ouvia, vindo lá do meio das estrelas, uma voz grave e sorridente, que dizia:
- Hô, Hô,Hô: Feliz Natal!

Referência:
1)    Esse texto faz parte do meu livro ”Fragmentos”, publicado pela Editora Nativa, São Paulo, Brasil, em 2004 (à página 19).
2)    O título original no livro Fragmentos é “Uma Visita Inesperada”.
3)    Papai Noel, é como os brasileiros chamam ao Pai Natal.

Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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