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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Dauro da Eternit

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

Ilustração que homenageia o jogador brasileiro
 de futebol Leônidas, “criador da bicicleta” (*)
Domingo de sol forte, céu azul. O local era um bairro da cidade de Osasco, SP - Brasil. A época; final dos anos sessenta. O campo da Eternit estava apinhado de gente, para ver o time da empresa enfrentando o Corintinha da Vila Yara, com seus jogadores profissionais, tais como o Bebeto, o Marreco, o Via, o Niqueta e outros boleiros da Vila Yara. Já o time da Eternit dependia de dois jogadores: o Jorge Ceboff no gol e no Dauro no ataque. Nove horas da manhã: o segundo quadro começava o segundo tempo do jogo preliminar, a Eternit perdendo de 4 a 0.  Jorge Ceboff olhava os colegas do time, pensativo. 
- Onde andará o Dauro, que ainda não chegou?
Lá no Jardim D´Abril, periferia de Osasco, o Dauro preocupado com o jogo e com a feijoada que comeu no sábado no Bar do Agenor, no Jardim Oriental. Passou mal a noite inteira: diarreia braba! Nove e meia, na base do chá de erva-doce e camomila, o Dauro resolve ir jogar assim mesmo: - ele se sentia melhor!
Mesmo contra a vontade da mulher e da filha pequena, o Dauro saiu de casa um tanto atrasado dirigindo seu caminhão. Chegou só a tempo de vestir a número nove e entrar em campo. O Dauro sentia uma bambeza nas pernas. Certo momento achou que tinha um pouco de febre, mas tudo acabou no momento em que batia bola com o goleirão Ceboff, chutando faltas da risca das dezoito jardas para esquentar o Jorjão. Quando o juiz chamou os capitães para decidir quem começava a partida e o lado, o Dauro sentiu um ronco na barriga. 
-Não deve ser nada, pensou!
O juiz deu a partida e começou o  “pega”! Já aos cinco minutos o Corintinha marcou uma a zero, com o Marreco. O Jorge Ceboff chamou o Dauro e disse:
-Vê se toma uma atitude lá na frente, que essa defesa não vai aguentar esses caras!
- Pode deixar, disse o Dauro!
E o Dauro começou a dividir cada jogada como se fosse dividir um prato de comida. Ele era um jogador de classe apenas razoável, mas que compensava tudo com um grande entusiasmo e disposição física para jogar. 
Era tipo rompedor, e não dava sossego para a defesa do Corintinha, na trombada, na botinada na cabeça e nas divididas. Deu uns cinco chutes de fora da área que saíram fracos; passou para um meia direita fajuto que tropeçou na bola; o quê deixou o Dauro ainda mais furioso. 
Os boleiros do Corintinha faziam o que queriam no campo; um a zero era pouco.
 Eis que o Dauro sentiu um ronco enorme na barriga, que veio vindo, veio vindo, veio vindo... .
Bem nessa hora o Nelsão cruzou uma bola na área do Corintinha, que o Jairzão rebateu de cabeça, o Dauro chegou à bola antes que o beque pegasse o rebote; tomou a frente dele, na base da disposição física. Quis preparar de joelho; a bola subiu! Então ele, de costas para o gol, não teve dúvidas: saltou alto, levando primeiro a perna direita, depois, numa ação coordenada de beleza plástica magistral de vai-e-vem, meteu o pé esquerdo na bola; numa linda bicicleta! => gol da Eternit!
O Dauro empatou o jogo; agora Eternit um, Corintinha um!
Enquanto todos os jogadores da Eternit se cumprimentavam e a torcida postada na carroçaria dos caminhões de do Zé Sasso e do Sardinha faziam algazarra. 
E o Dauro ficou lá, no chão; quieto, inerte, olhos fechados, sem se mexer. Quando o Ceboff aproximou-se para ajuda-lo a erguer-se e dar-lhe um abraço pelo belo gol, ele lhe sussurrou no ouvido:
-Me caguei todo!
Obviamente, providenciaram uma contusão para o Dauro que saiu arrastado na maca e não mais voltou ao campo de jogo em que a Eternit perdeu de cinco a um.
Mas, ficou a lembrança do belo gol do Dauro, que mesmo cagado fez bonito enquanto esteve em campo.

Referência
- Texto criado em janeiro de 2001.
- (*) Leônidas da Silva jogou pelo Flamengo e pelo São Paulo Futebol Clube. Tinha o epíteto de “Diamante Negro” e foi o artilheiro da Copa do Mundo de Futebol em 1938.

Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.

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