Flores humildes, desprovidas de fragrâncias capazes de inebriarem a lendária Coco Chanel, na sua singeleza alegravam as estradas e caminhos das redondezas de Bragança muitas vezes na companhia das trémulas violetas ao tempo responsáveis pelo derramamento de baldes de lágrimas escorridas dos rostos (primacialmente femininos) de quem viu o filme Violetas Imperiais, onde Sara Montiel e o tenor Luís Mariano arrebatavam as plateias.
Vi a fita, muitos mais tarde em Salamanca, a cigana Violetera estava esplendorosa e não podemos, em plena época do esbatimento de diferenças de género, quão foi o seu impacto na sociedade espanhola franquista, reaccionária e, profundamente inquisitorial no tocante a costumes, noção de pecado numa época impregnada de machismo, a actriz italiana Lúcia Bosé casada com o célebre toureiro Dominguim é saliente exemplo do acima referido.
Ao trazer à tona as florinhas pascais, procuro carrear lembranças de elementos cintilantes (alacridades na real/realidade longe do pobrete mas alegrete), sim de o Mundo não é exclusivo dos petulantes amores-perfeitos, a estimularem desejos nos canteiros do Jardim António José de Almeida e Avenida João da Cruz, levando os estudantes mais atrevidos a pisarem a relva e a cortarem os indicados pelas namoradas, estas ficavam vaidosas, se tivessem e estivessem à vontade, recebia na face casto e breve ósculo, deixando o apaixonado convicto que a partir daí iniciaria jornada até à concessão de beijos húmidos ao estilo dos galãs de capa e espada visionados no Cine-Teatro Camões.
Os amores-perfeitos após secarem entravam espalmados nos livros de estudo, muito grafados com o nome do ofertante, a descambarem em perguntas inoportunas após um cabaz de anos, porque os livros foram mudados de lugar, de casa, de localidade.
A rememoração podia continuar, no entanto, seria estultícia fazê-lo, saudades só para Dona Genciana, sulfurosa personagem criada pelo notável prosador José Rodrigues Miguéis, olvidado nos batocos do obscurantismo porque ler dá imenso trabalho, além de que nos telemóveis grudam maldades a leste dos estilos literários, desdentadas de subtileza e ironia. As flores faziam parte (fazem?) integrante da festa pascal, o folar recheado de interditos (mas saborosos) também, as figurações florais de plástico retiram verdade às representações, o folar longe do quilate dos elaborados com o beijinho da farinha demonstram a desqualificação de serem artesanais mecânicos, o progresso técnico, bem como as exigências da mobilidade, são a prova provada do mundo que nós perdemos, restando as pascoelas, as violetas, pouco mais.
Nos meus escritos a propósito de tudo e de nada, a todo transe cito livros, não tenho ilusões: passo por pedante. Repito: ler dá imenso trabalho, por isso recomendo a leitura de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Boa Pascoela.
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